O uso da tecnologia na transformação dos negócios, a ainda chamada transformação digital, envolve alguns objetivos importantes que vão desde a otimização das operações internas, a melhoria no engajamento com os clientes com a ampliação dos canais de contato para as plataformas digitais até a transformação do ambiente de trabalho e o foco nas pessoas, representado pelo popular metaverso. Esse movimento também é fortemente relacionado com as novas formas de pensar os negócios.
Longe de ser algo tão novo assim, os hoje chamados negócios digitais são a bola da vez no quesito "must have", na cartilha dos principais influenciadores digitais corporativos. São empreendimentos que acontecem nos canais ou plataformas digitais, cujos produtos ou serviços são disponibilizados na internet através de apps em smartphones ou computadores. Hoje, não há sobrevida para nenhuma empresa que não tenha iniciativas nesse sentido. E isso é fato. Não há mesmo.
O que parece ser uma inferência equivocada é considerar que a inovação potencial trazida pelos negócios digitais é coisa de startup. Esse comportamento é reforçado pelo movimento de empresas médias e grandes ao desenvolverem programas para incubação ou até aquisição de startups para acelerar as plataformas ou canais digitais em seus negócios.
A questão a ser levada em conta aqui não é essa. A startup tem, sim, a vantagem de não precisar se preocupar com uma infraestrutura legada, normalmente construída sobre uma fundação tecnológica heterogênea e com desafios de integração. Já nasce integrada. Contudo, as organizações tradicionais e nascidas muitas vezes no meio analógico, precisarão integrar os negócios digitais a sua operação do dia a dia. Mesmo aquelas que criaram seus programas de inovação com a aquisição de startups. Um banco tradicional, por exemplo, mesmo que altamente inovador, teve um dia que integrar sua plataforma de internet banking do smartphone ou tablet ao seu velho e legado sistema de conta corrente ou de aplicações financeiras. E precisa manter isso funcionando. Aí que o desafio está para a maior parte das organizações.
Praticamente todos os projetos digitais demandam, primeiramente, o mapeamento e entendimento da infraestrutura tecnológica legada, para que se possa determinar como e quais soluções serão integradas, e o que é necessário para dar o próximo passo rumo ao futuro digital. Poucos realmente levam isso a sério. Por essa razão, a gente vê por aí um monte de problemas onde existe uma falta de sincronismo entre o aplicativo usado pelo cliente e o que acontece na retaguarda operacional. O digital e o legado precisam se falar. E isso só é possível com projetos que construam essa consistência.
Essa jornada não é simples. Legado não é necessariamente algo velho que precise ser substituído. É uma parte natural de toda organização, é como ela existe e funciona. Faz parte do legado soluções muitas vezes fantásticas e essenciais ao negócio – que precisam ser preservadas e integradas aos negócios digitais – que convivem com sistemas e hardwares já ultrapassados, e que precisam ser avaliados e talvez substituídos ou eliminados.
É importante para o processo de transformação das empresas entender a infraestrutura legada, pois ela reflete o seu momento. Só assim o futuro poderá ser planejado em termos da integração desta com as novas iniciativas. A palavra-chave aqui também é o híbrido, já que do ponto de vista financeiro é impossível uma atualização tecnológica completa. Olhar as capacidades de negócio atuais e futuras, como elas podem ser executadas sob o ponto de vista das tecnologias existentes integradas às plataformas digitais e garantir que elas se comunicarão para a melhor experiência do cliente é o real desafio da transformação digital.
O caminho para viabilizar projetos desta natureza devem considerar a aplicação da Arquitetura Empresarial (Enterprise Architecture), definida como uma prática de otimização de negócio relacionando o negócio, performance da gestão e arquitetura de processos e tecnologia da informação. Está na hora de estudar esse assunto. O que você está esperando?
Enio Klein, influenciador e especialista em vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos com foco na melhoria do desempenho das empresas a partir do trabalho em equipe e colaboração. CEo da Doxa Advisers e professor de Pós-Graduação.