Grandes empresas investem na busca de startups para fomentar inovação

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Difícil precisar o número startups existentes no Brasil. Só a entidade ABStartup contabiliza mais de 4 mil associados cadastrados de diferentes setores, e atualmente está realizando uma pesquisa para saber o número real, uma vez que empreendedorismo virou motivo de atração das grandes empresas, que procuram uma startup para ''chamar de sua''.

O motivo dessa atração está na dificuldade das empresas promoverem inovação dentro das próprias organizações por diferentes motivos, mas o principal deles, é que geralmente elas têm estruturas engessadas que inibem a velocidade de desenvolvimento que as startups exigem.

Amure Pinho, recém-nomeado presidente da ABS Startup, diz que as grandes empresas vivem num ecossistema onde não existem os requisitos para o nascimento de uma startup, que "precisa além da ideia inovadora, velocidade e agilidade e liberdade para conquistar o mercado".

A entidade também procura fazer essa aproximação entre grandes empresas e startups, com a realização de um Pitch Corporativo, que esse ano selecionou projetos em segmentos como educação, saúde, varejo, tecnologia e entretenimento.

Recentemente, a Amcham de São Paulo realizou um seminário onde grandes empresas relataram suas experiências e estratégias em busca de novas ideias e projetos inovadores.

Uma das pioneiras em criar programas de apoio às startups foi a Construtora Tecnisa. Romeo Busarello, diretor de Marketing e Ambientes Digitais, relatou que desde 2010 a empresa tem foco em inovação, mas que tinha grandes dificuldades em gerenciar da área de inovação dentro da empresa e cuidar do dia a dia ao mesmo tempo, pois era muito assediada e procurada por empreendedores.

Segundo ele, o principal problema das pessoas que o procuravam era que na tinham foco em relação ao projeto proposto, principalmente em relação a negócios. "A pessoa conhecia do "o negócio", mas não conhecia "de negócios", nem de prioridades, e não raro se perdia na exposição da ideia. Prioridade é uma palavra que não deveria ter plural", diz o executivo.

Para buscar ser mais efetiva no aproveitamento dessas ideias, a Tecnisa criou o Fast Dating, onde em uma manhã por mês, os interessados podem fazer uma apresentação com 10 minutos, que não precisa ser da área de construção civil obrigatoriamente. "De 720 projetos apresentados nos últimos 5 anos, apenas 36 resultaram em algum negócio", diz Busarello.

Um deles, por exemplo, foi de apresentado por uma empresa que tinha uma plataforma de declaração de IR ao preço de RS$ 60,00 cada. Como a Tecnisa trabalha com um grande número de colaboradores, viu a oportunidade de oferecer esse benefício aos mesmos.

Um projeto de impacto adotado pela Tecnisa mudou radicalmente o ambiente das garagens dos prédios, local que não era aproveitado pelo condomínio, o que trouxe aumento em 30% das vendas desse tipo de imóvel. Outro projeto pioneiro que contribuiu para imagem de empresa inovadora foi o uso de drones para mostrar aos clientes detalhes que eles normalmente não veem quando visitam os empreendimentos, como a vista do futuro apartamento e a incidência de sol.

A mais recente ideia de uma startup adotada pela construtora, foi a alocação de uma impressora 3 D nos estandes de vendas de edifícios, que imprime a maquete da planta baixa do imóvel, o que facilita os interessados na visualização e facilita o trabalho do corretor na hora de venda.

Bradesco

O Bradesco já está na segunda edição do programa InovaBRA, com inscrições abertas até 22 de dezembro próximo, voltado a descobrir projetos inovadores de startups que tenham soluções aplicáveis ou com possibilidade de adaptação no setor de produtos e serviços financeiros.

Marcelo Frontini, diretor do departamento de Pesquisa e Inovação do Bradesco,  disse que o programa tem foco na experiência do cliente. "Uma startup pode fazer um protótipo, e, se atender 5% dos clientes do banco, o que dá um milhão de clientes, pode ser usado, pois tem valor agregado para banco". Mas ressalta que a segurança é primordial em qualquer projeto do Bradesco, pois não se podem colocar os recursos financeiros dos clientes em risco.

A primeira edição do InovaBra teve 500 participantes, com 10 selecionados. Assim como na primeira edição, as empresas devem apresentar para essa segunda iniciativa soluções nas seguintes áreas: meios de pagamento, canais digitais, produtos, seguros e Banco do Futuro, que engloba iniciativas que possam ser adotadas nos próximos anos por qualquer área do Banco.

