O primeiro supercomputador brasileiro a ser adquirido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) será capaz de traçar cenários de clima global para daqui 30 a 50 anos, segundo informa o climatologista do Inpe, Carlos Nobre.
Atualmente, as previsões podem ser feitas no máximo para até seis meses. O equipamento deverá entrar em operação no início de 2009 e ficará disponível aos climatologistas do Inpe, aos integrantes da Rede Brasileira de Mudanças Climáticas Globais (Rede-Clima) e aos pesquisadores da Fapesp vinculados ao Programa de Mudanças Climáticas, que será lançado nesta quinta-feira, 28, na sede da instituição.
A idéia da Fapesp ao criar o programa é desenvolver um modelo climático brasileiro para entender melhor o impacto das mudanças no território nacional e, assim, ter condições de diminuir os efeitos sociais, ambientais e econômicos provocados pelas variações climáticas globais. Entre as vantagens de se ter um modelo climático próprio e um supercomputador para fazer as simulações estão a possibilidade de estudar particularidades nacionais como o cerrado (mata bem diferente da savana), observar mudanças na vegetação, e avaliar os efeitos advindos de desmatamento e queimadas, enumera Nobre.
No entanto, ainda não será possível fazer previsões cronológicas como, por exemplo, se choverá no dia 22 de agosto de 2038, às 12 horas, com anos de antecedência, informa o climatologista. "Mas dará para prever, com grande quantidade de acerto, eventos extremos (tempestades, inundações, furacões, ondas de calor), secas intensas e prolongadas e deslizamento em zonas costeiras. Será possível também saber como as mudanças irão comprometer a agricultura, a biodiversidade, a qualidade do ar e a quantidade de água disponível", diz Nobre. Atualmente, informa ele, o Brasil se baseia em modelos internacionais bem representativos de países desenvolvidos, mas com poucos dados sobre o clima do território nacional e do continente sul-americano.
Com um dos mais poderosos supercomputadores do mundo utilizados em estudos climáticos, o Brasil terá capacidade de gerar seus próprios cenários com simulações de dezenas de anos e de fornecer informações com menor índice de incertezas, afirma Nobre. Ele acrescenta que as previsões climáticas serão mais "confiáveis e haverá redução de erros". Outro uso será a possibilidade de avançar na ciência de estudos climáticos e criar competências científicas em todos os elementos envolvidos.
Serão investidos R$ 48 milhões no supercomputador: R$ 35 milhões provenientes do Ministério da Ciência e Tecnologia, ao qual o Inpe é vinculado, e R$ 13 milhões da Fapesp. Nobre destaca que o equipamento custará R$ 37 milhões. O restante, R$ 11 milhões, será utilizado em obras de infra-estrutura e conversão de software. Para adquirir o equipamento feito sob encomenda, já que não há modelos no mercado, está em andamento uma licitação internacional.
Com a nova aquisição, o Brasil terá um dos seis supercomputadores mais potentes do mundo com capacidade de realizar 15 trilhões de operações matemáticas por segundo (com processador de 15 teraflops), o que corresponde a 50 vezes a capacidade do aparelho usado atualmente pelo Inpe, informa Nobre. Dispõem de computadores superpoderosos dois centros climáticos dos EUA, dois da Europa e um do Japão.
Na América Latina será o único, afirma o climatologista. Por isso, a idéia é disponibilizar as modelagens de mudanças climáticas globais aos países vizinhos, comenta Nobre. O supercomputador será instalado no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, localizado na sede do Inpe, em Cachoeira Paulista.
A Rede Brasileira de Mudanças Climáticas Globais (Rede-Clima) envolve diversas instituições brasileiras voltadas para estudos na área de mudanças climáticas, institutos de pesquisa e universidades. Pesquisa assuntos como a biodiversidade, agricultura, energias renováveis, zonas costeiras, recursos hídricos, saúde humana, megacidades, desastres naturais e políticas públicas. Foi criada para gerar e disseminar conhecimento e tecnologia para que o Brasil tenha condições de enfrentar os desafios provocados pelas mudanças climáticas globais. É responsável, também, por produzir estudos sobre as vulnerabilidades do País às mudanças climáticas e buscar alternativas de adaptação dos sistemas sociais, econômicos e naturais ocasionadas por essas mudanças.