É fato que o Brasil possui um grande mercado interno para prestação de serviços de tecnologia da informação (TI). O país movimenta nada menos que US$ 9,09 bilhões, de acordo com dados da consultoria AT Kearney. Além de um grande parque tecnológico, possuímos uma comunidade de TI altamente qualificada. O número de desenvolvedores Java, que atendem a comunidades globais, por exemplo, ultrapassa a casa dos18 mil profissionais.
A indústria financeira no Brasil, que inclui bancos, seguradoras e financeiras, é responsável por 20% das demandas de tecnologia, de acordo com dados da consultoria IDC. Esse dado é comprovado por um levantamento da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) que mostra que os bancos devem destinar R$ 15,5 bilhões para a área de TI em 2007, 8,4% a mais que os R$ 14,3 bilhões investidos no ano passado. Desse total, quase R$ 6 bilhões serão destinados exclusivamente a desenvolvimento de novos sistemas e tecnologias. O que reforça a dimensão de nosso mercado interno.
Somada a isto, nossa localização geográfica, o fuso horário privilegiado e o custo, ainda competitivo, nos aproxima dos mercados americano e europeu, altamente demandantes por serviços de outsourcing. Isso faz com que o Brasil se torne uma forte alternativa para a prestação de serviços offshore, principalmente quando a Índia começa dar sinais de esgotamento de sua capacidade de atendimento à demanda global e a China, apesar de sua alta capacidade de crescimento, agrava o problema relativo ao fuso horário.
No entanto, algumas vulnerabilidades devem ser consideradas. A deficiência no domínio da língua inglesa continua sendo um dos principais entraves para que possamos exportar mais serviços e talentos. Outro empecilho é a desconexão entre o meio acadêmico e o mundo corporativo. Em geral, as escolas estão focadas em plataformas mais avançadas, mas que não refletem necessariamente a real demanda dos mercados globais.
Enquanto o ensino se concentra e .NET, tanto o mercado interno quanto o mercado global possuem grande demanda por especialistas 1 e outras linguagens menos avançadas, mas não menos importantes. Ou seja, o grande desafio se traduz em formar um grande contingente de profissionais.
Ou seja, a saída para elevarmos o Brasil a uma posição de destaque no cenário global de TI passa pelo investimento maciço em educação, tanto de base quanto técnica. Investir no ensino fundamental e médio, e também no ensino técnico, faz com que, no médio e longo prazo, mais pessoas consigam transpor a difícil barreira de se qualificar a uma vaga neste mercado global emergente.
Ao contrário das indústrias de base e de bens de consumo, que necessitam de pesados investimentos em equipamentos e tecnologia para ampliar as exportações, no segmento de TI o principal ativo da empresa é a capacidade intelectual de seus profissionais. Para se ter uma idéia, uma projeção feita pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) dá conta de que seria necessário injetarmos mais 100 mil profissionais qualificados no mercado para que o País consiga participar com, no máximo, 5% do mercado mundial de outsourcing em 2010. Só com uma grande massa de técnicos conseguiremos suprir a demanda interna e concentrar nossos recursos também para exportação.
A oportunidade existe e está agora alinhar toda a cadeia de valor e garantir a sinergia entre empresas, universidades, poder público e sociedade para viabilizarmos a formação de novos profissionais, visando atender a demanda global e, com isto, proporcionar crescimento econômico, geração de divisas e mais oportunidades de emprego qualificado.
*Diretor de Relacionamento da Tata Consultancy Services do Brasil