"A primeira edição nos surpreendeu em número de inscritos e na qualidade das soluções apresentadas", comenta Maurício Minas, vice-presidente do Bradesco. A expectativa do Banco para a segunda edição é superar relativamente o número de inscrições. "Acreditamos que essa modalidade de negócios veio para ficar, tanto para o Bradesco como para o mercado brasileiro. Tanto que mantemos relacionamento com as demais empresas inscritas na primeira fase, nosso papel é contribuir para elas possam se estruturar, aperfeiçoar seus produtos, colocar no papel novas ideias e, futuramente, ser uma parceira do Banco", reforça Minas.

Os projetos selecionados foram: Atar, dispositivo vestível para pagamento digital; Nue, solução de vitrine interativa; Qranio, plataforma móvel para treinamento; Queroquitar, plataforma de autoatendimento online para renegociação de dívidas; Rede Frete Fácil, solução de gestão de oferta e demanda de fretes rodoviários; Screencorp, startup de gestão de conteúdo interativo em TVs corporativas; Sensidia, solução de gerenciamento de APIs; Shopmobi, solução para gestão de atendimento em agências.

O programa tem duração de 12 meses, sendo quatro destinados ao processo seletivo e oito meses para o processo de interação com o Banco, incluindo melhorias na gestão, busca de sinergia estratégica, operacional e mercadológica.

Natura

A Natura aposta na inovação aberta como proposta para criar um diálogo com a comunidade científica, reunindo pesquisadores e instituições de pesquisa numa iniciativa denominada Natura Campus, a partir de 2006, que já promoveu um hackatown em parceria com o Media Labs, entre outras iniciativas.

Além dos desafios de desenvolvimento de novos produtos, ele inclui inovações em serviços e novos negócios em uma visão multidisciplinar, como por exemplo, um sistema de produção sustentável do dendê e uma biblioteca virtual de gestos, baseada em terapias corporais para inspirar as pessoas a resgatarem e valorizarem as relações humanas.

Luciana Hashiba Horta, responsável por Gestão e Redes de Inovação da Natura, diz que por ser uma empresa brasileira a Natura não tem experiência internacional, motivo pelo qual está aprendendo sozinha como absorver essas ideias. Ela explica que a nova iniciativa da Natura terá uma proposta objetiva, o Hackaton Ekos Mãos na Mata, "uma maratona de ideias que conectem a natureza e a Amazônia no dia a dia das pessoas, que provoquem atitudes transformadoras e que gerem soluções de bem estar e qualidade de vida". Serão quatro dias de imersão em Belém, no Pará, em março de 2016, propondo troca de conhecimentos, colaboração e oportunidade de networking.

Brasken

Patrick Teyssinneye, diretor de Inovação da Braskem disse que uma das principais dificuldades em criar seu programa de inovação era a própria característica da empresa, uma indústria que tem grande volume de produção voltada ao mercado cujo produto final é o plástico.

Explicou que Braskem Labs foi uma iniciativa pioneira na indústria química e petroquímica brasileira, ao incentivar empreendedores no desenvolvimento de soluções socioambientais inovadoras por meio do uso do plástico. O objetivo era buscar novas soluções e tecnologias em segmentos como saúde, moradia, mobilidade, segurança, entre outros, que gerassem impacto social.

O programa desenvolvido em 2015 recebeu a inscrição de 150 projetos, dos quais 19 foram selecionados. Ele salienta o projeto dos óculos 3 D de realidade virtual Beenoculus para ser utilizado com smartphones, como ferramenta complementar de ensino e aprendizado, cujo objetivo é trabalhar temas de forma mais prática. O Beenoculus proporciona aos usuários uma experiência única de aprendizado, dando a eles a sensação de estarem fisicamente em outro lugar, como por exemplo, uma viagem a centros históricos ou a partes internas do corpo humano.

Os projetos selecionados tem acesso a capacitações e apoio na elaboração do modelo de negócio com foco no impacto social promovido e na viabilidade financeira.

Senior

Alencar Berwanger, diretor de Marketing e Produto da Senior, empresa de software de recursos humanos e gestão empresarial, com sede em Blumenau, com receitas da ordem de RS$ 250 milhões, já gerou cinco spin off.

