O custo das violações de dados e os desafios da cibersegurança no Brasil

0

Nos últimos anos, a América Latina tem registrado um aumento preocupante nos custos médios das violações de dados, o que revela um cenário cada vez mais complexo e desafiador para a cibersegurança na região. Este aumento está ligado a vários fatores, como a crescente sofisticação dos ataques cibernéticos, a escassez de profissionais qualificados e as exigências cada vez maiores em termos de conformidade regulatória, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Esses elementos combinados criam uma tempestade perfeita na qual as empresas precisam lutar em várias frentes para proteger seus ativos mais valiosos: as informações sensíveis.

A sofisticação dos ataques continua a evoluir em um ritmo acelerado, com técnicas avançadas para explorar vulnerabilidades que muitas vezes passam despercebidas pelas empresas. Ao mesmo tempo, a falta de profissionais especializados em cibersegurança amplia essa vulnerabilidade, pois muitas organizações simplesmente não têm as pessoas certas para monitorar, detectar e responder a essas ameaças de forma eficaz.

A conformidade regulatória adiciona outra camada de complexidade. A LGPD, por exemplo, exige que as empresas protejam os dados pessoais de seus clientes sob pena de enfrentar multas significativas e danos irreparáveis à sua reputação. No entanto, estar em conformidade com essas regulamentações não é apenas uma questão de evitar punições, mas de construir uma cultura de segurança que permeie toda a organização.

Um aspecto crucial na resposta às violações de dados é o tempo. Dados do relatório global Midyear Security Report 2015, divulgado pela Cisco, mostram que incidentes contidos em menos de 200 dias tendem a custar significativamente menos do que aqueles que se prolongam além desse período. Reduzir a janela de exposição é fundamental para limitar o impacto financeiro e operacional desse tipo de ocorrência. Infelizmente, muitas empresas brasileiras ainda demoram para detectar que foram invadidas, o que pode levar até dois anos em alguns casos. Este atraso agrava também os danos à reputação e à confiança dos clientes.

Apesar de uma leve redução no custo médio das violações de dados no Brasil, o aumento nos custos de detecção e escalada indica que ainda há muito a ser feito. A estruturação e operacionalização eficaz dos Centros de Operações de Segurança (SOCs) é uma necessidade urgente. Para isso, é essencial que as empresas invistam em tecnologia, capacitem seus profissionais e adotem processos padronizados que possam garantir uma resposta rápida e eficiente a qualquer ameaça.

No entanto, o maior obstáculo para essas melhorias continua sendo financeiro. Muitas empresas enxergam os investimentos em cibersegurança como despesas altas, e não como uma proteção essencial. Parcerias com provedores de serviços de segurança gerenciada (MSPs) podem ser a solução. Elas permitem que as empresas tenham acesso a uma infraestrutura de cibersegurança robusta sem a necessidade de grandes desembolsos iniciais, o que facilita a adoção de práticas de segurança mais avançadas.

A Inteligência Artificial (IA) e a automação representam o futuro da cibersegurança, mas sua adoção no Brasil ainda é limitada. Os altos investimentos para implantação e a incerteza quanto ao retorno, somados a uma resistência cultural e uma infraestrutura tecnológica muitas vezes deficiente, têm sido barreiras significativas. No entanto, a IA tem o potencial de transformar a forma como lidamos com a cibersegurança, automatizando tarefas repetitivas, antecipando ameaças e melhorando o tempo de resposta. Ainda assim, o fator humano permanece indispensável. A IA pode oferecer insights valiosos e acelerar processos, mas é a expertise humana que garante a eficácia dessas ferramentas.

Para enfrentar os desafios da cibersegurança, o Brasil precisa investir em educação e treinamento especializado, bem como promover uma maior conscientização sobre a importância dos SOCs entre os líderes empresariais. Workshops, simulações de incidentes e a demonstração clara do retorno sobre o investimento em segurança cibernética são estratégias eficazes para garantir que a alta gestão compreenda a necessidade de uma abordagem proativa.

Em resumo, o caminho para uma cibersegurança mais eficaz no Brasil passa pela combinação de tecnologia de ponta com o desenvolvimento de uma cultura de segurança sólida. Somente assim as empresas poderão enfrentar os desafios crescentes e proteger seus dados em um cenário cibernético cada vez mais hostil.

Fabio Bernardes Augusto, especialista em Cybersecurity da Algar Tech MSP.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.