Nunca falamos tanto sobre questões sociais, ambientais e de governança, o que é muito positivo. Porém, é preciso dar atenção ao efeito letal de uma postura que empresas e executivos têm exercitado: falar muito e fazer pouco, resultando no chamado ESG Washing, ou seja, o ESG da "porta para fora".
O recente caso de uma gigante do varejo parece demonstrar que investidores ainda têm um olhar muito pouco preparado para separar narrativas de realidade, distinguindo o que são fatos ou não, quando o tema é governança.
Em uma era em que redes sociais pautam a opinião geral – sociedade, governos e empresas – qual empresa não quer se vender como sustentável, preocupada com o meio ambiente e demonstrar que sua gestão é sólida, evitando o risco de ser cancelada por investidores e clientes?
Assim, vale tudo para convencer o mercado de que suas práticas são as melhores e, com isso, valorizar executivos e ações das organizações. Inclusive, inundar as redes sociais de discursos politicamente corretos, com conceitos e ideais bem-intencionados, mas cuja implementação, de fato, não existe. Um monte de likes que, no final do dia, não são sustentados por ações reais.
Até que um dia a casa cai. Como caiu para essa empresa de varejo.
A construção de um modelo para ESG requer muito mais do que explanações ideológicas. São questões complexas que requerem tempo de estudo significativo para serem compreendidas no contexto de cada organização e sejam construídas dentro de um formato possível, consistente e transparente. Isto é, além da vontade e dos ideais nobres dos acionistas, são essenciais investimentos e trabalho árduo de curto, médio e longo prazos, para que estes objetivos sejam alcançados.
Já passou da hora de nossa sociedade tratar essas narrativas vazias como elas merecem. Não se trata de cancelar quem não tem discurso, mas de repudiar aqueles que nitidamente mentem para não perder credibilidade.
Os riscos do ESG Washing extrapolam uma narrativa ideológica, e os impactos desses riscos para a sociedade são imensos. Quando o castelo de cartas desaba, as consequências se tornam um efeito dominó. Que digam fornecedores, funcionários, clientes e acionistas da gigante de varejo que mencionamos.
Precisamos assumir um papel mais efetivo nesse tema e substituir o aplauso pelos discursos bonitos pela avaliação de quanto eles realmente representam a realidade. Seja como cliente ou fornecedor, podemos ajudar, e muito!
Enio Klein, influenciador e especialista em vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos com foco na melhoria do desempenho das empresas a partir do trabalho em equipe e colaboração. CEo da Doxa Advisers e professor de Pós-Graduação.