Se você sofre de dor de cabeça constantemente e, após uma primeira pesquisa na web, chegou à conclusão de que deve ter um câncer cerebral, você pode estar sofrendo, na verdade, de cibercondria (cyberchondria). Trata-se de um termo utilizado para descrever os indivíduos que navegam pela internet à procura de informações sobre saúde ou cuidados médicos para si próprios ou para pessoas próximas. O termo vem das palavras "cyber" e "chondria", do grego, que se refere a uma desordem obsessiva. Ela não se caracteriza como uma doença por si só, mas pode ser um dos fatores que leva à hipocondria, normalmente caracterizada pelo medo de que sintomas discretos possam indicar doenças sérias, constante auto-exame e auto-diagnóstico e preocupação contínua com o corpo.
O problema já é considerado crônico por especialista e tem sem sido motivo de uma série de estudos. Na segunda-feira, 24, pesquisadores da Microsoft publicaram os resultados de um estudo sobre buscas relacionadas à saúde na web, bem como um levantamento com empregados da própria empresa. O estudo sugere que o auto-diagnóstico obtido por meio dos mecanismos de busca na web tem levado freqüentemente as pessoas a concluírem que têm as piores doenças.
"Embora o termo cyberchondria tenha surgido em 2000, o levantamento da Microsoft é o primeiro estudo sistemático preocupado em captar os anseios das pessoas que fazem buscas na web relacionadas com os cuidados a saúde", disse Eric Horvitz, pesquisador da área de inteligência artificial da Microsoft Research. Segundo ele, muitas pessoas tratam os mecanismos de busca como se pudessem responder perguntas como um expert humano. "As pessoas tendem a olhar apenas os primeiros resultados", disse Horvitz. "Se eles acham 'tumor cerebral' ou 'ALS' [Amyotrophic Lateral Sclerosis, também chamada de doença de Charcot], eles já têm seu ponto de lançamento", declarou ele em uma entrevista a edição on-line do jornal americano New York Times.
Horvitz é engenheiro de informática e tem graduação em medicina, e trabalha junto com o pesquisador Ryen W. White, especialista em tecnologia de recuperação de informações. Eles descobriram que a buscas na web para coisas como dor de cabeça e dor no peito são as com maior probabilidade de levar as pessoas a páginas descrevendo situações benignas como graves, embora as doenças graves sejam muito mais raras. Por exemplo, não foram tão numerosos que os resultados de cefaléias ligados com tumores cerebrais, mas houve vários ligados ao uso da cafeína.
Os pesquisadores disseram que não tinham a intenção com o trabalho de passar a mensagem de que as pessoas devem ignorar os sintomas. Mas a análise dos registros das buscas indicou que a pesquisa de sintomas particulares tem levado as pessoas muitas vezes a desenvolverem a ansiedade. Eles descobriram que cerca de 2% de todas as consultas na web foram relacionados à saúde, e que cerca de 250 mil usuários, ou um quarto da amostra, recorreram ao menos uma vez a remédios. Além disso, cerca de um terço das pessoas realizaram buscas para explorar doenças graves, disseram os pesquisadores.
Dos mais de 500 empregados da Microsoft que responderam a um questionário sobre seus hábitos pesquisa médica, mais de metade disse que a consulta relacionada a uma doença grave tinha interrompido as atividades de seu dia-a-dia ao menos uma vez.
Os pesquisadores disseram que as pessoas que fazem buscas na web sobre saúde têm a "propensão de tirar conclusões terríveis". Em 1974, os psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky escreveram um artigo seminal sobre decisões que são baseadas em crenças, sobre a probabilidade de eventos incertos, como o resultado de uma eleição ou o valor futuro do dólar. Eles disseram que as pessoas geralmente empregam regras de senso comum para auxiliar nas suas decisões. As regras podem ser bastante úteis, mas elas também muitas vezes conduzem a erros sistemáticos.
Os pesquisadores da Microsoft disseram que os resultados do estudo sobre os hábitos de pesquisa médica na web têm um viés semelhante. Entretanto, Horvitz disse acreditar que a web irá evoluir para oferecer informações mais confiáveis. Na década de 1990, pesquisadores da Microsoft construíram um sistema de aconselhamento sobre gravidez e cuidados infantis. Para Horvitz, no futuro, será possível a criação de mecanismos de pesquisa que sejam capazes de detectar consultas médicas e oferecer conselhos que não levam os usuários da web a temer o pior.
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