A produção de softwares científicos é uma das possibilidades que se abrem para o Brasil colaborar com os grandes projetos internacionais que estão sendo desenvolvidos na área da astronomia mundial. Esta foi a avaliação feita pelo astrofísico do Observatório Nacional, Luiz Nicolaci da Costa.
O futuro da astronomia e a participação brasileira em projetos mundiais que somam mais de US$ 10 bilhões em investimentos são os objetivos da reunião que o Observatório Nacional, instituto de pesquisas do Ministério da Ciência e Tecnologia, promove a partir desta terça até quinta-feira (27 a 29/5), no Rio de Janeiro.
Segundo Nicolaci, idealizador do evento, o objetivo é proporcionar uma visão panorâmica dos caminhos que estão se abrindo para a astronomia ?e ver, dentro das nossas limitações orçamentárias, de pessoal, nossas vocações, como a gente consegue se inserir nesse contexto?.
A reunião quer estabelecer um projeto plurianual, levando em conta o que a comunidade externa está fazendo. A partir dessa ?competição saudável?, Nicolaci disse que os especialistas brasileiros poderão identificar a melhor forma de contribuir para o futuro da astronomia.
Uma das áreas em que essa contribuição pode ocorrer de forma expressiva é no desenvolvimento de softwares, sugeriu o astrofísico. Ele ressaltou, inclusive, que nesse campo não há necessidade de grandes insumos nem de uma base industrial ampla. ?Porque a gente precisa de gente inteligente. E o Brasil tem gente inteligente?, disse Nicolaci.
Nos dois primeiros dias de reunião, serão apresentados os principais projetos que estão sendo desenvolvidos internacionalmente. O terceiro dia abordará os impactos que esses projetos têm para a tecnologia da informação. ?Todos esses novos experimentos vão gerar um grande volume de dados que precisam ser processados, armazenados, analisados. E é nessa parte que nós estamos tentando contribuir?, assegurou o astrofísico.
Um dos softwares desenvolvidos pelo Observatório Nacional está sendo usado no projeto Dark Energy Survey (DES), que será apresentado no encontro. Trata-se de uma colaboração internacional que está construindo uma câmara avançada para mapear 10% do céu em quatro bandas do espectro.
?O projeto vai varrer o céu em 525 noites. Nós vamos ter uma visão colorida do céu?, explicou o pesquisador. O Observatório Nacional fará o processamento dos dados que serão gerados, de forma eficiente, usando grades de computação e também fazendo um portal científico que facilite aos usuários acessar esses dados e analisá-los.
Na segunda parte da reunião, programada para o dia 29, os cientistas irão analisar os tipos de tecnologia nos quais o mundo está investindo e como o Brasil poderá enfrentar a multiplicidade de dados que vai caracterizar a astronomia moderna.
Nicolaci afirmou que o Brasil possui um orçamento modesto para o desenvolvimento da astronomia. Por isso, avaliou que ?não podemos competir de igual para igual com projetos cujos investimentos superam US$ 1 bilhão no campo da astronomia?. Segundo ele, como o país não dispõe de dinheiro nem da base tecnológica necessária para realizar sozinho projetos dessa envergadura, a saída será fazer parcerias em projetos específicos, contribuindo com suas vocações naturais.
?Nós temos que pensar como é que o Brasil pode competir internacionalmente levando em consideração suas limitações financeiras, tecnológicas e de pessoal. Está na hora de amadurecer e ter uma visão de futuro?, observou Nicolaci. Ele acredita que as discussões que vão definir o que será a astronomia nos próximos 20 anos.
Muitos dos projetos que serão apresentados no encontro organizado pelo Observatório Nacional resultam de parcerias internacionais. Um exemplo é o Grande Conjunto de Radiotelescópios do Atacama (ALMA), projeto orçado em mais de US$ 1 bilhão, com participação de cientistas norte-americanos, japoneses e europeus, que objetiva medir emissões de rádio que vão explorar o universo primordial, explicou o astrofísico.
Com informações da Agência Brasil.