Segundo o Gartner, os gastos globais dos usuários finais em serviços de nuvem pública devem totalizar US$ 723,4 bilhões em 2025, com todos os segmentos de nuvem registrando crescimento de dois dígitos no próximo ano. Os dados foram divulgados no dia 20 de novembro, durante a Conferência Anual da consultoria sobre Estratégias de Infraestrutura, Operações e Nuvem de TI, realizada em Londres, Inglaterra. O estudo também revelou que até 2027, 90% das organizações pesquisadas irão adotar modelos de nuvem híbrida, mostrando que não se trata de uma "onda", mas de um modelo perene de lidar com o gerenciamento de dados.
Diante desse cenário, e somado o fato que o uso de ferramentas de Inteligência Artificial está aumentando, tornando-se uma das principais tendências tecnológicas para 2025, o mercado de datacenters se mantém aquecido.
O crescimento vertiginoso da demanda computacional é a razão de empresas – e governos – ao redor do mundo estarem correndo contra o tempo para montar e entregar novos datacenters que deem conta do processamento e operacionalização que nuvem, IA, Internet das Coisas (IoT), entre outras ferramentas, necessitam para poderem operar.
"Vemos um aquecimento do mercado de construção, operação e manutenção de datacenters, demandando investimentos públicos e privados, e também contribuindo com a geração de emprego qualificado a longo prazo, porque por mais que tenhamos ferramentas que automatizam o funcionamento de um centro de operações, o ser humano é ainda uma ferramenta importante nesta equação, como um elo entre usuários finais e a máquina", afirma Ricardo Solda, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Adistec Brasil.
Neste aspecto, o especialista em Datacenters da Adistec comenta sobre a "Cidade de Datacenters", que será implantada em Eldorado do Sul (RS) e impulsionará a recuperação econômica do estado, após as enchentes de maio de 2024. O projeto, feito em parceria com a Scala Data Center, prevê a construção do "maior e mais inovador" empreendimento de infraestrutura digital da América do Sul, com um investimento de US$ 500 milhões apenas na primeira fase, na qual irá gerar mais de três mil empregos diretos e indiretos.
"Com um potencial de expansão que pode chegar a 4.750 MW em mais de sete milhões de metros quadrados, este datacenter oferece uma oportunidade única para o Brasil consolidar-se como um dos líderes globais no cenário da tecnologia da informação", reforça Solda.
Alternativas de energia
O executivo lembra que o Brasil se apresenta como um local promissor para receber essa infraestrutura não só pelo grande potencial de usuários, mas por dispor de espaços físicos e diferentes matrizes de energia renovável (solar, eólica e hidrelétricas) para abastecer os datacenters. Atualmente, o consumo energético é um dos maiores custos de operação de um datacenter e também um ponto negativo quanto à sustentabilidade, pois esses ambientes consomem cerca de 1% de toda demanda energética do planeta, segundo a Agência Internacional de Energia, respondendo por 0,3% das emissões globais de CO2.
"Grandes projetos de datacenters em São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia já foram mapeados quanto à demanda energética pelo Ministério de Minas e Energia (MME). No Rio de Janeiro, o Porto do Açu se apresenta como um local estratégico para atrair centros de processamento de dados de até 1 gigawatt (GW) de capacidade. O Brasil sempre foi conhecido como um país de muitas belezas naturais e agora temos essa posição tropical como um atrativo em termos de produção de energia elétrica", comenta Solda.
Repatriação de dados
Outra vertente que colabora para o aquecimento brasileiro do mercado de datacenters é o processo de repatriação de dados, ou seja, um movimento que traz de volta da nuvem pública dados críticos e até operações completas de empresas. Tal tendência é motivada por um amadurecimento do uso da nuvem, com correta avaliação sobre custos, segurança e processos por parte dos gestores, que avaliaram ser mais saudável economicamente ou mais fáceis de controlar servidores em nuvens privadas ou em datacenters locais (on premises ou colocation).
"Hoje temos um cenário de maturidade no uso de cloud, convergindo a um modelo híbrido com multicloud (uso de nuvem pública e/ou privada) e servidores particulares nas empresas, de acordo com as especificidades de cada negócio. Gestores perceberam que atualizar sua infraestrutura era melhor para a operação do que perder o controle sobre a informação e encarar latência no seu acesso, por isso a repatriação dos dados é algo a ser encarado com normalidade e não como uma falha do modelo de nuvem pública", pondera José Roberto Rodrigues, Country Manager e Alliance Manager LATAM da Adistec.
A soberania de dados também tem uma parcela importante neste aspecto de buscar um maior controle sobre as informações de usuários, especialmente quando se tornou público que big techs usam interações de brasileiros nas redes sociais para treinar suas IAs. Em relação a empresas e centros de pesquisas, a implicação está em ter o controle de infraestrutura digitais para poder armazenar seus dados de maneira segura, longe dos olhos da concorrência.
Esta é uma das razões pelas quais a Missão 4 do plano "Nova Indústria Brasil", articulado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), conta com R$ 2 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para investir na construção de datacenters em território nacional para alavancar a digitalização das empresas brasileiras.
"Esses recursos podem ser acessados por provedores de internet com projetos articulados para levar conectividade à internet banda larga a locais de difícil acesso, diminuindo os desertos de conectividade e baixa qualidade de sinal em todas as regiões do Brasil. Quando um empresário vai expandir sua operação, ele se pergunta se terá mesmo público consumidor para pagar o investimento. No caso dos datacenters, temos uma demanda quase reprimida por capacidade computacional, pois da maior empresa ao usuário comum, não há quem viva mais sem as facilidades legadas pelo ambiente digital", finaliza Rodrigues.