O lado oculto da IA: a tecnologia que potencializa golpes financeiros

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Dentre as diversas inovações digitais recentes, nenhuma cresceu tão rápido quanto a Inteligência Artificial, que ganhou espaço no cotidiano de parte da população e, principalmente, nos planejamentos de empresas de todos os setores. Os benefícios do uso de IAs são notáveis e trazem entusiasmo, com eficiência operacional em grande partes do casos, mas a facilidade e bons resultados das ferramentas representam também uma ameaça: cibercriminosos estão se beneficiando e aprimorando suas técnicas, tornando as fraudes mais complexas e criativas, com ataques mais sofisticados.

A Inteligência Artificial Generativa, por exemplo, é capaz de produzir textos críveis, falsificações de rosto e voz com quase indistinguíveis, o que dificulta a detecção e possibilita um roubo de uma conta bancária – principal alvo dos golpistas. Dados recentes, da última pesquisa global de fraudes e crimes financeiros, apontam que 52% dos tomadores de decisão em gestão de fraudes, risco e conformidade em instituições financeiras afirmam que a atividade de crimes financeiros aumentou em 2023. Além disso, 42% deles estimam que o volume será ainda maior até o final de 2024. A aposta é que a IA seja a razão do temor: quase dois terços dos gestores dizem que os criminosos estão mais avançados na utilização da Inteligência Artificial para fraudes e golpes, do que os bancos no uso da tecnologia para combater o crime financeiro, pois as instituições estão abaixo de diversas regulamentações e processos que são indiferentes aos fraudadores, além da diferença das grandezas e escala.

Esse último número, que é de 69% dos entrevistados, reflete bem o cenário brasileiro. Muito se ouve sobre a aplicação da IA na prevenção a fraudes, contudo ainda existe uma lacuna entre aspiração e execução. O primeiro motivo que explica o avanço ainda lento é a falta de compreensão abrangente do que a Inteligência Artificial realmente envolve e como pode ser integrada aos fluxos de trabalho existentes. A segunda razão é a ausência de investimentos suficientes em infraestrutura e profissionais para executar as iniciativas de IA, como consumir e processar grandes volumes de dados em tempo real para efetuar o PIX, ainda é um desafio grande. Custa caro, não é trivial e concorre com todas as outras atividades operacionais. Na prática, ainda há muito mais ideias do que projetos aplicados nessa área.

Na disputa entre as IAs, o comportamento humano é a chave

Os golpes no estilo 0800 comandam o ranking de fraude mais popular no Brasil. Os criminosos se aproveitam de vulnerabilidades humanas e exploram lacunas no conhecimento dos consumidores para enganá-los. O fato de tal golpe ser o que mais cresce por aqui, ainda nos dá uma vantagem no trabalho de proteção contra a IA que está chegando nas mãos dos golpistas. As instituições bancárias têm investido cada vez mais em soluções avançadas de detecção de fraudes, para combater toda essa sofisticação dos fraudadores e sem impactar a experiência dos seus clientes.

Para identificar eficazmente os golpes, é crucial que bancos e instituições financeiras possuam uma compreensão profunda do comportamento do cliente. Isso envolve entender e analisar hábitos de transações, conhecer seus dispositivos e avaliar os padrões comportamentais, ou seja, ser capaz de criar uma identidade digital dos seus usuários. Isso permitirá saber, de forma mais precisa, os riscos de uma transação, sem a necessidade de desafios invasivos e que quebrem a experiência fluida, por exemplo, se o indivíduo está movimentando sua conta por espontânea vontade ou se é um robô muito bem treinado.

Apesar de excelente, a IA ainda é apenas uma ferramenta programada por alguém e os bancos têm a capacidade para se anteciparem e garantirem o que todos esperam: segurança, experiência e privacidade. Oferecer ao cliente efetivamente mais proteção, e não só a sensação de estar seguro, é o caminho para que os golpistas entendam que as instituições financeiras passaram à frente nessa corrida.

Cassiano Cavalcanti, especialista em prevenção de fraudes e cibersegurança, e atualmente é diretor de pré-vendas da BioCatch na América Latina.

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