Uma radiografia do setor de tecnologia no durante e pós-crise

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As ações das empresas de tecnologia já perderam cerca de metade do seu valor desde que começaram as turbulências no mercado em decorrência da crise financeira mundial. Sem nenhum indicativo de que as oscilações nas bolsas mundiais arrefecerão no curto prazo, analistas ouvidos pelo The Wall Street Journal não descartam que os papéis das companhias do setor possam ter outros 50% de queda.
Calcula-se que a Intel tenha perdido 50% desde o fim de outubro de 2007, quando o mercado acionário global atingiu o ponto máximo. Apesar da queda, as ações da gigante do chip tiveram um comportamento melhor do que outras notáveis do setor de tecnologia. Os papéis do Google, por exemplo, caíram 64%, enquanto os da fabricante finlandesa de celulares Nokia desabou 65% e a empresa de varejo on-line Amazon.com recuaram 52%.
A atual "queima de estoques", uma das mais intensas da história, levou algumas ações de tecnologia, como as da fabricante de computadores Dell e do Yahoo, aos níveis mais baixos em cerca de uma década. Outras, como as da Motorola e da fabricante de dispositivos móveis Palm, tiveram o preço corroído. O Google foi a única empresa de tecnologia a obter cerca de US$ 100 bilhões em capitalização desde que o mercado começou a se retrair.
Por trás da queda generalizada estão as preocupações dos consumidores e das empresas com a rápida desaceleração da economia global. A grande maioria apertou o cinto e passou a reduzir os gastos com novos computadores, telefones celulares, bem como softwares. Muitos economistas prevêem que a recessão econômica decorrente da crise financeira seja ainda mais profunda e longa do que as anteriores.
A última grande retração do mercado mundial ocorreu entre março de 2000 e outubro de 2002. Naquele período, o Nasdaq Composite Index, o principal índice de ações negociadas na bolsa eletrônica norte-americana, que reúne os papéis das principais empresas de tecnologia e internet, desabou 78% desde sua melhor alta de todos os tempos, de 5048,62. A título de comparação, agora, cerca de um ano de queda nos preços das ações, o índice da Nasdaq perdeu 49%.
"Estamos apenas nas fases iniciais dos múltiplos trimestres e de uma possível recessão plurianual", alertou Louis Misclocia, analista da Cowen & Co, em entrevista ao jornal americano.
Se o mercado atual seguirá o mesmo padrão da queima de estoques anterior ainda é uma questão aberta. Além disso, os problemas de mercado nunca ocorrem exatamente da mesma maneira. A recessão de 2000-2002 foi provocada em grande parte pelo estouro da bolha da bolha da Internet e ficou concentrado no setor de tecnologia. Como os investidores perderam a confiança nas empresas de tecnologia, isso acabou reduzindo a exposição do setor.
É claro que isso não significa que as ações de tecnologia serão poupadas. Analistas dizem que a desaceleração anterior ajuda a dar uma visão sobre o modo como a crise atual irá se desdobrar. Eles estão olhando para uma série de índices, como o número de falência de empresas e estatísticas de emprego, para sinalizar o momento em que o mercado chegou ao fundo do poço para a retomada. Um pico de falências poderia sugerir que o fim está próximo. Mas durante os primeiros seis meses deste ano, 18.474 falências foram arquivadas, de acordo com o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, sugerindo que esse processo ainda tem um longo caminho a percorrer antes de atingir níveis registrados na década anterior. A empresa de pesquisas Jupiter Research prevê que o total de falências terá um crescimento de 24%, para 1,1 milhão, até o fim do ano naquele país, e estima que continuem a aumentar em 2009.
Os analistas também estão olhando para os dados do desemprego. Durante a última crise, o número de demissões no setor de tecnologia saltou de 70,7 mil em 2000 para 695 mil em 2001, além de mais 468 mil em 2002, segundo a Challenger, Gray & Christmas. Neste ano, ela prevê que o número de cortes na indústria de TI deve chegar a 140 mil, o mais alto em quatro anos, mas ainda longe dos níveis de 2000-2002.
Os lucros são outra área de preocupação. Segundo levantamento com as 500 empresas do ranking da Standard & Poor os ganhos diminuíram durante cinco trimestres consecutivos e quase todas dizem não ter idéia sobre o que esperar do futuro. Isso significa que, embora as ações da tecnologia ainda não tenham registrado quedas semelhantes às ocorridas entre 2000 e 2002, há a probabilidade de que venha a cair mais.
As empresas que têm muito dinheiro em caixa e com posição de liderança em seus setores vão sair da recessão mais forte do que suas concorrentes e verão suas ações se recuperaram mais rápido, embora elas provavelmente não sejam poupadas no curto prazo. Isso porque elas podem usar o dinheiro para comprar empresas vulneráveis com produtos ou serviços atrativos. E, ao contrário da concorrência, essas empresas também serão capazes de continuar a investir em pesquisa e desenvolvimento, criando novos produtos que irão ajudar no crescimento quando a recessão acabar. Durante a última recessão, a Apple, por exemplo, desenvolveu o iPod, e na da década de 1970 uma série de empresas de tecnologia desenvolveram o videotape, criando um novo mercado e receitas que turbinaram sua rentabilidade.
Analistas dizem que empresas fortes, como o Google e a HP, provavelmente irão seguir dominando em seus setores. Com dinheiro, extensas linhas de produtos e alcance global, essas empresas irão controlar a maior parte dos seus mercados, deixando um punhado de empresas lutando para sobras do mercado. A telefonia móvel, a eletrônica de consumo e o comércio eletrônico são excelentes setores candidatos a um crescimento acelerado no período pós-recessão.

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