Desde que o novo coronavírus foi identificado na China, no final do ano passado, centenas de milhares de pessoas foram infectadas ao redor do mundo, infelizmente levando a milhares de fatalidades. Além das vidas ceifadas, essa pandemia também tem impactado fortemente a economia global, causando disrupção em cadeias de fornecimento, na operação das indústrias e no mercado financeiro. Ainda é incerta a magnitude que essa crise terá.
Como os demais executivos, os líderes de TI têm um papel fundamental para tentar amenizar o impacto que as organizações vêm sofrendo. A resiliência das organizações depende da tecnologia e dos sistemas. Vale lembrar que já vivemos outras crises e que certamente virão novos colapsos futuramente. Para que as organizações possam responder ao presente e estarem preparadas para o futuro, listarei algumas recomendações importantes para que a TI exerça seu papel fundamental e auxilie as empresas a mitigarem os impactos.
Antes e durante a crise
Recomendo a revisão, atualização e teste do Plano de Disaster Recovery (DR), pois enquanto o Plano de Continuidade de Negócios garante que as pessoas e os lugares estejam operacionais, o DR assegura que as aplicações e dados estejam em pleno funcionamento. Um ambiente de tecnologia irá suportar o PCN. Isso garantirá a efetividade e usabilidade dos recursos de tecnologia quando esses forem necessários.
Outro ponto extremamente importante diante desse contexto é o planejamento de cenários para entender as necessidades de tecnologia, pois podemos ter disrupções enormes de força de trabalho, cadeias de suprimentos, demandas por serviços e produtos, a depender de uma epidemia mais contida ou uma pandemia em proporções escaladas. O impacto também irá variar de acordo com a indústria e seu papel na cadeia e no ecossistema. Considere a execução de stress tests para diferentes cenários de epidemia. Avalie diferentes níveis de skills e staffing de TI, capacidade de processamento e aumento de produção em uma retomada. Considere flexibilidade, escalabilidade e necessidades de segurança da informação. Com isso, você estará preparado para tomar ações de recuperação imediatas ou graduais e garantir os tempos de resposta.
Prepare sua organização de TI, papéis e responsabilidades. Pessoas em posições críticas podem entrar em quarentena. Seus fornecedores e parceiros de tecnologia também podem enfrentar esses problemas. Por isso, tenha alternativas aos líderes para que o fluxo de tomada de decisão e as operações continuem. Prepare planos de sucessão e possua um plano de contingência para diferentes cenários.
Sugiro também que a TI racionalize seu portfólio de projetos de Tecnologia e repense seu modelo de entrega. Com recursos limitados disponíveis, os investimentos precisam ser otimizados. Em uma eventual retomada será necessário entregar valor de maneira mais rápida para gerar resultado. Faça uma avaliação sobre os projetos que poderiam ser paralisados e quais precisam ser priorizados para a retomada das operações após a crise; redesenhe seu modelo de entrega considerando Agile e Devops.
Prepare sua infraestrutura para novos padrões de tráfego e utilização, pois o tráfego de rede tende a convergir para o acesso remoto. Avalie a capacidade de sua infraestrutura, padrões de segurança e autenticação e capacidade de rede. Não esqueça de considerar também seus parceiros e fornecedores. Provisione ferramentas colaborativas para o acesso e trabalho remoto. Com isso, estará garantida a operação em temos de crise e retomada.
Para o futuro
Seja metódico e disciplinado em automatizar e modernizar os processos. A automação retira a dependência exclusiva de humanos e melhora a qualidade e eficiência dos processos. Assim, considere a por meio de ferramentas de RPA; a automação de workflows, processos e requisições com plataformas colaborativas como o ServiceNow; a virtualização de ativos; a modernização de sua arquitetura de solução e integração. A automação permite com que façamos a reengenharia do negócio; melhorando a eficiência, qualidade, velocidade e resiliência, nos permitindo enfrentar situações de crise mais preparados.
Por fim, adote uma estratégia Cloud-first e possua um ambiente resiliente que não dependa exclusivamente de seu datacenter e que esteja preparado para picos de crise. Avalie as aplicações que possam ser migradas para a nuvem e defina um roadmap estratégico de jornada para a cloud, migração e operação. A nuvem permite o acesso à informação de qualquer lugar a qualquer momento. Permitem a elasticidade e ganho de escala, além de alta disponibilidade, possibilitando tempo de resposta mais adequado em momentos de crise.
Como executivos de uma função crítica dentro da organização, é fundamental que os líderes de tecnologia estejam preparados e atentos. Mais importante do que isso, é uma oportunidade para que eles liderem o caminho e preparem sua organização para o que vem pela frente.
Rodrigo Moreira de Oliveira, diretor de Estratégia e Transformação Tecnológica da Deloitte no Brasil.