"Aprender é a única coisa que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende" Leonardo da Vinci (1452-1519).
Esta talvez seja a conclusão do gênio universal para explicar sua própria capacidade em absorver tanto conhecimento em tantas áreas da ciência num período tão curto de tempo, ou seja, uma vida.
Desde a época em que a humanidade ainda desenhava os caminhos para a definição dos conceitos dos sistemas da sociedade moderna, até os dias de hoje, muito se investiu em sistemas de ensino e educação em massa e isso certamente foi o propulsor da fantástica evolução dos povos e suas nações.
A ciência que rege a nossa própria existência foi, em grande parte, desvendada e sua aplicação na longevidade e conforto jamais seria utilizada se o conhecimento não fosse compartilhado com a grande massa.
Isso significa que é cada vez maior a dependência de um país por eficiência e capacidade de disseminar o conhecimento. Os países que melhor desenvolverem sistemas de ensino e educação estarão mais abertos a receber os resultados da evolução da humanidade e estarão mais aptos a garantir condições de vida aos seus habitantes.
Não é novidade a nenhum brasileiro a deficiência de nosso país na capacidade de levar conhecimento e educação a sua população. Seja por falta de politicas adequadas ou por falta de investimento, ainda não desenvolvemos sistemas de educação adequados a nossa realidade e, assim, estamos atrás na corrida do desenvolvimento.
Neste momento em que o Brasil atravessa fase de crescimento econômico, estamos sentindo claramente o resultado da ineficiência do sistema educacional brasileiro, pois há falta mão de obra especializada em diversos setores para levar adiante as conquistas do crescimento econômico e isso poderá ser um dos entraves para a continuidade do crescimento devido à perda de produtividade e competitividade de nossas empresas em relação a seus pares em outros países.
Há algum tempo, escrevi um texto onde citava a lei de informática no Brasil, vigente até o final dos anos 80 como um dos responsáveis pelo atraso tecnológico do país. Entre outras coisas, disse que a lei fracassou por não ter sido acompanhada por uma política educacional para desenvolvimento de profissionais para o setor, principalmente para a indústria de software.
Não por acaso, é justamente no setor de tecnologia que nos deparamos hoje com um dos maiores déficits de mão de obra especializada. Segundo dados de pesquisas, até 2014 haverá necessidade de 80 a 90 mil novos profissionais de TI, mas apenas 35 mil estarão entrando no mercado.
Segundo estes dados, as maiores demandas de profissionais de TI por função, entre 2003 e 2010, foram: analista desenvolvedor de sistemas, analista de suporte, programador de sistemas de informação, técnico em manutenção de equipamento, help desk e engenharia da computação. Esses cargos representam 93% das contratações no país.
Outro problema apontado pela pesquisa é o índice de evasão escolar, que nestes cursos é superior a 60%, o que pode significar deficiência de direcionamento do ensino básico para os cursos do setor. Além disso, o Brasil possui muito mais instituições privadas do que públicas que oferecem cursos de TI, o que também pode explicar a forte evasão, seja pela qualidade do ensino, como pela incapacidade do aluno em cobrir as despesas ao longo do curso. Das 584 instituições de curso superior relacionados a TI, 478 são privadas, ou seja, 84,6% das universidades são pagas.
Em decorrência desta situação, os salários de TI crescem acima da inflação na maioria dos estados brasileiros desde 2003 e assim a remuneração média da área é quase o dobro da nacional, o que também impacta na competitividade das empresas brasileiras por aumento de seus custos administrativos.
Para os distribuidores especializados em TI, a carência de mão de obra especializada afeta diretamente o preenchimento dos quadros de especialistas de produtos e de técnicos de manutenção de equipamentos. Já nos revendedores, é flagrante a falta de técnicos e de prestadores de serviços de instalação e configuração de equipamentos e softwares.
Indiretamente, a consequência é bem mais séria, pois afeta principalmente a decisão de investimento das corporações e o tempo de conclusão dos projetos, impactando diretamente na demanda dos negócios do setor.
Diante da situação, muitas alternativas estão sendo desenvolvidas pelas empresas para cobrir as vagas abertas, principalmente capacitando e evoluindo pessoal interno, porém estas alternativas não serão suficientes para resolver o problema e não há de fato solução.
Enquanto aguardamos políticas públicas de longo prazo para a educação, infelizmente teremos que conviver com o risco de estrangulamento do crescimento do país como alternativa a escassez de profissionais pela redução da demanda, o que pode levar à perda de parte das conquistas realizadas ao longo dos últimos 15 anos.
Marco Antonio Chiquie, vice-presidente da ABRADISTI (Associação Brasileira dos Distribuidores de Tecnologia da Informação)