Em um mercado cada vez mais competitivo e em constante transformação devido a fatores econômicos, tecnológicos e geopolíticos, demonstrar resiliência, capacidade de adaptação rápida, e apresentar soluções para aproveitar oportunidades ou até mudar o direcionamento dos seus negócios podem ser diferenciais entre companhias consideradas frontrunners ou pioneiras e aquelas que tendem a ficar defasadas.
No setor de Meios de Pagamentos, a tecnologia tem alterado dramaticamente a forma como consumidores e empresas se relacionam, seja no mercado B2C ou no B2B. Novos métodos de pagamento (instantâneos, moeda digital, carteiras digitais, peer to peer e QR codes) estão liderando a preferência junto aos consumidores. Um exemplo disso é o PIX, criado em novembro de 2020, a ferramenta já se tornou o principal instrumento de transferência de valores e de pagamentos usado pelos brasileiros. Só no mês de março deste ano, foram 1,6 bilhão de operações, de acordo com estatísticas do Banco Central, e em junho, foram movimentados mais de R$ 784,6 bilhões.
De acordo com o World Payments Report 2022, estudo desenvolvido pela Capgemini, o volume de transações financeiras instantâneas de pagamentos está em curva ascendente de crescimento e a perspectiva é que permaneça assim pelos próximos anos. Em 2021, o aumento de transações não monetárias no mundo foi de 17% e a expectativa é que até 2026 salte para aproximadamente 24%. Na América Latina, o crescimento esperado para este tipo de negociação até 2026 é de 10%, em especial no Peru, Colômbia e Brasil, que adotaram de forma bem-sucedida um sistema de pagamento instantâneo, como o nosso PIX.
A velocidade dessas transformações promovidas pelo advento das novas tecnologias somadas aos reflexos econômicos deixados pela prolongada crise sanitária causada pelo Covid-19 e a iminente recessão fruto do conflito entre Rússia e Ucrânia estão representando um desafio, em especial, para as Pequenas e Médias Empresas (PMEs), como apontou o mesmo estudo. O segmento das PMEs corresponde hoje a um mercado global de US$ 850 bilhões, de um público que tem enfrentado dificuldades para lidar com fluxo de caixa e liquidez. Essa nova conjuntura demanda por soluções específicas, inovadoras e personalizadas.
O mercado de PMEs é extremamente pulverizado e pede soluções e serviços hiperpersonalizados e ágeis para atender um grande volume de clientes de diferentes conjecturas. As instituições bancárias tradicionais, com seus sistemas tecnológicos legados, estão encontrando desafios para oferecer atenção individual para estes clientes e, por muitas vezes, seu foco está voltado para as grandes contas de varejo.
Segundo o estudo, nas Américas, 63% das PMEs esperam que seus bancos forneçam recursos flexíveis e aprimorados de gerenciamento de capital de giro, 70% querem alavancar serviços financeiros integrados, 60% podem reconsiderar seu relacionamento se os bancos não fornecerem recursos operacionais automatizados de ponta a ponta e em tempo real, 73% estão reconsiderando as ferramentas/serviços de relatórios fornecidos pelos bancos e por fim somente 11% das PMEs estão satisfeitas com os serviços financeiros prestados pelos bancos e empresas atuais.
Este cenário tem apresentado um mar de oportunidades para as Paytechs que estão ganhando mais espaço no mercado, aprofundando relações com os clientes e criando linhas de negócio. Elas por meio de soluções e serviços customizados, apoiados em arquiteturas modernas, escaláveis e sustentados por dados e inteligência artificial, estão ofertando serviços de valor agregado ao cliente que vão além dos tradicionais serviços financeiros, como por exemplo, programas de gestão de fornecedores e folha de pagamento.
E então? O que fazer para conseguir extrair todo o potencial deste mercado tão exigente e promissor e também se defender da concorrência? O estudo aponta um caminho composto por três pilares que resumo a seguir.
Primeiro é necessário avaliar e REALINHAR suas prioridades com a mudança da dinâmica do mercado das PMEs e definir abordagens para criar relevância nos serviços ofertados e com isso aumentar a penetração no mercado. Em seguida, é preciso IMPLEMENTAR uma plataforma de pagamentos moderna, conectada e ??alimentada por dados padronizados para viabilizar a entrega de serviços diferenciados por meio de integrações com o ecosistema de meios de pagamento. E por último, EXPLORAR oportunidades para aumentar as capacidades e conhecimento existentes por meio do uso de tecnologias inovadoras, como por exemplo, Distributed Ledger Technology (Blockchain). Ainda, estar atento as prioridades e tendências de setor abordadas por instituições com FEBRABAN e Banco Central, com isso identificar potenciais nichos a serem atendidos e investir em Provas de Conceito (POC) ou Minimum Viable Products (MVPs) para assim estar a frente dos concorrentes. O futuro (próximo) promete ser muito mais ágil e seguro, e quem estiver preparado para oferecer esses valores ao seu consumidor irá dominar o mercado.
Marcello Limongelli, diretor de contas de Serviços da Indústria Financeira da Capgemini Brasil.