No começo do mês, acompanhamos a invasão aos Três Poderes em Brasília, onde diversas obras de arte foram danificadas. Apesar do grande impacto, casos como esse, no qual uma multidão invade locais fechados para protestar, não são isolados. Aqui no Brasil, já acompanhamos diversas invasões à Câmara, a universidades, shoppings, entre outros espaços de acesso restrito ao longo dos anos. Mesmo em outros países, situações como essas são vistas, como o ataque ao Capitólio nos Estados Unidos. Porém, como evitar que um grupo de pessoas consiga vencer as barreiras e adentrar sem ser convidado?
É muito importante destacar que a maioria desses destinos é bastante visada. Por esse motivo, são utilizadas diversas tecnologias, além de segurança ostensiva e armada em muitas ocasiões. Entretanto, mesmo assim, esses recursos não foram suficientes para manter a ordem. Isso quer dizer que é impossível evitar?
Não, mas não basta apenas apostar nas tecnologias mais avançadas. É preciso planejar e pensar a segurança de forma estratégica, para que essas ações possam ser retardadas, até a chegada de reforços, se for o caso, ou até mesmo desarticuladas.
É essencial em casos como esses que exista uma inteligência que analise os riscos constantemente e consiga antever invasões. É preciso estar um passo à frente. Com um número alto de pessoas, a segurança deve sempre desmobilizar ou inibir as lideranças para diminuir o ímpeto da multidão. Em uma "batalha" como essa, identificar os comandantes das ações ajuda a evitar que sejam dadas ordens para os "soldados" invasores, assim como em um exército.
São situações muito diferentes de assaltos. Um criminoso que visa um roubo busca sempre encontrar as falhas na segurança: um espaço sem câmera ou uma cancela frágil sem uma tecnologia integrada. São nesses furos que eles entram e efetuam o roubo. Nesses casos, a estratégia precisa ser sempre pensada para evitar esses gaps.
Já em caso de manifestações, a ação é normalmente em manada. Todos se unem para vencer a segurança e invadir o local por meio de força. Um confronto direto pode ser uma catástrofe para os dois lados, com dezenas de mortes indesejadas. Os responsáveis por proteger o perímetro precisam usar as tecnologias para antever e proteger a todos, mesmo aqueles que estão invadindo. A inteligência e o sangue frio da segurança devem estar bem treinados para evitar uma tragédia maior.
A complexidade dessas ações precisa ser entendida para evitar a "caça às bruxas". Quando acontecem, todos correm para encontrar um culpado, mas, nessas situações, o sistema todo falhou. É necessário revisar todos os procedimentos e treiná-los novamente.
A segurança não pode nunca remediar. Se ela não for planejada e personalizada para cada situação, sempre haverá riscos.
Marco Antônio Barbosa, especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil.