Na era da revolução digital, a chegada de moedas digitais e outras inovações financeiras despertam questionamentos sobre o futuro das transações e o papel do dinheiro em espécie na nossa sociedade. É inegável que essas transformações representam avanços significativos na forma como lidamos com moedas em espécie, contudo, é fundamental reconhecer que elas continuarão desempenhando um papel crucial na vida financeira dos brasileiros por um tempo substancial. A coexistência dessas duas formas de pagamento é a chave para atender às diversas necessidades e preferências da sociedade.
O Banco Central do Brasil (BC) está desenvolvendo o Real Digital, agora chamado de Drex, voltado exclusivamente para plataformas digitais. O BC já analisou casos de uso e lançou o Piloto Drex em março de 2023, com operação prevista até o fim de 2024. Grupos financeiros começaram testes em julho com a Plataforma Drex buscando eficiência e inclusão financeira, permitindo que intermediários regulados convertam depósitos em Drex para oferecer serviços financeiros inteligentes. Isso democratiza o acesso a transações seguras com ativos digitais, reduzindo custos e promovendo a inclusão monetária.
O Brasil, sem dúvida, reconhece e valoriza a importância da inovação e é uma referência mundial na área financeira. No entanto, é crucial reconhecer que a transição de uma sociedade que depende amplamente do dinheiro em espécie (cash society) para uma economia mais digital e sem dinheiro físico (cashless society) é um processo complexo que demanda tempo e preparação.
O governo, empresas e instituições financeiras precisam trabalhar juntos para criar um ambiente inclusivo e favorável à digitalização, ao mesmo tempo em que garantem aos cidadãos opções e recursos necessários para terem acesso a novas formas de pagamento, de maneira simples, segura e eficiente. Isso provavelmente vai contemplar investimentos em infraestrutura tecnológica, programas de educação financeira e regulamentações que protejam os interesses de todos os envolvidos.
O dinheiro em espécie permite a inclusão financeira, independentemente da condição de cada pessoa. Embora as tecnologias digitais tenham conquistado um espaço considerável em nosso cotidiano, é importante lembrar que nem todas as pessoas têm acesso a dispositivos eletrônicos ou à Internet. Muitos brasileiros ainda vivem em áreas remotas ou têm recursos limitados para adentrar no mundo digital. Além disso, o hábito de usar dinheiro em espécie está presente em uma fatia significativa da nossa população.
Em outras culturas e países como os da Europa, o dinheiro também possui um significado histórico profundo. O ato de lidar com dinheiro é muitas vezes associado a tradições e costumes arraigados, tornando-o uma parte intrínseca do tecido social. A presença de notas e moedas físicas ainda ressoa com um senso de valor tangível, algo que a digitalização não consegue substituir facilmente. Isso também ocorre no Brasil.
Muitas pessoas ainda são céticas e têm receio de usar a tecnologia ou de estar suscetível a sistemas digitais inoperantes. Nesses momentos, o dinheiro em espécie oferece uma alternativa confiável para realizar transações. Além disso, em muitas comunidades locais e setores da economia brasileira, as transações em dinheiro ainda são predominantes.
Sabemos que o dinheiro oferece uma liquidez imediata que torna mais difícil a substituição por sistemas digitais. Para muitos, a possibilidade de pagamento instantâneo e sem atrasos é crucial em várias situações. Mesmo diante de possíveis problemas, o dinheiro físico continua a ser uma opção que não deixa os consumidores na mão.
Em paralelo, não há dúvidas de que o Brasil é um país que acolhe a inovação financeira, reconhecendo suas vantagens e potenciais. Entretanto, a realidade da sociedade brasileira ainda exige uma abordagem equilibrada. A população não é homogênea em termos de acesso à tecnologia e preferências de pagamento. Uma grande parte da população ainda não é bancarizada e recebe seus salários em dinheiro.
Nesse cenário de transformação financeira, o Brasil adota uma abordagem sensata que reconhece a importância da coexistência harmoniosa entre moedas digitais e o dinheiro físico. A introdução do Drex como moeda virtual representa um passo inovador na busca pela inclusão financeira, enquanto também mantém um compromisso sólido com a acessibilidade para todos os cidadãos, incluindo aqueles que ainda dependem do pagamento em espécie.
Em muitos casos, a coexistência de moedas digitais e dinheiro físico reflete a maturidade financeira dos países, permitindo que cada cidadão escolha a forma de pagamento que melhor se encaixa às suas necessidades e preferências individuais. Ao preservar o valor do dinheiro em espécie e ao mesmo tempo promover o uso de ativos digitais, o Brasil garante que a democratização financeira seja alcançada sem deixar ninguém para trás. Essa abordagem não apenas respeita a história e a cultura do país, mas também consolida uma base sólida para um sistema financeiro inclusivo e com equidade, como é do desejo de todos.
Elias Rogério da Silva, Presidente da Diebold Nixdorf no Brasil.