O avanço das tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) e as demandas criadas pela crise ambiental foram o centro do debate entre os CEOs e presidentes dos bancos brasileiros na abertura da edição 2024 do Febraban Tech 2024, nessa terça-feira, 25, em São Paulo.
O presidente da Febraban Isaac Sidney, que fez a abertura do evento, afirmou que a IA será a tecnologia de maior impacto sobre a vida das pessoas desde a Revolução Industrial. Segundo ele, os efeitos desta transformação tecnológica já têm impacto perceptível sobre o nível de emprego, inclusão social e o bem-estar das pessoas. "Vivemos um tempo de transformação precedentes e os bancos não estão alijados nesse processo", afirmou Sidney. Para o presidente da entidade, os bancos brasileiros vivem o desafio de implementar IA para melhorar a eficiência e o nível de atendimento a seus clientes ao mesmo tempo em que precisam aprender como fazê-lo de forma responsável, protegendo os dados de seus clientes e os interesses sociais.
De acordo com Sidney, os projetos de IA são os protagonistas dos R$ 47 bilhões que as instituições financeiras investirão em inovação e tecnologia até o final deste ano, montante inédito no setor. Os dados são da 1ª etapa da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2024, realizada pela Deloitte.
Os bancos brasileiros ocupam uma posição de vanguarda no mundo não só na implementação de IA, mas também na introdução de novas tecnologias financeiras, como os pagamentos digitais instantâneos e o compartilhamento de dados entre instituições bancárias, ressaltou Isaac.
"Aqui no Brasil, já há 46 milhões de pessoas que aderiram ao Open Finance e os pagamentos por PIX já somam 200 milhões de transações por dia, em momentos de pico", afirmou o executivo. Só em 2023, mais de R$ 17 trilhões foram transacionados por PIX, montante equivalente a 1,7 vez o valor total do PIB brasileiro. Ao comentar a sofisticação tecnológica das finanças no país, Sidney citou também o desenvolvimento do Drex, nome dado à versão digital do Real, a moeda brasileira.
IA à frente das evoluções
Para Carlos Vieira, presidente da Caixa Econômica Federal, o uso de IA nos bancos já permite melhorar a qualidade do atendimento oferecido aos clientes e reduzir custos operacionais. Segundo Vieira, os processos de auditoria do banco público, por exemplo, já são conduzidos por algoritmos de IA, capazes de identificar de modo impessoal tentativas de fraude e dar maior transparência às contratações da instituição. A inteligência artificial, diz Vieira, também auxiliou a Caixa a lidar com a recente tragédia que afetou o Rio Grande do Sul
"Em função da emergência climática, tivemos, da noite para o dia, que atender a mais de 3 milhões de correntistas no Rio Grande do Sul, que buscavam sacar benefícios emergenciais, fundo de garantia ou fazer um empréstimo", afirmou Vieira. Para o executivo, só foi possível atender à forte demande graças aos serviços de atendimento ao cliente controlados por IA. "Conseguimos gerir esta crise sem criar uma única fila, o que só foi possível porque estávamos preparados tecnologicamente", disse.
Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco, destacou que eventos como o registrado no Rio Grande do Sul demonstram que a crise climática é uma realidade inescapável que exige resposta imediata das instituições financeiras. "Quando o tema é o combate aos efeitos do aquecimento global, os bancos não devem ver uns aos outros como competidores, mas agir como aliados para acelerar a descarbonização da nossa economia e das empresas que atendemos", afirmou.
Segundo Maluhy, o Itaú Unibanco atingiu, neste ano, a meta de R$ 400 bilhões em operações de crédito e apoio financeiro a projetos de impacto ambiental positivo. O executivo disse, ainda, que a agenda ambiental do banco é tão prioritária quanto a agenda social. "Temos consciência das injustiças cometidas no Brasil ao longo de séculos e ações como a promoção de mulheres a cargos de liderança e a inclusão de pessoas negras em todos os níveis hierárquicos de nosso banco é um tema central para nós", afirmou.
Educação transformando o mercado
A importância de conduzir ações sociais que contribuam para transformar a realidade dos mercados em que atuam foi citada também pelo CEO do Santander, Mario Leão. O executivo afirmou que a instituição que dirige já investiu R$ 40 bilhões no Brasil em programas de apoio a educação e ao financiamento do ensino superior. No mundo, Leão afirma que este montante supera R$ 116 bilhões.
"Para além da educação, temos a visão de que apoiar jovens e pequenos empreendedores com microcrédito exerce um papel transformador na vida dos clientes e das comunidades onde vivem", disse Leão. De acordo com o CEO do Santander no Brasil, só o programa Prospera, focado na concessão de microcrédito, movimentou mais de R$ 21 bilhões em empréstimos, no Brasil, nos últimos anos.
Na visão de Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, as agendas social e ambiental devem nortear as decisões de negócio das instituições financeiras no Brasil. "Conciliar resultados para os acionistas, eficiência para o cliente e ações sociais sempre foi um compromisso do Bradesco, há muitas décadas, como demonstra a longa atuação da Fundação Bradesco em comunidades de todo o país, especialmente no apoio a estudantes", disse.
O advento da emergência climática e a ascensão da inteligência artificial, no entanto, devem aprofundar o envolvimento das instituições financeiras em temas socioambientais. "Temos o privilégio de ser um país, no mundo, que tem a maior parte de sua matriz energética apoiada em energias limpas. Aqui, 81% da eletricidade que consumimos vêm de fontes renováveis, ao passo que, no mundo, este indicador não chega a 30%. Nosso papel é liderar o processo de transição energética, exigindo que cada novo projeto que apoiamos e financiamos tenha metas ambientais e sociais claras", afirmou. As informações são da assessoria da Febraban Tech.