Projetos de alto risco em tecnologia são frequentemente percebidos como complicados, mas essa não é sempre a realidade. É essencial distinguir entre "complexo" e "complicado", dois termos muitas vezes usados de forma intercambiável, mas que, na verdade, descrevem situações bastante distintas. O líder tecnológico tem a tarefa crítica de esclarecer essa diferença, especialmente quando se debate um projeto de alto risco e impacto significativo nos negócios. Diferenciar "complexo" de "complicado" é mais do que semântica; é uma necessidade crítica para líderes que navegam na vanguarda da inovação tecnológica, particularmente os CIOs, que estão cada vez mais sob a pressão de transformar insights em ações em um mercado que não perdoa atrasos.
Mas o que realmente significa algo ser complexo? A complexidade está relacionada a sistemas ou problemas que englobam múltiplas partes interconectadas, capazes de gerar resultados imprevisíveis e emergentes, que variam principalmente de acordo com a maturidade das equipes envolvidas no projeto. Por outro lado, um problema ou sistema é considerado complicado quando consiste em várias partes que funcionam de maneira linear e previsível, permitindo soluções claramente definidas e detalhadas.
Complexidade fala sobre COMO e Complicado fala sobre QUANDO.
Se você quiser pensar nesse conceito como matemática, o conhecimento do time de tecnologia funcionará como um dos elementos que, somados, resultará no denominador dessa fórmula.
Nesse contexto, surge uma pergunta provocativa: estamos preparando nossos profissionais e nossas organizações para navegar na complexidade com a mesma eficácia com que abordamos situações complicadas? A resposta a essa pergunta pode moldar o futuro das empresas no cenário tecnológico atual.
Projetos de tecnologia de alto risco, como os envolvendo inteligência artificial, tendem a inclinar-se mais para a complexidade, desafiando os limites do conhecimento existente e exigindo que as equipes dediquem mais tempo para expandir sua compreensão e reduzir incertezas. Aqui, a inovação e seus frameworks correspondentes desempenham um papel vital, transformando a maneira como os projetos são explorados, diferenciando-se da abordagem tradicional na resolução de problemas.
Além disso, como as equipes de tecnologia estão se adaptando às exigências de um ambiente cada vez mais complexo? Investimentos substanciais são feitos em aprendizado e desenvolvimento tecnológico, mas será que o mesmo nível de atenção está sendo dado ao cultivo de habilidades interpessoais críticas, como adaptação e resiliência?
Projetos de alta complexidade, não apenas exigem um maior grau de adaptação por parte das equipes de TI, mas também apresentam uma oportunidade única de crescimento e inovação. A adaptação, portanto, não deve ser vista apenas como uma necessidade, mas como um diferencial estratégico que pode definir o sucesso no longo prazo.
O papel dos líderes de tecnologia é crucial nesse cenário. Eles não só precisam navegar pela complexidade dos projetos, mas também devem ser capazes de comunicar sua visão, explicando claramente os potenciais ganhos, riscos e as adaptações necessárias. Como esses líderes estão desmistificando a complexidade para suas equipes e stakeholders? Como estão garantindo que a complexidade seja vista não como uma barreira, mas como um catalisador para a inovação?
Em um mundo onde a velocidade da mudança é bem rápida, projetos complexos requerem uma abordagem dinâmica. Estratégias ágeis e adaptativas permitem que as equipes testem rapidamente suas ideias, aprendam com os erros e se ajustem de forma eficaz. Mas, além de gerenciar a complexidade, é igualmente importante reconhecer e simplificar o que é apenas complicado.
Identificar áreas onde a complexidade é percebida, mas não real, pode ser transformador. Simplificar processos, eliminar redundâncias e esclarecer objetivos não só otimiza recursos, mas também direciona a atenção e os esforços para os verdadeiros desafios.
Ao aceitar e abraçar a complexidade, podemos desbloquear um potencial incrível para inovação e avanço. Os projetos que emergem desse entendimento não são apenas soluções temporárias, mas faróis que guiam o caminho para o futuro, iluminando as possibilidades ilimitadas que a tecnologia e a inovação podem oferecer.
Encarando a complexidade não como um obstáculo, mas como um campo fértil para inovação, redefinimos a maneira como abordamos os desafios tecnológicos de alto risco. Ao compreender que complexo não é complicado, abrimos as portas para um futuro em que a curiosidade, a adaptabilidade e a inovação não são apenas valorizadas, mas essenciais para navegar no dinâmico mundo da tecnologia.
Wilian Domingues, Professor de MBA USP ESALQ.