Este é meu primeiro artigo na TI Inside e estou realmente empolgado em contribuir com os leitores deste veículo que todos respeitam e acompanham!
Para este início, escolhi o tema de multicloud, a questão que envolve todos nós, profissionais de TI. Se antes tínhamos praticamente uma ou no máximo duas opções, hoje temos uma boa variedade de opções de provedores de cloud computing. Saber escolher o melhor caminho nesse contexto de mercado é desafiador.
Mas entenda multicloud no seu contexto mais amplo: não imagine apenas ambientes fortemente acoplados em múltiplas clouds, por exemplo aplicação na nuvem A, bancos na nuvem B e AI na nuvem C. Pense também em ter nuvens diferentes para ambientes pouco acoplados ou até desacoplados, como o ERP (sistema integrado de gestão empresarial) na nuvem A e um sistema de RH na nuvem B. Na visão mais ampla de multicloud, ambos os cenários são possíveis.
Sem dúvida, considerar multicloud requer um reforço em sua gestão: contratos, sustentação, FinOps, segurança… A complexidade aumenta, obviamente. E os benefícios também. Quem já estava no mercado antes das nuvens, na década de 2000 ou mesmo antes, vai lembrar como definíamos uma matriz tecnológica: tínhamos várias opções e podíamos selecionar o melhor de cada fabricante. Escolhíamos os servidores e os discos– que não precisavam ser os mesmos do servidor. Aplicações, banco de dados, software de backup: decidíamos baseados numa visão de preço, performance, estratégia, conhecimento do time. Enfim, estávamos diante do mercado com liberdade de escolha.
Atualmente, mesmo com a estratégia de marketplaces – que nos permite adquirir soluções de terceiros embarcada numa determinada nuvem – a escolha é limitada e os preços também são, naturalmente, mais altos devido ao repasse dos provedores. E há vantagens inerentes de cada nuvem que não são transportáveis para as demais: um banco de dados nativo, uma solução de GenAI, e assim por diante.
Em resumo, a multicloud te permite (re)conquistar a liberdade de escolha. Reduz riscos de investir somente num provedor e permite escolher melhor. E, claro, negociar melhor.
Na Dedalus, atendemos centenas de clientes que são multicloud, alguns há anos. Na verdade, desde 2014, quando nos reposicionamos como sendo "cloud services broker", o termo que antecedeu "serviços multicloud", mas significava fundamentalmente o mesmo; viemos acumulando clientes que optaram por essa forma de consumir nuvem. Não temos, que eu me lembre, clientes insatisfeitos com esse modelo. Houve um único incidente de disponibilidade num cliente que eu me lembre – que passou a contar conosco após o incidente e por causa dele.
O hype só aumenta à medida que mais provedores têm maturidade em suas ofertas para serem confiáveis a ponto de atender ao mercado corporativo. Então, hoje podemos contar com pelo menos quatro grandes provedores para plataforma de cloud (IaaS e Paas), seguidos de mais meia dúzia de outros provedores que investem para conquistar a liderança. Para SaaS há ainda mais opções, obviamente atendendo a necessidades mais amplas de software. A realidade é que não faz mais sentido comprar software que não seja SaaS há anos.
O multicloud resgata uma situação desejável que tínhamos antes. Não é saudosismo, estamos muito melhor com cloud, mas alguns elementos do passado foram conquistas que valem ser preservadas. E como naquela época, onde tínhamos integradores que asseguravam a operação correta de um ambiente com múltiplos fabricantes (e a Dedalus era líder naquilo), para multicloud você terá de considerar a sustentação, seja sozinho, com uma equipe multidisciplinar, ou por meio de empresas que ofereçam serviços multicloud. Com tais investimentos, os resultados aparecem rapidamente.
Nossos clientes sempre ressaltam dois resultados muito positivos do multicloud: a liberdade de escolha, como comentei acima (e o consequente poder de negociação) e a capacidade de usar o melhor de cada provedor. Sim, utilizam serviços multicloud, garantindo uma sustentação robusta em monitoração, gestão de custos, segurança, performance e continuidade de negócios. Mas mesmo que você tenha uma única cloud, deveria estar investindo nesses elementos.
E o que vem pela frente? Cada provedor tem suas vantagens inerentes e tem, portanto, seus benefícios. Cada vez mais faz sentido usufruir dessa variedade. E o acoplamento nativo de comunicação entre eles, que está por volta de um milissegundo hoje, permite de fato sistemas que se espalhem entre várias nuvens. Em PoC recente, conseguimos melhor performance de comunicação num sistema multicloud do que dentro da mesma nuvem! Esses processos evolutivos e de interoperabilidade devem se aprofundar nos próximos anos.
Sim, confio em multicloud, faz sentido para mim e para minha empresa. Não encontrei nenhum caso que me indicasse o contrário – mas sempre estou aberto a aprender. Afinal, trabalhar com tecnologia é reconhecer, humildemente, a evolução de conceitos e de possibilidades.
Maurício Fernandes, CEO e fundador da Dedalus.