Medo: o paradoxo de quem é líder

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Liderar não é apenas ocupar um cargo ou tomar decisões estratégicas. É, acima de tudo, conviver diariamente com a responsabilidade de guiar pessoas, influenciá-las, enfrentar incertezas e assumir riscos. No centro dessa jornada, muitas vezes escondido sob uma fachada de confiança inabalável, está o medo – esse sentimento demasiadamente humano que engloba o receio de errar, de decepcionar, de não estar à altura do desafio. Mas, por mais incômodo que seja, ele não é um inimigo – é um componente inerente à liderança.

Líderes experientes sabem que o medo não é um sinal de fraqueza, mas um lembrete da magnitude de suas decisões. Ignorá-lo é imprudente; aceitá-lo e transformá-lo em combustível é a marca dos que deixam um legado. O grande erro não está em sentir medo, mas em permitir que ele paralise a ação ou contamine a visão estratégica.

Quando recebi a notícia que a empresa em que eu trabalhava estava encerrando as operações no Brasil foi um choque. Naquele momento, foram vários os medos que me invadiram sem pedir licença, em especial sobre o futuro. Foram preciso semanas para que conseguisse digerir as informações, elencar as prioridades, entender o que estava ao meu alcance e traçar um plano de ação.

Resolvi que a solução era empreender: assumir a operação brasileira fundando uma nova empresa, da qual eu seria CEO. A proposta foi aceita e aí outros medos vieram a galope.

Novamente, para mitigá-los, precisei entendê-los. Meu primeiro passo foi me cercar de pessoas altamente competentes e especialistas em suas áreas. Profissionais nos quais eu confiava – e ainda confio, porque eles seguem comigo – e que tinham as habilidades necessárias para criarmos juntos um negócio de sucesso.

Isso foi fundamental para que eu tivesse segurança de seguir em frente, tendo liberdade para inovar e criar, enfim, a empresa que almejava. Essa confiança coletiva gerou um espiral ascendente, que envolveu tanto os cargos de liderança como os demais funcionários, espalhando o sentimento de pertencimento.

Estar à frente de processos e equipes é enfrentar cotidianamente desafios de negócio e relacionais que podem gerar inseguranças. Separei três dicas que me ajudam a enfrentar esses momentos no dia a dia:

  • Abrace a vulnerabilidade como fonte de força: há uma crença equivocada de que líderes devem ser infalíveis, mas a verdade é que a vulnerabilidade bem administrada gera autenticidade. Reconhecer seus receios, compartilhá-los de forma estratégica e aprender com eles humaniza a liderança e fortalece a conexão com a equipe. A confiança surge não da ausência de medo, mas da coragem de agir apesar dele.
  • Transforme o medo em análise estratégica: o medo muitas vezes aponta para riscos reais e cenários que exigem cautela. Em vez de permitir que ele distorça a percepção da realidade, use-o como um sinal para aprofundar sua análise. Pergunte-se: "Qual é o pior cenário possível? E quais são as chances reais de ele acontecer?" Separar o medo irracional da prudência estratégica permite tomar decisões mais equilibradas e evitar a paralisia. 
  • Construa sua confiança com pequenos avanços: grandes líderes não nasceram prontos – eles evoluíram a cada passo dado, mesmo quando estavam incertos. A confiança não surge da ausência de desafios, mas da capacidade de enfrentá-los repetidamente. Pequenas vitórias acumuladas ao longo do tempo constroem uma base sólida de segurança para encarar desafios ainda maiores. O segredo está na consistência.

O medo é um companheiro constante na jornada de qualquer líder. Ele pode ser uma âncora que arrasta para a estagnação ou um impulso para a superação. O que define essa diferença não é a presença ou ausência do medo, mas a maneira como administrá-lo.

Ele também é um sinal de responsabilidade. E se há responsabilidade, há a oportunidade de crescer, inovar e deixar sua marca. O verdadeiro líder não busca eliminá-lo – ele aprende a navegar com ele.

Fabrício Oliveira, CEO da Vockan.

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