Os call centers são amplamente reconhecidos por seus retrospectos na geração de oportunidades e inovação tecnológica. Como um dos setores que mais empregam no Brasil e porta de entrada para o primeiro emprego de muitos jovens que começam a atividade profissional, assim como a maioria das empresas brasileiras, têm enfrentado diversas dificuldades para manter a competitividade em um cenário macroeconômico bastante instável e com contratos cada vez mais enxutos.
Para uma atividade que tem, em média, 75% de seus custos oriundos da natureza trabalhista, o anúncio feito pelo governo, no final do mês de março, que versa sobre o fim da desoneração e o consequente aumento de tributos (20% sobre a folha de pagamento), gerou uma reflexão bastante grande sobre os rumos da atividade empresarial em nosso país.
Em termos gerais, falamos de impactos econômicos e sociais que envolvem mais de 40 mil empresas de 50 setores produtivos, em um período de recessão, carente por uma recuperação no crescimento e desenvolvimento. A medida anunciada para julho exigirá das empresas uma significativa revisão de processos e um inevitável repasse de custos. Estes custos, em cascata, certamente afetarão o consumidor final e prejudicarão, sobretudo e de forma acentuada, as perspectivas na oferta abundante de produtos, serviços e frentes de trabalho.
Especificamente sobre o setor de teleatendimento, que vinha experimentando uma aspiral de ascensão no número de operações, o cenário atual, que reflete diminuição nas margens de rentabilidade e elevadas alíquotas gerais de impostos, ocasionarão um freio nos planos de expansão e um risco real às operações. Para ilustrar esta realidade, um estudo recente, solicitado pelo Sindicato Paulista das Empresas de Telemarketing, Marketing Direto e Conexos (Sintelmark) à empresa de Consultoria E-Consulting Corp, previu, para o ano de 2017, um crescimento da ordem de 3,4 %, depois de seguidos anos de contração.
O Governo viu a necessidade de retirar o benefício da desoneração, concedido desde 2011, como forma de gerar maior arrecadação. Contudo, a medida abrupta de cessação do incentivo, atrelada à alta carga tributária, irá gerar impactos difíceis de serem absorvidos. O setor precisa de uma carga de imposto sobre a folha de pagamento que seja justa e não agrave o preço de produtos e serviços.
A ação vem em um momento de sufoco. Retirar o incentivo de uma só vez, sem considerar um período de transição que leve em conta a recuperação das margens de rentabilidade destas empresas, que em grande parte já se encontram com alto índice de endividamento, trará, como consequência, a derrocada de um volume expressivo de empresas e a supressão de muitos postos de trabalho, com todos os reflexos que isso pode significar.
Para um segmento que já acumula um elevado ativo trabalhista, a saída imediata será a busca, cada vez maior, por investimentos em tecnologia, otimização e novos modelos de atendimento e a automação dos processos, mas mesmo para o governo, o impacto a curto e médio prazo, será de perda na receita, haja vista que as empresas não têm como arcar com esta carga tributária vigente. Talvez seja o momento de repensar todas as alternativas para que o remédio não seja pior que a doença.
Lucas Mancini, presidente do Sindicato Paulista das Empresas de Telemarketing, Marketing Direto e Conexos – Sintelmark.