A rota do crédito: Como o Open Finance mapeia novos caminhos

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O Open Finance – que se baseia no compartilhamento de dados financeiros entre instituições autorizadas pelo Banco Central – está promovendo uma verdadeira revolução no mercado de crédito brasileiro, proporcionando um mapeamento mais preciso dos perfis de risco e, consequentemente, permitindo uma oferta mais personalizada e inclusiva. Esse sistema tem o potencial de transformar a forma como o crédito é concedido, ampliando oportunidades tanto para instituições quanto para consumidores.

Uma das principais vantagens do Open Finance é a possibilidade de acessar dados financeiros diretamente das instituições com as quais os clientes possuem relacionamento, oferecendo uma visão detalhada de seu comportamento financeiro. Isso permite que as instituições construam motores de crédito mais robustos, analisando, por exemplo, o histórico de pagamentos de contas em tempo real, além de empréstimos quitados e contratados. Com esses dados em mãos, as empresas podem oferecer condições de crédito mais adequadas às necessidades e capacidades de cada consumidor, bem como diminuir seu risco de inadimplência. 

A análise mais precisa dos perfis de crédito, proporcionada pelo compartilhamento de dados, deve permitir uma oferta de crédito mais consciente, o que, por sua vez, pode reduzir significativamente os índices de inadimplência. Segundo o estudo da PwC, uma redução de 1% na inadimplência bancária pode gerar uma economia de R$56 bilhões para as instituições financeiras. 

Para além da concessão, os dados obtidos pelo Open Finance têm papel essencial nos processos de Conheça seu Cliente (KYC). O compartilhamento de informações pessoais, como nome, endereço e números de identificação, automatiza a coleta de dados e elimina a necessidade de preenchimento manual e envio de documentos, reduzindo o atrito no início da jornada do usuário. Isso é transformador para experiência com a plataforma, dado que estudos recentes indicam que a fricção nesse processo pode levar à desistência de um produto. Segundo a pesquisa Fintech Effect, 73% dos americanos afirmam que a facilidade de inscrição influencia diretamente a decisão de usar ou não um aplicativo. 

Para a parcela da população que encontra dificuldades em acessar crédito, o Open Finance representa uma nova oportunidade. Ao disponibilizar informações financeiras que vão além dos tradicionais scores de crédito, o sistema permite que clientes sejam avaliados de maneira mais justa, mesmo que não tenham um histórico financeiro robusto. Essa abordagem democratiza o acesso ao crédito e beneficia principalmente os consumidores com menor bancarização e que se encontram em modalidades informais de emprego.

Há inúmeros pontos positivos também para o mercado. Além de fomentar a inclusão financeira, o Open Finance estimula a concorrência entre as empresas. Aqueles que melhor utilizarem os dados disponíveis conseguirão oferecer produtos financeiros mais atrativos. Ainda segundo o estudo da PwC, o Open Finance pode gerar até R$42 bilhões em novas receitas de crédito até 2026, principalmente nos segmentos de crédito pessoal, consignado e imobiliário.

A portabilidade de crédito é um exemplo de como a competitividade incentivada pelo ecossistema de dados aberto pode trazer benefícios a empresas e usuários. Atualmente, esse processo é extremamente burocrático, pois requer do usuário o preenchimento de formulários, contatos  diretos com seu gerente e muitas documentações. Mas a expectativa é que ele se torne mais simples e eficiente por meio do Open Finance. Isso porque, após o compartilhamento de dados, é possível construir motores que facilmente comparem as condições do empréstimo entre o banco de origem e o novo, incluindo a economia mensal que o cliente obterá ao optar pela mudança. Para empresas, essa é uma oportunidade valiosa para analisar dados compartilhados, identificar estratégias de ataque e defesa, além de visualizar em detalhes os produtos que seus clientes possuem com concorrentes, permitindo monitorar o mercado de forma mais eficaz.

O futuro do Open Finance parece promissor, especialmente com a chegada de funcionalidades como o Pix Automático – previsto para ser lançado em junho de 2025 – e as transferências inteligentes, que devem ampliar ainda mais o uso da tecnologia. Segundo a Accenture, até US$ 416 bilhões em receita global estarão em jogo com a adoção de dados abertos, e as empresas que se adaptarem mais rapidamente a esse novo cenário serão as grandes beneficiadas.

O Open Finance não apenas transforma o mercado de crédito, mas também redefine profundamente a relação dos brasileiros com o sistema financeiro. Ao democratizar o acesso a crédito, promover inclusão e incentivar a competição, essa inovação promete moldar o futuro financeiro do país de maneira mais justa e dinâmica.

Danilo Porto, sócio da QI Tech.

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