Na esteira da revolução digital, o 5G possibilita uma verdadeira transformação, desde a mobilidade urbana, com veículos autônomos, até a saúde, com telemedicina de ponta e um universo de dispositivos conectados pela Internet das Coisas (IoT). Mas, para que tudo isso se torne viável e escalável para diversas regiões e camadas da sociedade, há uma espinha dorsal quase invisível para a integração de todo o sistema: a rede de fibra óptica. Longe de ser apenas um elemento de suporte ela é, na verdade, a base indispensável para impulsionar a tecnologia de quinta geração.
Para compreender o papel essencial do filamento óptico, é importante revisar a evolução das infraestruturas móveis. Do 2G ao 4G, a conexão entre as Estações Rádio Base (ERBs) — antenas que transmitem sinais para dispositivos móveis — dependia principalmente de links dedicados, conhecidos como backhaul e fronthaul. Eles eram responsáveis por transferir dados entre as torres e a estação principal, com velocidades geralmente limitadas a 1 Gbps, embora alguns sistemas mais avançados alcançassem até 10 Gbps. No entanto, com a chegada do 5G, que exige a capacidade de fornecer velocidades de até 1 Gbps diretamente ao usuário final, essas interligações tradicionais se mostraram insuficientes.
A fibra óptica traz uma série de avanços essenciais. Sua capacidade de transmissão é praticamente ilimitada, permitindo que uma ERB receba velocidades até 100 vezes superiores às das conexões 4G. Oferece uma infraestrutura escalável, capaz de acompanhar a crescente demanda por maior capacidade de propagação em frequências mais altas.
A latência (tempo para ir de um ponto a outro em uma rede de internet), é um dos fatores decisivos, sendo a tecnologia que possibilita baixíssimo tempo de resposta. É um elemento essencial, por exemplo, para cirurgias remotas, onde qualquer atraso de informações seria crítico.
Além disso, permite a criação de canais dedicados, ou seja, faixas exclusivas de frequência e largura de banda para cada dispositivo ou aplicação específica, o que aumenta significativamente a capacidade de transmissão e reduz congestionamentos na rede.
Em áreas de alta demanda, como centros urbanos, várias antenas precisam atender milhares de dispositivos móveis ao mesmo tempo. Quando conectadas por fibra óptica, as ERBs conseguem gerenciar esse alto volume de conexões simultâneas sem perda significativa de velocidade — algo inviável com tecnologias de rádio.
As operadoras de telecom tem avançado e ampliado todas essas frentes. Este ano foram aprovados dez projetos, que serão conduzidos por pequenos provedores, somando R$ 616 milhões e envolvendo a construção de mais de 4 mil km de fibra óptica e 205 antenas.
Segundo dados da Conexis Brasil Digital, de 2023 a 2024, 10 mil torres foram instaladas, com 70% das metas da Anatel para 2025 já cumpridas. Hoje, o 5G cobre 651 municípios.
Contudo, a expansão dessas redes todo o território brasileiro, especialmente em áreas remotas, ainda é um desafio complexo. Esse avanço depende de mais parcerias entre operadoras e empresas de fibra já estabelecidas. Em vez de cada empresa construir sua própria estrutura em regiões mais afastadas, muitas optam por utilizar as já existentes regionalmente, o que facilita a ampliação da cobertura de forma mais rápida e econômica.
Em localidades como o norte do país, essas interligações enfrentam obstáculos naturais significativos, incluindo vastos rios e extensas áreas de floresta. A solução ideal passa por este modelo colaborativo.
À medida que a inovação do 5G avança, a fibra óptica continuará sendo um pilar essencial, assegurando o cumprimento das promessas de alta velocidade e baixa latência. Mais do que uma simples solução técnica, representa um investimento estratégico em uma infraestrutura robusta e duradoura, capaz de preparar o terreno para as futuras gerações de tecnologia.
Também reafirma seu papel essencial na transformação digital e no avanço tecnológico do Brasil. Somente com sua expansão impulsionada por parcerias estratégicas e soluções inovadoras, o 5G poderá alcançar seu verdadeiro potencial.
Ricardo Bernardo Santos, Diretor de Arquitetura e Planejamento de Redes da Alloha Fibra.