Sejamos francos: nós vivemos na Era da Informação, mas a informação sozinha não paga o café. Dados, no entanto, podem comprá-lo (e muito mais), porque são o "ouro" da economia digital. Mas antes de você sair correndo atrás de "minerar" tudo o que puder, lembre-se de uma verdade fundamental: ética é o valor que sustenta esse jogo.
Imagine que você é um pirata moderno, navegando pelos mares digitais em busca de tesouros. Você encontra um mapa (metáfora para os dados), mas há um detalhe: o mapa pertence a outra pessoa, e ela não concordou que você usasse. Ops! Agora, você é um pirata fora-da-lei, e a LGPD está à espreita como um navio de guerra.
A comparação pode parecer engraçada, mas a moral é séria. Empresas e profissionais que enxergam os dados como meros recursos a serem explorados estão perdendo de vista o que realmente importa: o respeito às pessoas por trás dos dados. Esses números, planilhas e dashboards representam histórias, escolhas e confianças depositadas.
Dados são o combustível que move a inovação: da personalização de serviços até a criação de inteligências artificiais incrivelmente eficientes. Amazon, Netflix, Google, todos eles constroem seu sucesso em torno de dados. Mas aqui vai o segredo que nem sempre é contado: esses gigantes também investem pesadamente em privacidade e ética para manter a confiança do usuário.
Sem confiança, não há dados de qualidade. Sem dados de qualidade, não há inovação. E, sem inovação, a competição passa por cima. Ou seja, a ética não é apenas um ideal filosófico: é um fator estratégico de sobrevivência.
Quando o ouro foi descoberto, muitos se tornaram ricos. Outros, porém, perderam tudo em um piscar de olhos, porque esqueceram de algo crucial: o que você faz com o ouro importa mais do que simplesmente tê-lo. O mesmo vale para os dados. Empresas que tratam a ética como um mero custo ou uma "preocupação do jurídico" estão cavando buracos em vez de construir pontes.
Ética na gestão de dados não significa apenas cumprir leis como a LGPD. Significa agir de forma transparente, coletando apenas o que é necessário e assegurando que os titulares tenham controle sobre suas informações. Significa não manipular pessoas com dark patterns ou invadir sua privacidade em nome do lucro.
Se você quer construir um império (ou pelo menos manter sua empresa viva), algumas ações podem ser fundamentais. Seja transparente e explique, em linguagem simples, como você usa os dados – um político que se comunica bem ganha votos; uma empresa que comunica bem ganha clientes. Colete apenas o necessário, porque mais dados nem sempre significam melhores resultados, e dados irrelevantes só criam mais risco e confusão. Invista em segurança, porque guardar dados é como guardar ouro: se você deixa a porta do cofre aberta, não pode culpar os ladrões. Capacite sua equipe, porque não adianta ter políticas de privacidade impecáveis se seus colaboradores não sabem como aplicá-las. E, por fim, lembre-se da confiança, o ativo mais valioso. Quando você demonstra compromisso com ética, seus clientes tornam-se seus maiores defensores.
No fim das contas, ética não é apenas uma questão de "fazer o certo" — é uma questão de fazer o certo para todos, inclusive para o seu próprio negócio. Então, sim, trate os dados como ouro, mas lembre-se de que o verdadeiro valor está em como você escolhe usá-los. Afinal, a ética é o "ouro" que jamais perde seu brilho.
Larissa Pigão, advogada especializada em Direito Digital e Proteção de Dados Pessoais, mestranda em Ciências Jurídicas pela UAL – Universidade Autônoma de Lisboa.