É urgente associar a tecnologia aos projetos de geração de créditos de carbono na Amazônia

0

Um mercado que hoje é sete vezes maior do que há apenas três anos em volume de transações, de acordo com a Ecosystem Marketplace — em dólares (1) — não é qualquer mercado. Na esteira das crescentes preocupações com a agenda de sustentabilidade em geral e com o combate às mudanças climáticas em particular, o mercado de compensação voluntária de carbono avança como importante ferramenta para empresas e pessoas físicas se engajarem com essas pautas, que ganham visibilidade no mês de junho, quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente. Seu crescimento, no entanto, poderia ser muito mais rápido, robusto e consistente se a presença da tecnologia nos processos de geração dos créditos estivesse mais disseminada.

Tecnologia de ponta é o que não falta. Desenvolvedores e empresas especializadas a cada dia colocam no mercado soluções sob medida para as mais variadas demandas ligadas a questões ambientais. Falta conectá-las — escolhendo as ferramentas certas para cada situação — aos mecanismos que produzem os créditos de carbono que depois serão vendidos para as compensações de pessoas e empresas. Parece óbvia a necessidade dessa conexão, mas ainda existem muitos obstáculos e gargalos que impedem o pleno desenvolvimento dos ativos de compensação de emissões.

Os créditos de carbono são gerados, entre outros meios, pelos projetos de conservação de florestas — como os que estão hoje em operação na Amazônia —, conhecidos como REDD+. Esses projetos precisam ser desenhados e geridos com a ajuda de metodologias e ferramentas que facilitem trabalhos essenciais como coleta e armazenamento de dados, mapeamento da cobertura vegetal e da biodiversidade e monitoramento de áreas de dimensões continentais.

A certificação desse tipo de projeto passa por quatro etapas fundamentais: diligência documental (análise legal), inventário florestal (que envolve o envio de técnicos para medição manual das árvores, com fita métrica), auditoria e emissão de créditos (depois da aprovação do projeto). Fica fácil imaginar que a adoção de metodologias e ferramentas digitais simplificaria muito essas tarefas, agilizando, por exemplo, a coleta e a verificação de dados, com redução de tempo e de custos. O uso exclusivo desse modelo analógico não é mais viável, considerando que na floresta há milhares de propriedades de áreas remotas, onde só se chega em longas viagens de barco ou por aeronaves de pequeno porte, e imensas áreas de mata fechada.

Perpetuar essa situação significa perder oportunidades oferecidas por uma demanda que aumenta exponencialmente. Travar os projetos mantendo processos e metodologias reféns de trabalho manual é um contrassenso diante da urgência do combate às mudanças climáticas e da preservação da biodiversidade. Isso sem falar que aumenta custos e limita a expansão da oferta de créditos de carbono exatamente em um momento em que mais pessoas e empresas querem comprá-los.

Na Amazônia, sem a adoção de tecnologias e ferramentas digitais, a análise de dados dos projetos geradores de créditos de carbono pode ter uma periodicidade anual, muito distante do desejável. A falta de um monitoramento em tempo real pode também prejudicar a credibilidade dos projetos e gerar incertezas para os compradores dos créditos em relação à integridade dos projetos de conservação.

Vale lembrar que os projetos REDD+ são importantes não apenas como um caminho para o combate às mudanças climáticas, à medida que representam alternativas de geração de emprego e renda para as comunidades locais. Mas, como em um círculo virtuoso, contribuem também com a agenda climática, por impedirem que os pequenos produtores rurais e proprietários de terras na Amazônia desmatem a floresta para plantar soja ou criar gado. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Serviço Florestal Brasileiro, cerca de 40% do desmatamento da Amazônia ocorre em pequenas propriedades rurais, em decorrência de falta de alternativas econômicas.

Estima-se que, apenas com a região amazônica, o Brasil poderia obter anualmente US$15 bilhões (2) em receitas com créditos de carbono oriundos de projetos de conservação florestal. Um dinheiro que de fato pode chegar, desde que o país consiga levar a tecnologia de ponta para o pé da floresta, onde ela é indispensável.

Luís Adaime, CEO e fundador da Moss.

Fontes de dados:

(1) Ecosystem Marketplace's State of the Voluntary Carbon Markets 2022 Q3 (volume de 2019 for US$ 282 milhões e US$ 2 bilhões em 2022)

(2) Ecosystem Marketplace: Brazil and the carbon markets

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.