Em 2011 a empresa fez um diagnóstico da empresa envolvendo vários KPI (índices de avaliação) onde se constatou que os colaboradores envolvidos nas tarefas do dia a dia não estavam inovando.  Por isso, ela criou o programa Desafios da Inovação, para retenção de talentos. Já o Portal de Ideias é um ambiente web, voltado a clientes, onde eles podem compartilhar ideias para melhorar produtos e serviços oferecidos para a Senior. Hoje, este programa recebe mais de 2 mil ideias de 7 mil clientes, 6% das quais já foram aproveitadas.

"Em 2013, um projeto de aceleração de startups, o Inove Senior, foi aprovada pelo Conselho". Estamos sempre procurando qual será a próxima startup "Senior killer", para no mínimo, participar dela," brinca o executivo.

Ford

A Ford desenvolve programas de apoio às startups com objetivos ligados a tecnologia dos automóveis e também de natureza institucional, explica  Adriana Rocha, gerente de comunicação corporativa da empresa.

A iniciativa TechStar, baseada em Detroit, EUA, desenvolver soluções mobile para a plataforma de comando por voz Sync, pelo qual o motorista não precisa tirar a mão volante para realizar uma função, garantido sempre uma direção segura.

Segundo a executiva, a Ford tem preocupação na democratização da tecnologia, motivo pelo qual oferece esses recursos a partir do carro de entrada de linha, o Novo Ka e Ka+. Esse recurso de conectividade está presente equipa também atual geração das linhas Focus, Fusion, EcoSport, Edge e Ranger, além de estar disponível em versões do New Fiesta Hatch e Sedan.

Em paralelo, a empresa incentiva startups a criarem soluções que tenha impacto na mobilidade das cidades, como por exemplo, o Desafio São Paulo de Aplicativos, recém-realizado. Nele três projetos foram escolhidos: Muvall, criado por Gabriel Araújo, cujo app realiza a integração de dados do transporte público e privado, com base no destino final do usuário; MOBQI, que faz o rastreamento e itinerário de ônibus, localização e envio de alertas para a viatura policial mais próxima, informações sobre táxis, estabelecimentos comerciais e interação com outros usuários.

E o Vita que pretende auxiliar as pessoas no planejamento do trajeto, por meio da escolha do melhor meio de transporte. A intenção é melhorar a experiência no trânsito, diminuindo o tempo de viagem e os custos de transporte, contribuindo com saúde física e mental de quem se locomove por São Paulo.

Chivas Regal

Criado pela marca de whisky Chivas Regal, o concurso "The Venture" escolheu na etapa brasileira quatro empresas – i9access, Colab, Epitrack e Sayyou Brasil – que, por meio de inovações tecnológicas, atuam em diferentes áreas, como saúde, relacionamento entre prefeituras e cidadãos e combate a pragas. O objetivo da iniciativa é incentivar empreendedores com projetos que buscam gerar impacto social positivo, cuja premiação levará uma dessas quatro empresas a participar de um workshop no Vale do Silício (EUA) e a concorrer, na etapa global com outras startups mundiais, a um prêmio de US$ 1 milhão.

Os critérios analisados foram inovação da solução, modelo de negócio, tamanho do mercado, retorno esperado e a capacidade de execução do time. A i9access oferece aproximação entre os profissionais de saúde e pacientes. O projeto criado por Alécio Binotto faz o monitoramento de pacientes, gerenciamento de eletrocardiogramas e treinamento em videocirurgia.

Desenvolvida pelo publicitário Gustavo Moreira Maia, a Colab é uma rede social colaborativa que tem como finalidade servir como ponte entre o cidadão e o poder público. A rede ajuda os moradores das cidades a monitorarem as ações tomadas pelos governantes. Já são cerca de 100 prefeituras brasileiras utilizando a plataforma, junto com mais de 100 mil cidadãos. Já a Epitrack, startup de Recife (PE), atua na área de saúde, desenvolvida por Onicio Leal Neto, o empreendimento é focado em vigilância epidemiológica em dispositivos móveis, detecção digital de doenças e treinamento para epidemiologistas. O projeto da Sayyou, criado por Sergio de Andrade, utiliza a tecnologia como alternativa limpa ao uso de agrotóxicos e herbicidas no combate às pragas. A meta da empresa é desenvolver um serviço que use eletrochoques para realizar o procedimento, promovendo um controle sem danos ao solo e ao meio ambiente.

A premiação faz parte da plataforma global de Chivas "Vença do Jeito Certo" que tem como objetivo inspirar as novas gerações a empreender e desenvolver seus projetos, além de inspirar outras pessoas a fazer parte do movimento.

