O sucesso das organizações está diretamente ligado à liderança ética, especialmente no setor de tecnologia, cujo impacto das decisões vai muito além das fronteiras corporativas, influenciando a sociedade e o bem-estar coletivo. Em meu artigo anterior para a TI Inside, falei sobre a importância da escuta ativa na liderança, que nos permite explorar uma questão ainda mais ampla e essencial: à liderança ética. Se a escuta ativa promove a comunicação eficaz e o fortalecimento das relações internas, a ética dá à liderança o norte moral necessário para guiar decisões que afetem positivamente não apenas os colaboradores, mas também os clientes, a comunidade e o mercado como um todo.
No setor de tecnologia, onde os avanços ocorrem em ritmo acelerado e as decisões têm consequências de grande alcance, a necessidade de liderança ética é amplificada. Isso porque as empresas de tecnologia não apenas criam ferramentas que mudam a vida das pessoas, mas também lidam com questões sensíveis, como privacidade, dados pessoais e inclusão digital. Nesse contexto, líderes éticos tornam-se guias de suas equipes, não apenas com visão estratégica, mas também no tocante ao senso de responsabilidade social.
Enquanto a escuta ativa se revela uma boa ferramenta para o líder que deseja entender as necessidades e preocupações de sua equipe, a liderança ética vai além, fazendo com que ele se certifique de que essas interações resultem em decisões justas, que promovam o bem-estar coletivo. No ambiente tecnológico, onde as pressões de mercado podem encorajar o lucro acima de tudo, a ética serve como um balizador, lembrando que as escolhas devem ser ponderadas sob a ótica do impacto social e ambiental, não apenas da eficiência ou inovação.
Um exemplo claro da importância da liderança ética no setor tecnológico é o uso da inteligência artificial (IA). As tecnologias de IA têm um enorme potencial para transformar indústrias e melhorar a eficiência, mas também levantam preocupações sobre o viés algorítmico, discriminação e vigilância em massa. Líderes éticos precisam equilibrar os benefícios da inovação com os possíveis danos que essas ferramentas podem causar, assegurando que os produtos sejam desenvolvidos e aplicados de forma justa e responsável. Empresas que lideram com ética, como a Microsoft e o Google, têm investido em comitês de ética e em pesquisas voltadas para a criação de IA transparente e equitativa, mostrando o papel vital da liderança responsável nesse cenário.
Outro ponto de destaque para líderes éticos é a transparência. No mundo tecnológico, onde questões como o uso de dados pessoais podem criar desconfiança, a transparência na coleta, uso e proteção dessas informações torna-se essencial para manter a confiança do consumidor. A liderança ética, nesse sentido, não se limita à conformidade com legislações de proteção de dados, como o GDPR na Europa ou a LGPD no Brasil; ela vai além, comprometendo-se com uma cultura de respeito aos direitos dos indivíduos. Empresas como a Apple, por exemplo, têm sido líderes na defesa da privacidade do usuário, adotando posturas claras e diretas sobre como tratam os dados pessoais.
Além do impacto externo, a liderança ética também transforma a cultura interna das organizações. Assim como a escuta ativa fortalece a comunicação entre líderes e colaboradores, o comportamento ético inspira confiança e cria um ambiente de trabalho onde os valores morais são levados a sério. Colaboradores que trabalham sob uma liderança ética se sentem mais seguros e motivados, não apenas porque suas vozes são ouvidas, mas porque sabem que estão contribuindo para uma empresa que se preocupa com o bem-estar de todos. A integridade do líder reflete-se na integridade da equipe, promovendo um ambiente que valoriza a justiça, a colaboração e a inovação responsável.
Empresas de tecnologia que adotam uma postura ética na liderança também se destacam em sua capacidade de atrair e reter talentos. O mercado de trabalho em tecnologia é altamente competitivo, e cada vez mais profissionais buscam trabalhar para empresas que se alinhem com seus valores pessoais. Um líder que demonstra compromisso com práticas éticas não só atrai os melhores talentos, mas também contribui para a retenção desses profissionais, criando uma cultura onde o propósito e a ética caminham lado a lado.
Por fim, a liderança ética é essencial para a longevidade e reputação das organizações. Em um ambiente onde escândalos corporativos e violações éticas podem destruir a confiança do público em questão de minutos, a postura ética de um líder pode ser a diferença entre a ascensão ou queda de uma empresa. Casos como o do Facebook, envolvido em controvérsias relacionadas à manipulação de dados e privacidade, destacam como a ausência de uma liderança ética pode comprometer até mesmo os gigantes da tecnologia.
Portanto, a liderança ética no setor de tecnologia é mais do que um requisito desejável; é um imperativo. Quando combinada com habilidades como a escuta ativa, ela permite que as organizações não apenas prosperem em um ambiente competitivo, mas também contribuam para o avanço da sociedade de maneira justa e responsável. Líderes que priorizam a ética estão melhor posicionados para navegar pelos desafios complexos da inovação tecnológica, criando um futuro onde o progresso é sinônimo de bem-estar comum e não de exploração. A era digital exige líderes que pensem além dos resultados financeiros e que coloquem a ética no centro de suas estratégias, moldando um amanhã mais justo e sustentável para todos.
Octávio Fernandes, CEO da ABAI Brasil.