No mundo corporativo contemporâneo, no qual a agilidade, a colaboração e a inteligência emocional se tornam cada vez mais essenciais, muitos gestores e executivos se veem em busca de novos modelos de liderança e autodesenvolvimento. Sermos líderes melhores e capazes dentro de uma realidade, muitas vezes, confusa, incompreensível, inesperada e em constante mudança é um desafio permanente.
A informação está à disposição de todos. Em grande volume e nem sempre na mesma medida de qualidade. Por isso, costumo dizer que liderar é ter a capacidade de fazer sinapses. Ou seja, de compor um entendimento, conectando dados, gerando conhecimento e diferenciação.
Para encontrar esse caminho, entendo que é preciso um equilíbrio fino dos 3 Hs: head, heart e hand (cabeça, coração e mão). Explico: quantas vezes você conversou com pessoas tecnicamente muito capazes, mas com nenhum envolvimento real com o assunto ou com pouca orientação sobre a execução?
Então, como líder, eu busco, há muito tempo, me guiar pelos três Hs, exercitando a presença e a escuta ativa. Quando converso com alguém, estou genuinamente envolvido com aquele momento. Ser íntegro, ser genuíno e se dedicar às pessoas de verdade são as bases do que eu entendo como liderança.
Nesse sentido, um livro que li recentemente reforçou certos conceitos e ampliou minha visão sobre a influência e a potência de gestores junto a seus times: "Os Quatro Acordos", do mexicano Don Miguel Ruiz. Embora tenha sido escrito com base na sabedoria ancestral dos Toltecas e publicado em 1997 (quase 30 anos!), seus ensinamentos se mostram profundamente relevantes e atuais para os desafios que líderes e profissionais enfrentam no ambiente de trabalho contemporâneo.
Os quatro princípios apresentados por Ruiz não apenas promovem um caminho para o autoconhecimento e a transformação pessoal, mas também oferecem uma base sólida para a criação de um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e colaborativo.
Compartilho com vocês abaixo os principais pontos:
1. Seja impecável com sua palavra: a liderança que inspira
O primeiro acordo é "Seja impecável com sua palavra" e trata do poder da comunicação. No ambiente corporativo, uma comunicação clara, honesta e ética não só previne mal-entendidos como também constrói confiança. Líderes coerentes cumprem suas promessas, comunicam-se de maneira transparente e evitam o uso da palavra de forma destrutiva, seja com críticas negativas ou fofocas.
Em um cenário de trabalho híbrido e digital, em que as interações são muitas vezes mediadas por telas, isso ganha ainda mais peso. Liderar de forma impecável exige que os líderes estejam conscientes do impacto que suas palavras têm sobre suas equipes, sejam em uma reunião virtual ou em uma troca rápida de mensagens. A honestidade e a clareza são habilidades cada vez mais valiosas para inspirar respeito e colaboração em um ambiente de trabalho complexo e globalizado.
2. Não leve nada para o lado pessoal: resiliência e inteligência emocional
O segundo acordo talvez seja o mais complexo porque exige manejar o ego e o autoconhecimento. "Não leve nada para o lado pessoal" oferece uma poderosa lição para os líderes do futuro, especialmente no contexto de um mundo corporativo que está em constante transformação e cheio de desafios, o que nos deixa mais vulneráveis e, muitas vezes, temerários.
No dia a dia profissional, é comum que críticas ou feedbacks sejam tomados de forma pessoal, levando a reações impulsivas ou até a bloqueios emocionais. Quem já não assistiu a uma cena dessas acontecendo na sua frente ou sentiu isso na pele?
Para liderar de forma eficaz, é essencial cultivar a resiliência emocional e a capacidade de separar suas emoções pessoais das situações profissionais. Parece mais difícil do que é. Pense: quando um líder entende que as ações e palavras dos outros muitas vezes refletem suas próprias inseguranças ou necessidades, e não algo contra si, ele é mais capaz de manter a calma e tomar decisões racionais, o que é fundamental para gerir equipes e lidar com a pressão. Essa habilidade – de não tomar as coisas de forma pessoal – é também um modelo que pode ser transmitido à equipe, criando um ambiente onde todos se sintam mais seguros para dar o melhor de si, sem medo de falhas ou julgamentos.
3. Não faça suposições: comunicação transparente e colaborativa
Mais um ponto ligado à comunicação, neste caso, mais ao nosso hábito de presumir. O terceiro acordo, "Não faça suposições", aponta para a tendência humana de preencher lacunas de informação com suposições, algo que pode gerar, mais uma vez, mal-entendidos e conflitos. No ambiente de trabalho moderno, em que as equipes muitas vezes são multiculturais, diversas e distribuídas, a comunicação é parte essencial do sucesso.
Os líderes do futuro precisam cultivar a prática de questionar e esclarecer antes de assumir o que os outros pensam ou querem. Uma cultura organizacional que valoriza a transparência, o questionamento saudável e o compartilhamento claro de expectativas pode prevenir a criação de falsas narrativas, melhorar o trabalho em equipe e aumentar a produtividade. Além disso, com a crescente complexidade dos mercados e a rapidez das mudanças, o líder deve saber se adaptar e buscar a verdade por meio da colaboração, evitando que suposições imprecisas prejudiquem decisões importantes.
4. Sempre faça o seu melhor: cultura de excelência e autodesenvolvimento
O último acordo, "Sempre faça o seu melhor", está diretamente relacionado com a busca pela excelência pessoal e organizacional. Em um mundo corporativo em que o conceito de "carreira" está se transformando e a aprendizagem contínua é a chave para a longevidade profissional, o compromisso de sempre fazer o seu melhor não significa perfeição, mas sim a dedicação constante ao autodesenvolvimento e ao aprimoramento das habilidades.
Líderes que praticam esse princípio e o fomentam junto aos seus times mostram que o foco não está no resultado final perfeito, mas na melhoria contínua e na capacidade de aprender com os erros e acertos. (Escrevi um pouco mais sobre erros aqui.)
Além disso, ao incentivar suas equipes a fazerem o seu melhor, sem a pressão de um padrão de perfeição irreal, os líderes contribuem para uma cultura organizacional mais saudável, que preserva a saúde mental dos colaboradores e onde o erro é visto como uma oportunidade de crescimento, e não como uma falha.
Esse é um breve resumo da obra de Ruiz, que convido você a explorar com mais profundidade. Aqui, minha provocação a você é refletir sobre como, à medida que o futuro do trabalho evolui, as habilidades de liderança também precisam se transformar. Não podemos mais sermos apenas gestores de tarefas, presos em microgerenciamentos.
Os Quatro Acordos não traz nada disruptivo ou impossível, mas reúne conceitos que, se operados em sintonia, oferecem um caminho para uma liderança genuína, resiliente e efetiva: comunicação impecável, inteligência emocional, busca por clareza e excelência contínua. Essas são práticas que não apenas melhoram a liderança individual, mas também têm o poder de transformar a cultura organizacional.
Washington Botelho, Presidente da JLL Work Dynamics para a América Latina.