Dassault Systèmes

A francesa Dassault Systèmes, produtora de software de projeto 3D, anunciou essa semana o  3DEXPERIENCE Lab – Laboratório Aberto de Inovação e Programa Acelerador de Startups, com o objetivo de fortalecer os projetos de vanguarda de transformação da sociedade. No período de um a dois anos, as startups selecionadas terão acesso à plataforma 3DEXPERIENCE, habilidades técnicas e tutoria para criar experiências digitais que otimizem e validem seus produtos e processos. Além disso, a presença mundial da Dassault Systèmes ajudará a acelerar os lançamentos de produtos e a participação internacional de startups. O Lab envolve inteligência coletiva com uma abordagem de colaboração recíproca para promover empreendedorismo, dar vida a novas experiências e fortalecer o futuro da criação da sociedade.

Ele foi lançado em paralelo com a Fundação Dassault Systèmes, criada para apoiar projetos inovadores e transformadores de educação, pesquisa e conhecimento científico em instituições acadêmicas, institutos de pesquisa, museus, associações, centros culturais e outras organizações de interesse geral por meio da União Europeia.

Telefônica Vivo

A Telefônica Vivo criou no ano passado na Espanha o Open Future, focado em inovação aberta para desenvolver o empreendedorismo e buscar novos talentos. Por meio do Think Big, espaços de crowdworking, Wayra, Telefònica Ventures, Amerigo e do CIP Telco Fund, ele tem recursos aplicados da ordem de 500 milhões de euros.

Segundo Ana Segurado, diretora do Open Future, "o Brasil é o país onde há o maior número de empreendedores na população, por isso nossa presença aqui é muito importante para nós. É uma forma de demonstrar que compartilhamos a mesma filosofia e o resultado disso é ter nos permitido ajudar tantas startups a realizarem seus projetos".

O Wayra, principal projeto da empresa no Brasil, criado em 2012, soma investimentos de RS$ 38,6 milhões em 49 projetos digitais.

A Telefônica também criou há dois anos uma startup no Brasil focada em educação digital, tendo em vista o próprio potencial do setor e da grande demanda de treinamentos que suas próprias equipes de colaboradores representa. Hoje ela tem 300 clientes e 4 milhões de alunos em diferentes plataformas.

Luis Alexandre Castanha, CEO da Telefônica Educação Digital, disse que o caminho para se criar uma startup dentro de uma grade empresa é árduo, pois tem que se submeter a processos demorados, burocráticos e jurídicos, que vão contra a condição básica de agilidade e velocidade necessárias às startups. "Mesmo para ganhar o contrato com a Telefônica, tivemos que concorrer com outras empresas de mercado", explica.

Ideia antiga

Quase chegando ao início de 2016, podemos constatar que esse movimento das grandes empresas em busca  de "inovação, startups e empreendedorismo'' não é muito recente

No IBM CEO Study 2012, há 4 anos, CEOs falam sobre o impacto e as oportunidades da economia conectada, dentro e fora da empresa. O estudo já questionava como atrair e reter talentos, manter a coesão das equipes e lidar com uma abertura organizacional cada vez maior? Ao lidar com o cliente, como tornar a organização relevante e atrativa para um público conectado?

As conclusões dizem que mesmo quando a organização tiver um bom desempenho, os CEOs deverão, ocasionalmente, romper o status quo e introduzir novos catalisadores externos, parceiros inesperados e alguma ideia intencionalmente disruptiva.

O local e a forma como os insights são encontrados e usados pelas empresas estão mudando radicalmente. Para atrair efetivamente um cliente, as organizações precisarão de capacidades analíticas mais fortes para descobrir padrões e responder a perguntas que nunca pensaram em fazer sobre seus públicos de interesse.

Para os CEOs, a abertura organizacional oferece um grande potencial de crescimento. Mas a abertura também vem com mais riscos. À medida que os controles são liberados, as organizações precisam de um forte senso de propósito e de convicções compartilhadas para a tomada de decisões. As equipes precisarão de processos e ferramentas que inspiram colaboração em uma escala em massa. Talvez o mais importante seja que as organizações devam ajudar os funcionários a desenvolver atributos para serem bem-sucedidos nesse tipo de ambiente.

Com certeza essa uma boa constatação para explicar porque as grandes empresas resolveram acelerar o movimento de incentivo e busca de uma startup para "chamar de sua".

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