Em meu artigo anterior abordei a transição entre as Disciplinas de Conhecimento e a relação com a prosperidade das empresas em um mundo onde a tecnologia está disponível e tudo pode ser copiado (copycats).
Trago a seguir um complemento, explorando três fatores que tem promovido uma mudança significativa na velocidade e na intensidade das mudanças em todos os segmentos de mercado e que estão impondo uma nova dinâmica de concorrência.
- Conectividade absoluta:
A posse de um dispositivo conectado é hoje uma ubiquidade (você simplesmente assume que todos possuem).
A convergência tecnológica tem permitido que pessoas e organizações interajam de diferentes maneiras, o que tem proporcionado o acesso a um amplo e diversificado conhecimento em poder de indivíduos e que pode ser combinado para atender as mais diferentes e complexas necessidades.
O crowdsourcing é uma realidade e as empresas tem acesso a conhecimento especializado sobre qualquer assunto a um custo acessível. Competências internas podem ser complementadas com capacidades de especialistas externos, potencializando a criação e a melhoria de produtos e serviços.
A integração aberta é também um fato. Sistemas e aplicações trocam dados de forma cada vez mais eficiente, beneficiando-se da especialização que cada componente do sistema possui.
Um recente movimento neste sentido são os chamados Super App's. Um caso emblemático é a da rede social chinesa WeChat, que através de um mecanismo baseado em API's permite que outras aplicações sejam facilmente integradas, oferecendo maior conveniência para os usuários, enquanto preserva a soberania de cada aplicação que integra o Super AppEste não foi um movimento aleatório do WeChat. Partiu de uma constatação de que as melhores características de um produto jamais seriam inventadas in-house. Nenhuma empresa, atualmente, é capaz de produzir um "killer app" isoladamente. A dinâmica do mercado e a diversificada demanda dos clientes tornam isso impossível (ou ao menos economicamente inviável).
- Sistemas inteligentes:
O crescente volume de conhecimento disponível tem sobrecarregado os limites de processamento pelo cérebro humano.
A tomada de decisões, antes restrita a intuição de um grupo de experts, é insuficiente nos dias de hoje para lidar com a complexidade cada vez maior dos desafios empresariais.
Similarmente às atividades humanas que antes demandavam esforço físico e foram sistematicamente substituídas por máquinas, também o ato de processar informações para extrair conhecimento evolui neste sentido.
O tratamento de dados há muito deixou de ser uma atividade "artesanal", restrita a um grupo de especialistas. E também já passou pela sua fase de "produção em massa", apoiada pelos sistemas de business intelligence. Atingimos o estágio de "automação do conhecimento", com o suporte das máquinas inteligentes.
Os sistemas baseados em inteligência artificial estão se tornando cada vez mais acessíveis. Plataformas em nuvem, que contribuíram significativamente para tornar a infraestrutura de TI amplamente disponível, passaram a incorporar recursos como por exemplo de redes neurais, colocando o poder de processar grandes volumes de dados nas mãos de empresas de todos os portes e segmentos.
- Criatividade humana:
Existem dois tipos de questões que todos os dias desafiam os executivos: quebra-cabeças e mistérios.
Um quebra-cabeça é um tipo de problema que pode ser solucionado desde que você tenha informações corretas, meios para tratá-las e inteligência para saber o como. O lançamento de um produto pelo seu concorrente é um exemplo de quebra-cabeça.
Já o mistério é mais complexo. Qual produto o seu cliente realmente necessita, por exemplo, é um mistério. A resposta para um mistério simplesmente não existe. Ela tem que ser criada. Nas palavras de Steve Jobs: "O problema é que uma pesquisa de mercado pode revelar o que o seu cliente pensa de algo que é mostrado a ele, ou pode indicar o que o seu cliente deseja como melhoria incremental em algo que já existe. Mas muito raramente o seu cliente pode prever algo que nem ele próprio sabe que deseja."
O papel da criatividade humana na solução desses mistérios é fundamental. Nossa capacidade de compreender as emoções, desejos e necessidades humanas, que são os traços fundamentais da empatia, representa um poderoso recurso do processo criativo e constitui um dos elementos básicos do design thinking.
Para permanecerem competitivas, as empresas devem proativamente automatizar tudo o que for rotineiro e simultaneamente engajar-se em um esforço criativo liberando o potencial humano para a transformação contínua do negócio.
Igor Ramos Rocha, consultor de Empresas em Tecnologia.