A Gartner lançou recentemente a versão 2021 do estudo "Hype Cycle for Emerging Technologies" . Essa pesquisa procura mapear as tendências que vão impactar o mercado de TI nos próximos anos, identificando as diferentes tecnologias que estão sendo discutidas e desenvolvidas nas linhas de frente da inovação. Ao mesmo tempo, procura também identificar quanto tempo vamos ter que esperar para que essas inovações tragam benefícios reais para o mercado, sob a forma de ganhos de produtividade ou de novas aplicações. É um estudo tradicional, publicado há muitos anos, e, para quem tem curiosidade sobre a evolução tecnológica ao longo do tempo, vale a pena ver também as versões dos anos anteriores.
Existem diferentes temas e tendências que podem ser exploradas a partir deste conteúdo, mas um dos mais interessantes é o impacto dos dados nas tecnologias identificadas como relevantes no hype cycle deste ano. "Big Data" e outros temas diretamente relacionados com o processamento massivo de dados já são considerados tecnologias maduras pela Gartner, e não aparecem no gráfico desde 2015, ou seja, há mais de 5 anos. Apesar dessa omissão, os dados continuam tendo um impacto significativo na maior parte das tecnologias emergentes identificadas.
Dos 25 temas listados no gráfico, 3 tem "dados" no nome (Data Fabric, Active Metadata Management, Named Data Networking), e outros 12 estão diretamente relacionados com dados, seja por dependerem de um grande volume de informações para gerarem valor (todas as tecnologias que lidam com inteligência artificial e com aprendizado de máquina), ou por falarem sobre como os dados podem ser usados e armazenados (criptografia, identidade descentralizada). Podemos entender que os dados, e as atividades relacionadas com eles, representam pelo menos 60% das tecnologias emergentes apontadas.
E, mesmo as que não estão diretamente relacionadas com dados, como é o caso dos NFTs (Non-Fungible Tokens), de alguma forma tocam no tema. Afinal, um NFT pode ser visto, de maneira simplificada, como uma unidade de dados armazenada em um blockchain, gerando um registro imutável de propriedade dos mesmos. Dados, portanto, fazem parte do tema comum que toca todas as tecnologias emergentes. E isso não é um fenômeno recente. Olhando para trás, é possível ver que os dados estão presentes como ator central dos ciclos de evolução tecnológica há décadas.
A informação, portanto, é o motor do desenvolvimento tecnológico. O motor porque as evoluções mais fundamentais de tecnologia – hardware e algoritmos – estão totalmente focadas em acelerar o processo de tratamento e manipulação de dados. Pense, por exemplo, nos chips focados em inteligência artificial. O grande diferencial desse hardware é a capacidade de processar dados mais rápido do que o hardware tradicional. Ou pegue como exemplo os algoritmos mais avançados de inteligência artificial, como o GPT-3. Seu grande diferencial sobre versões anteriores é a quantidade maior de dados utilizados como entrada para o modelo, e as técnicas matemáticas que foram desenvolvidas para permitir essa utilização.
Ao mesmo tempo, a informação também é a base da pirâmide desse desenvolvimento. Sem a existência de dados, e de um volume cada vez maior de dados disponíveis para serem trabalhados, essas inovações não existiriam. As aplicações desenvolvidas em cima desses hardwares e algoritmos só existem porque temos, hoje, dados para construir inteligências artificiais e modelos mais sofisticados. Tradutores de idiomas, conversores de voz para texto, até mesmo realidade aumentada só existem porque temos mais dados e mais capacidade de tratar esses dados.
E o papel dos dados vai além de impulsionar o desenvolvimento tecnológico. Quando bem utilizados, eles podem ser um importante gerador de vantagem competitiva sustentável para as empresas. Vamos tomar, como exemplo, o Google. Por que, mesmo com a entrada de dezenas de concorrentes no mercado de busca, ele continua com uma posição dominante? A resposta é simples: por causa dos dados. Os dados que ele possui, tanto do escopo da captura executada quanto do comportamento dos usuários frente ao conteúdo apresentado como resultado, o permitem entregar resultados que são objetivamente melhores do que os da concorrência. A entrega de resultados melhores faz com que ele tenha mais usuários, que geram mais dados, que reforçam a qualidade do produto, em um ciclo que é praticamente impossível de ser quebrado.
Assim, quem ainda não está pensando nos dados como um recurso estratégico vai rapidamente ser deixado para trás. Sem uma infraestrutura de dados bem construída, e sem uma diretriz organizacional para tratar os dados como um ativo, as empresas se tornarão obsoletas, incapazes de gerar qualquer tipo de vantagem competitiva em um mundo reinado pelo Big Data. Aprenda mais sobre a economia de dados, ative e monetize suas informações, ou corra o risco de se tornar irrelevante amanhã.
Thoran Rodrigues, fundador e CEO da BigDataCorp.