A quantidade exagerada de pós-graduações e especializações somadas à massificação de oportunidades que o mercado vem oferecendo — ou dizendo que oferece —, vem gerando uma nova modalidade de profissionais. Eles estão, em sua maioria, na faixa entre os 20 e 40 anos e, em 100% dos casos, não conseguem ter visão do momento da vida profissional em que se encontram, nem dos passos que terão que trilhar para assumir a posição que desejam. Isso porque estão trocando algo que conhecem há muito tempo por uma nova carreira que acham que gostam.
A única certeza que eles acham que tem é que serão mais bem remunerados. Acreditam que para conquistar a oportunidade oferecida pelo mercado basta, simplesmente, chegar a uma instituição e escolher uma especialização.
Na enorme maioria das instituições, se este candidato tiver um curso de graduação, nem que seja de corte e costura, ele estará matriculado. O tempo passa, o curso chega ao fim, o aluno todo feliz e cheio de esperanças acredita que está apto a se candidatar para a tão sonhada vaga, onde ele fará algo muito diferente do que faz hoje e, principalmente, ganhará mais.
Para encontrar essa vaga, as atitudes são sempre as mesmas: o primeiro passo é encharcar o mercado com uma chuva de currículos, depois é descobrir quem conhece o selecionador ou o executivo responsável pela vaga e pedir o favor de colocar o currículo nas mãos dele. Um mês, dois meses, três meses e nada! A frustração começa a bater, mas a vontade de mudar de área é maior e a possibilidade de entrar em uma nova carreira ganhando mais é maior ainda.
Muda-se de estratégia, fala-se com amigos e, na maioria das vezes, não aparece nenhum amigo de fato para dizer simplesmente a verdade: o que você esta querendo não vai acontecer.
Diferente do que muitos vendem e a maioria compra, ter um bom diploma de especialização não garante o sucesso na mudança de carreira. Muitos pensam que é possível, com uma especialização, mudar de carreira sem ter perda financeira. Acontece que para se saltar para outra área onde se é um mero desconhecido, a perda financeira é inevitável. E muitos profissionais não podem se dar ao luxo de recomeçar com um salário de iniciante.
A frustração é enorme. A certeza é que se jogou tempo e dinheiro no lixo, a impressão é que o curso feito não servirá pra nada. E a grande decepção é porque ninguém orientou no momento correto? A resposta é muito simples, a grande maioria das instituições de ensino está preocupada em ter alunos e não em capacitar profissionais. Não importa qual a especialização o profissional terá e se ela faz sentido ou não. O que importa é saber se ele tem dinheiro para pagar o curso que escolheu.
Se esse é o seu caso, não precisa cortar os pulsos nem pensar que terá que morrer em uma carreira que não gosta só porque está em uma faixa salarial que aparentemente é impossível de ser atingida em curto prazo caso mude de carreira. O que precisa ser feito, como em tudo na nossa vida, é planejar.
Se depois de alguns anos de carreira você descobrir que não gosta mais de fazer o que faz e quer buscar outra oportunidade como, por exemplo, sair da área de Infraestrutura de TI e migrar para analista de BI (business intelligence), é possível fazer esta transição sem perdas salariais.
O primeiro passo é o fundamental: a nova carreira escolhida te dá prazer ou é apenas mais um embalo ou uma moda? Definido o que realmente é desejado, faça uma pesquisa, converse com especialistas no setor, gente que faz isso há muito tempo. Como eu falei em artigo anterior, use as redes sociais de maneira inteligente, contate os profissionais e pergunte o que faz o que é bom e o que é ruim, qual é a real demanda do mercado e, fundamentalmente, garanta que você goste do que fará.
Convicto da escolha, procure no mercado quais são as instituições sérias que oferecem a especialização que você busca. Não esqueça: um sobrenome acadêmico de peso faz diferença no momento da escolha do profissional. Você já sabe que se formar e sair se aventurando traz um resultado normalmente desastroso. O que precisa saber é se a empresa que você trabalha poderá gerar a oportunidade que você almeja. Se ela puder, procure os gestores da área e verifique a real possibilidade de você migrar para onde almeja. Não acredite em promessas, acredite em fatos, verifique o tamanho da área e quantas vezes já aconteceram migrações de área semelhantes a que você pretende fazer.
Se de fato aconteceu, sua transição será mais simples, até porque você não terá perda salarial mudando de uma área para a outra, e conseguira realizar seu desejo.
Alguns cuidados são importantes: verifique as diferenças salariais e a maneira da transição; se você for alocado em projeto com um salário muito diferente dos outros profissionais, terá uma boa possibilidade de ser cortado em breve. Lembre você ainda não é sênior, mas tem salário de um. Projeto normalmente é um lugar instável, reduzir custos é sempre o alvo preferido dos gerentes, imagine nesta situação quem será um forte candidato ao corte? O ideal é ir para uma área de operação, onde o seu custo será diluído e você não se transformará em alvo de cortes.
Entretanto, se a sua empresa não tiver uma área onde exista o cargo que você almeja, não há outra saída: terá que olhar o mercado, mas não para a posição que deseja e sim para aquela posição onde hoje você já é sênior, até porque perder dinheiro na transição você não quer.
Identifique uma boa quantidade de empresas que possuam oportunidade na área que você deseja. Novamente procure empresas que tenham operação e não projetos, até porque o momento de transição e amadurecimento demora um pouco e você não pode ser dar ao luxo de diminuir seus rendimentos.
Uma vez identificadas as empresas é hora de executar o planejado: contate os profissionais destas empresas e entenda as oportunidades, como a empresa atua sua política e possibilidades. Tudo mapeado vamos ao passo seguinte: conseguir uma oportunidade para o que você é sênior nas empresas mapeadas.
Nova empresa, vida nova. Você ainda não esta onde quer, mas está bem mais perto: seu curso de especialização está em andamento, seu nível de satisfação se mantém alto e agora o próximo passo é conhecer e se vender para o gestor da área que você tanto deseja. Evidente que esta venda não acontece do dia para a noite, mas agora você sabe que tem uma enorme possibilidade de acontecer.
Boa sorte!
* Alberto Marcelo Parada é formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPM-Braxis, Fidelity, Banespa, entre outras. Atualmente integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, além de ser diretor de projetos sustentáveis da Sucesu-SP.