Por que não podemos acabar com as políticas de diversidade?

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A recente onda de retrocessos nas políticas de diversidade, iniciada nos Estados Unidos e ecoando globalmente, nos obriga a uma reflexão profunda sobre o futuro das organizações e da sociedade. Como gestor que há anos testemunha e promove a inclusão, sinto-me compelido a abordar este tema crucial, especialmente diante das ações recentes que ameaçam décadas de progresso.

Observando o contexto histórico, desde os movimentos pelos direitos civis nos anos 1960, as políticas de diversidade têm evoluído constantemente, ganhando força nas corporações a partir dos anos 1990. No entanto, o cenário atual é preocupante. Nos EUA, o governo Trump anunciou o fechamento de agências responsáveis por programas de diversidade e inclusão social. Seguindo essa tendência, grandes empresas globais de tecnologia e alimentação começaram a cortar seus programas de equidade.

Essa guinada não se limita aos EUA. Em diversos países, observamos um recuo nas políticas de inclusão, muitas vezes mascarado por discursos de meritocracia ou eficiência econômica. É um momento crítico para reavaliarmos o papel da diversidade nas organizações e na sociedade.

Contrariando a narrativa de que diversidade é apenas uma questão de justiça social, dados concretos mostram seu impacto positivo nos negócios. Um estudo da McKinsey de 2020 revelou que empresas no quartil superior em diversidade de gênero têm 25% mais probabilidade de ter lucratividade acima da média. Para diversidade étnica e cultural, esse número sobe para 36%.

Minha experiência como gestor corrobora esses dados. Times diversos trazem perspectivas variadas, fomentam a inovação e melhoram as tomadas de decisão. Além disso, em um mundo globalizado, equipes diversas estão mais bem-preparadas para entender e atender mercados variados.

Empresas que recuam em políticas de diversidade não apenas perdem em inovação e competitividade, mas também se expõem a riscos legais e reputacionais. Nos EUA, por exemplo, o Título VII do Civil Rights Act proíbe discriminação no trabalho. Ações percebidas como discriminatórias podem resultar em processos custosos e danos à imagem corporativa.

Do ponto de vista reputacional, consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às práticas de diversidade e inclusão das empresas. Um estudo da Deloitte mostrou que 80% dos Millennials, uma força crescente no mercado consumidor, consideram importante que as marcas que consomem tenham políticas de inclusão sólidas.

A tecnologia surge como uma aliada potencial na promoção da diversidade. Ferramentas de IA para recrutamento sem viés, plataformas de treinamento em inclusão e análise de dados para identificar disparidades salariais são exemplos de como a tecnologia pode apoiar políticas de equidade.

Além disso, o futuro do trabalho, marcado pela globalização e pela necessidade constante de inovação, demanda equipes diversas. Empresas que não se adaptarem a essa realidade correm o risco de ficar para trás em um mercado cada vez mais competitivo e dinâmico.

Diante disso, é crucial que indivíduos e organizações comprometidos com a diversidade intensifiquem seus esforços. Como consumidores e profissionais, temos o poder de influenciar esse cenário. Devemos ser criteriosos em nossas escolhas, privilegiando empresas que genuinamente valorizam a diversidade. Como gestores e líderes, precisamos continuar advogando pela importância da inclusão em nossas organizações.

Em síntese, o momento atual é um teste para nossos valores e compromissos; as empresas que realmente almejam um mercado de trabalho justo e representativo devem intensificar seus esforços, não recuar. Como disse a Natura recentemente, "não há mais tempo para retrocessos".

Convido todos os leitores a refletirem sobre seu papel nesta luta. Quais ações podemos tomar em nosso dia a dia para promover a diversidade? Como podemos influenciar nossas organizações e círculos sociais? A construção de um mundo mais equitativo e inclusivo depende de cada um de nós.

Para aprofundar a discussão, recomendo ouvir a conversa que tive com o professor Wagner Venturini da ESPM e Viveka Kaitila, então CEO da GE Brasil, na qual discutimos o papel das lideranças na promoção da diversidade, equidade e inclusão.

A diversidade não é apenas uma questão de justiça social; é uma necessidade estratégica para as organizações que desejam prosperar no século XXI. Não podemos permitir que anos de progresso sejam desfeitos. É hora de nos posicionarmos firmemente e continuarmos avançando rumo a um futuro mais diverso e inclusivo.

Washington Botelho, Presidente da JLL Work Dynamics para a América Latina.

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