O que você diria se alguém instalasse uma câmera apontada para a porta da sua casa e registrasse todos os momentos em que você entra e sai de casa? E se esta câmera fizesse parte de um conjunto maior, capaz de registrar não só os momentos em que você sai, mas também todos os lugares onde foi, o que você fez e as pessoas com quem esteve? Independente do que você faz ser politicamente correto ou não, sua privacidade e segurança estão obviamente em cheque.
A questão é que o parágrafo anterior não é ficção científica, em analogia à obra de George Orwell em seu clássico "1984". O texto descreve o que acontece hoje no nosso mundo virtual. Espalhados pela internet estão os registros de toda a nossa atividade na grande rede, como por exemplo:
Horário em que entramos e saímos da rede;
Sites que visitamos;
Vídeos que assistimos;
Produtos que clicamos;
Pessoas com quem nos relacionamos;
Assuntos que nos interessam;
Cidade em que moramos;
Nossa idade;
E infinitas outras informações pessoais capazes de descrever nossas personalidades e padrões de comportamento.
Até pouco tempo, a não organização destas informações atuava como uma proteção ao nosso anonimato. Com a explosão das redes sociais online, estas informações estão ficando cada vez mais disponíveis e organizadas.
Voltando para o exemplo do mundo real, é como se fosse apresentada uma proposta para instalar uma câmera dentro da nossa casa. Esta câmera permitiria vermos a família quando não estivéssemos em casa e, a qualquer momento, saber se está tudo bem com ela. Poderíamos até pedir a um amigo de confiança que desse uma olhada de vez em quando em algumas das imagens para ver se está tudo bem. O lado cruel é que a proposta não mencionaria que outras pessoas desconhecidas também poderiam, através das câmeras, monitorar o que EU e minha família fazemos.
Que tal agora, reler o parágrafo anterior substituindo a palavra "câmera" por "rede social online"?
Ok! O risco está claro, mas o objetivo não é criar pânico. O que precisamos saber é que isto existe e a navegação na internet não é um ato anônimo. Uma vez conscientes disto, podemos passar a pensar nos benefícios que esta tendência traz.
Big data não é, por concepção, uma ferramenta para simplesmente gerenciar dados humanos. Segundo Viktor Mayer-Schonberger e Kenneth Cukier, em seu livro "Big Data: A Revolution That Will Transform How We Live, Work, and Think", o big data se refere a processar grandes volumes de informação e tirar conclusões que não seriam possíveis em baixa escala. Este conceito é aplicável a qualquer tipo de informação. O big data pode, por exemplo, ser utilizado para:
Identificar tendências de fraudes em operações financeiras;
Monitorar a percepção de qualidade de clientes em relação a uma marca;
Tirar conclusões sobre trânsito em grandes centros com base nas informações de localização de telefones celulares;
Identificar riscos de atentados à segurança com base nos padrões de posts nas redes sociais.
O processamento de big data pode otimizar trabalhos estatísticos em geral, que hoje dependem de longos períodos de levantamento de dados em campo. Neste sentido, uma grande mudança conceitual reside no fato do big data analisar eventos em andamento, enquanto grandes estudos estatísticos revelam uma situação já ocorrida, já que um estudo estatístico com milhões de amostras pode consumir semanas ou meses entre coleta e análise de dados.
Enfim, big data, como toda tecnologia em si, pode ser aplicada em favor da sociedade ou contra ela. Na conhecida definição que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose, estamos frente a uma poderosa ferramenta capaz de beneficiar a qualidade de vida humana. Resta cuidarmos, enquanto sociedade, para que sua utilização seja de fato positiva.
*Vinicius Soares da Silveira, gerente de Produtos da Leucotron