Não é de hoje que se fala da responsabilidade que as empresas têm com aspectos que envolvem a sociedade na qual elas estão inseridas. Evoluímos nos termos (Responsabilidade Social, Sustentabilidade, ESG), evoluímos nos formatos, nas ações e nos resultados. O que hoje chamamos de ESG (Environmental, Social and Governance) é uma área que vem se estruturando ao longo dos anos, ganhando novos patamares, objetivos e visões. O que ainda observo, porém, é que a complexidade desse tema – que de fato não pode ser encarado de forma rasa – muitas vezes faz com que fundadores e gestores de startups se vejam distantes dele, quando suas empresas são pequenas ou até médias.
Está muito claro que os chamados ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) – termo criado pela ONU que representa os desafios a serem endereçados por todas as companhias até 2030, no sentido de desenvolvimento sustentável – estão sendo trazidos de forma intensa para o universo de startups, em especial por meio do desenvolvimento cada vez maior de empresas tech de impacto e/ou pelas necessidades de soluções que as startups podem criar para problemas ambientais e sociais.
Mesmo aquelas que não são voltadas para ESG, pelo fato de serem fornecedoras de grandes corporações que já firmaram suas metas de zero carbono para os próximos anos, são convidadas a olhar para esse ponto. Além disso, muitos investidores são atraídos para os fundos ESG, porque querem ter certeza de que seu dinheiro está sendo usado de forma alinhada aos seus valores, o que vai também significar maior necessidade de adaptação das startups a esse novo contexto global.
Tendo essa visão do mercado e entendendo que ESG não é algo que cabe apenas nas grandes empresas. De 2022 para cá, tivemos na Triven um interesse mais intenso no tema. Partindo dos três pilares – ambiental, social e governança -, passamos a olhar para dentro de casa para entender o que já tínhamos de potencial e os pontos que precisamos desenvolver, considerando nosso contexto como empresa que está no limite entre pequeno e médio porte.
Sob o ponto de vista de governança, há alguns anos já tínhamos um processo e uma sistemática muito bem estruturada, com dinâmicas desde o nível operacional até os níveis estratégicos e societários. A governança, de certa forma, está no DNA da Triven, porque o setor financeiro precisa desse olhar para funcionar de forma eficiente. Mas, ainda assim, encontramos pontos a avançar e conseguimos estruturar algumas ações, como um Conselho Consultivo e uma política de partnership, com direitos e deveres muito bem delimitados e ritos internos bem claros e organizados.
Foi no pilar social que tivemos mais evoluções nesses últimos anos. Começamos com a criação, em 2022, do nosso Código de Ética e Conduta, além de termos instituído o Comitê de Ética e Conduta, formado por pessoas do time, para apoiar a alta gestão nas recomendações de ações e monitorar comportamentos da nossa equipe que fogem dos nossos valores.
Um ponto essencial para que pudéssemos ampliar nossa atuação nesse aspecto foi encontrar um parceiro que facilitasse o direcionamento das ações e prioridades. Firmamos, então, uma parceria muito importante com a Orpas, uma ONG de transformação social, e já temos ações em curso no sentido de colaborar na promoção da inclusão dentro e fora da Triven.
Nos últimos 12 meses, tivemos alguns desafios internos que nos fizeram perceber que precisávamos nos letrar acerca das questões raciais, étnicas e sociais, e entendemos que estava mais do que na hora de trilharmos um novo e grandioso caminho, que precisa ser feito em pequenos passos. Assim, promovemos um curso de letramento racial para todo o time e iniciamos a divulgação de vagas afirmativas para pessoas negras, dando start em um processo de diversificação do nosso time.
Também entendemos que não basta olhar para dentro, mas que também já é tempo de nos voltarmos para fora e oferecermos algo a mais para a sociedade. E a Orpas e seu fundador, Daniel Farias, se tornaram esse canal. Estamos desenhando uma série de iniciativas conjuntas. Nos tornamos, por exemplo, apoiadores do Troféu Periferia e da Aceleradora de Negócios Árvore Preta.
O que já descobrimos nesse caminho é que é preciso começar olhando para dentro e agindo no que precisa ser melhorado para que a empresa se torne mais diversa e inclusiva, dando pequenos passos para a promoção dessas mudanças. Depois, entendemos que existem várias formas de contribuir com iniciativas sociais – financeiramente, com certeza, mas também com dedicação de tempo, compartilhamento de conhecimento, estímulo do time para engajamento etc.
Em resumo, o que posso dizer é que entendemos que ESG não é algo distante para pequenas e médias empresas, algo que vemos de longe acontecendo apenas nas grandes corporações. Precisamos começar com o simples, expandindo nossa visão e atuação, e as startups, que estão no centro da inovação e tecnologia do mundo, não podem ignorar esse movimento. Muitas estão fazendo a diferença, inclusive com produtos e serviços que trazem impacto direto na sociedade. Quem ainda não olhou para isso, porém, precisa começar logo. E o melhor é que é possível começar pelo simples.
Fernando Trota, CEO da Triven.