Todos os dias são divulgados novos dados sobre vagas disponíveis na área de TI. O último número chega a 400 mil vagas. Tantas oportunidades e uma enorme falta de profissionais qualificados fazem com que os salários disparem.
Os pais, preocupados com o futuro de seus filhos e atentos ao mercado de trabalho, na maioria das vezes mesmo sem entender o que um profissional de TI faz, acreditam que estar neste mercado é uma excelente oportunidade para que seus filhos consigam o tão desejado primeiro emprego. O fato de a garotada passar o dia inteiro na frente do computador corrobora esta certeza. Quem nunca escutou um pai dizer: “já que você passa o dia inteiro na frente do computador, porque não arruma uma maneira de ganhar dinheiro com ele?”.
Com o passar do tempo, os pais ficam mais ansiosos e a pressão sobre a garotada aumenta; de um lado os pais começam a falar com todos os conhecidos para conseguir uma vaga; por outro, a garotada fala com os amigos para ver se consegue algo e, inevitavelmente, uma oportunidade aparece.
As entradas para o mercado de TI são, na sua maioria, nas áreas de: suporte técnico, call center, teste, desenvolvimento ou documentação. Para a garotada não importa muito o que eles irão fazer, mas sim que terão seu próprio dinheiro para a balada e o fim da “pegação” no pé pelos pais.
O tempo passa e a garotada começa a se identificar com a empresa e com as atividades que fazem em TI. É comum nesta etapa da carreira acontecer diversas mudanças entre as áreas: quem trabalhava com suporte técnico resolve mudar para desenvolvimento, do call center vai para processos/documentação e assim sucessivamente. Isto acontece facilmente porque os salários não são muito diferentes e o nível do conhecimento nesta fase da carreira ainda é muito pequeno.
Para quem ainda não entrou na faculdade é quase natural escolher um curso na área de TI e, para quem já entrou, a possibilidade de mudar de curso é muito grande. O problema é escolher qual curso fazer.
Hoje em dia existem tantos cursos e com tanta diversidade que nem os mais experientes no mercado conseguem diferenciar um currículo do outro, muito menos dizer qual é o melhor. Os critérios escolhidos para decidir o que fazer normalmente estão ligados à qualidade da faculdade, o preço dos cursos e, claro, na indicação de um amigo ou de um chefe.
Nesta fase da carreira, a garotada não sabe muito bem o que está fazendo, muito menos para onde está indo. Eles sabem que estão na faculdade, têm um emprego e acreditam que um dia irão conseguir virar chefe, crescer na vida e ganhar muito dinheiro. O gostar e o prazer neste momento estão ligados a lugares e coisas muito distantes da faculdade ou do trabalho.
Os anos passam e o final da faculdade se aproxima; o que há anos atrás era um embalo hoje já virou carreira; o desespero com o final da fase universitária é muito complexo na cabeça dos jovens profissionais e eles não sabem qual é o próximo passo.
As antigas pressões vindas dos pais retornam, mas agora em nova roupagem; os chefes começam a pressionar dizendo que só com faculdade hoje não se vai a lugar nenhum, a competição, nem sempre velada entre os amigos, fica mais acirrada.
O comportamento do recém-formado não está, nem de longe, ligado ao que ele gosta de fazer ou a um planejamento consistente e real do que ele quer para a sua carreira. Ele busca uma pós-graduação muito mais por uma possível oportunidade de crescimento na empresa, ou porque determinado curso está na moda e dizem que dá dinheiro.
Atualmente a pós-graduação para a carreira de TI esta como a residência para a medicina: o aluno acaba a graduação e tem a obrigação de se especializar. O resultado deste circulo vicioso é quase sempre o mesmo: profissionais frustrados, estressados, caixas e caixas de ansiolíticos e pouco (ou até mesmo nenhum) prazer no que se faz.
Mas dá para ser diferente?
É claro que dá!
É preciso pensar muito, planejar e utilizar as ferramentas que existem em abundância, de maneira produtiva.
O primeiro passo é identificar o que se “acha” que se gosta de fazer. Por exemplo: acho interessante a função de Gerente de Operações de Data Center, ou Arquiteto de Sistemas.
Com certeza o garoto não tem a menor ideia do que estes profissionais fazem, qual é o lado bom e qual o lado ruim destas profissões. Gosta porque achou interessante o perfil destes profissionais no “Linkedin” (o primeiro passo para todo jovem que entra na carreira de TI é criar um ID no “Linkedin” e mandar convite para todo mundo).
A partir daí, selecione alguns perfis de profissionais que trabalham em empresas e indústrias diferentes, olhe os cursos e faculdades que fizeram, as empresas que trabalharam e formule uma série de questões, todas com o objetivo de entender qual o caminho e as escolhas que fizeram, onde acertaram e onde erraram, o que fariam diferente e, fundamentalmente: o que lhes dá prazer e o que não gostam de fazer.
O próximo passo é enviar um e-mail para os profissionais escolhidos. Seja absolutamente objetivo, redija no máximo 3 a 4 linhas. Explique que você é um entrante na carreira que viu o perfil dele em uma rede social, que não está procurando nem pedindo emprego, mas que admirou sua trajetória e que gostaria, dentro das possibilidades dele, de conversar por 5 minutos por telefone para que ele pudesse te ajudar respondendo algumas perguntas a definir seu futuro. Tenho certeza que muitos se sentirão honrados em ajudá-lo. Com essas informações de quem vive o lado bom e ruim no dia a dia da carreira que você sonha em ter, certamente vai ficar mais fácil traçar o seu futuro.
E aí, o que você prefere: definir sua carreira com planejamento e estratégia ou ‘achismos’ dos amigos e promessas de promoções?
Alberto Parada, vice-presidente de Educação da SUCESU-SP, colunista e palestrante, integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, formado em administração de empresas e análise de sistemas, especialista em Gestão de Projetos e Outsourcing; atuou como executivo na IBM, CPM-Braxis, Fidelity e Banespa; é voluntário no HEFC, hospital para portadores de Câncer.