Na sociedade contemporânea, cheia de estímulos e distrações de diversas naturezas, a atenção se tornou um dos recursos mais valiosos e disputados. Grandes empresas investem bilhões em tecnologia e psicologia para capturar e manter nosso foco, tornando-o um ativo comercializado na chamada Economia da Atenção.
Esse conceito se baseia na ideia de que, em um mundo com informação abundante, a capacidade de captar e manter a atenção humana se torna extremamente valiosa. Redes sociais, serviços de streaming e aplicativos usam algoritmos sofisticados para prever nossos interesses e nos manter engajados pelo maior tempo possível. O design dessas plataformas é, justamente, projetado para estimular a produção de dopamina.
O impacto disso tem várias camadas: distração constante, dificuldade de manter o foco profundo e uma sensação que pode remeter à dependência digital. Muitas vezes, perdemos o controle sobre nossa própria atenção, permitindo que ela seja ditada por forças externas, como algoritmos e publicidade. Afinal, quem nunca ficou preso num joguinho ou em uma rede social sem perceber o tempo passar que atire a primeira pedra.
Assim, frente a essa disputa acirrada, cabe a nós determinarmos limites e refletirmos sobre como e com o que dedicamos nossa atenção. Você que me acompanha sabe que costumo falar sobre a presença genuína e a escuta ativa nos processos de liderança. Na verdade, tenho essas premissas para minha vida. São práticas cotidianas que conversam com a filosofia budista da perfeita liberdade e que vão ao encontro, precisamente, do conceito ocidental da economia da atenção.
Mas o que é ser livre?
No Budismo, a verdadeira liberdade não é fazer o que se quer a qualquer momento, mas sim estar livre das amarras do desejo, da compulsão e da distração. A prática da atenção plena (você já deve ter ouvido falar em mindfulness, certo?) é um dos caminhos para isso: consiste em observar a própria mente, reconhecer padrões de pensamento e evitar ser arrastado automaticamente por impulsos.
O monge budista Thich Nhat Hanh descreve a perfeita liberdade como a capacidade de "não ser prisioneiro do passado, do futuro, ou dos nossos hábitos de consumo". Quando vivemos no piloto automático, reagimos aos gatilhos sem consciência, nos tornando reféns das nossas próprias mentes. No contexto digital, isso significa checar redes sociais compulsivamente, clicar em manchetes sensacionalistas ou se perder em conteúdos que não escolhemos conscientemente consumir.
O que a economia da atenção e o Budismo nos mostram é que quem controla sua atenção, controla sua realidade. No mundo hiperconectado, nossa liberdade está diretamente ligada à capacidade de escolher onde colocamos nosso foco.
O caminho da perfeita liberdade nos convida a retomar o controle, cultivando a consciência e a intencionalidade. Algumas práticas podem ajudar nesse processo:
- Estabelecer limites digitais: Criar espaços de tempo livres de telas, notificações e redes sociais.
- Praticar mindfulness: Meditação e atenção plena ajudam a treinar a mente para evitar dispersão.
- Consumir conteúdo de forma consciente: Escolher ativamente o que ler, assistir e ouvir, em vez de ser levado pelo fluxo algorítmico.
- Recuperar espaços de pensamento profundo: Priorizar leituras longas, tempo para reflexão e momentos de silêncio.
A atenção é um dos bens mais preciosos da nossa era, e sua gestão consciente pode definir a qualidade da nossa vida e trabalho. Ao compreendermos os mecanismos que disputam nosso foco e aplicarmos práticas que promovem presença e discernimento, damos um passo em direção a uma liberdade genuína – aquela que nos permite agir com propósito, em vez de reagir automaticamente aos estímulos ao nosso redor. No fim, a verdadeira escolha está em nossas mãos: seremos reféns da distração ou protagonistas da nossa própria atenção?
Washington Botelho, Presidente da JLL Work Dynamics para a América Latina.