A movimentação do Brasil para aumentar as exportações de software e serviços de TI aqueceu ainda mais a demanda por profissionais. A procura por mão-de-obra qualificada é muito maior que a oferta e alguns talentos são bastante valorizados. Os que dominam tecnologias – as modernas e também as antigas Cobol — e falam bem em inglês valem ouro. Este é o perfil disputado, e até aliciado pela concorrência, e que recebe as melhores propostas salariais.
Uma pesquisa da IDC revela que o Brasil será responsável por quase metade, ou 48%, das 630 mil vagas de emprego que o mercado de TI vai gerar na América Latina até 2009. O estudo constatou que será a indústria de software o maior empregador, respondendo por 68% das oportunidades de trabalho na região. A péssima notícia é que o País tem um déficit de mais de 20 mil profissionais de TI, porque as universidades não conseguem formar mão-de-obra com a velocidade e exigências do setor.
Multinacionais como IBM, EDS, Tata, SAP, T-Systems, Satyan e HSBC enxergam o País como alternativa para atender ao mercado de offshore de TI. Para não perder esse bonde, o País terá de encontrar uma solução para formar pessoal qualificado e derrubar os salários se quiser enfrentar os concorrentes emergentes Índia, China e Rússia.
A Tata Consultancy Service (TCS), subsidiária da indiana Tata no Brasil, planeja usar a infra-estrutura dos três centros de desenvolvimento aqui implantados para aumentar sua operação de offshore. Hoje apenas 10% da sua receita vêm do mercado externo, e Sérgio Rodrigues, presidente da filial, quer elevar esse número para 40% a 60% num prazo de 3 a 5 anos. Entretanto, o executivo avisa que só conseguirá essa façanha se tiver mão-de-obra capacitada.
Domínio do inglês
O Brasil quer chegar em 2010 com um volume de negócios da ordem de US$ 5 bilhões com exportações de software e serviços de TI. A ambiciosa meta foi lançada pelo presidente da Associação Brasileira de Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom), Antonio Carlos Rego Gil. Mas para isso, será necessário vencer vários obstáculos, um deles a formação de 100 mil profissionais com domínio de várias tecnologias e língua afiada em inglês.
O primeiro passo já foi dado. A Brasscom e o Ministério de Ciência e Tecnologia acabam de criar o Englisoft, um programa de certificação de proficiência em língua inglesa para profissionais do setor. O projeto vai avaliar os conhecimentos dos que atuam na área, fornecendo um selo em três níveis recomendados pela União Européia.
O MCT repassou uma verba de R$ 2,2 milhões para o material didático do Englisoft, elaborado pela Linca, especializada em cursos de inglês, contratada pela Brasscom. A consultoria também vai orientar escolas de línguas na criação de um curso sob medida para profissionais de TI. Para Sergio Rezende, ministro do MCT, o projeto reduzirá a carência de profissionais para atender ao mercado externo e ajudará o Brasil a atingir suas metas de exportação.
O governo federal estima que o País movimentará entre 2008 e 2009, cerca de US$ 2 bilhões com operações de offshore. Rezende acredita ser possível atingir essa meta e prevê que o Brasil fechará 2006 com exportações de software de aproximadamente US$ 800 milhões. Para o próximo ano, ele estima negócios da ordem de US$ 1 bilhão no mercado externo.
Para o presidente da Brasscom, o Englisoft acelera o processo de formação de mão-de-obra qualificada no Brasil. O programa conta com 120 centros para emissão do certificado, gerenciados pela Datasul, e tem a meta de credenciar mil profissionais em um ano. O custo da certificação vai de R$ 300 a R$ 500.
Parceria com universidades
Algumas empresas estão se aliando a universidades para resolver o problema da falta de mão-de-obra. A Tata, por exemplo, fechou parceria com sete faculdades de TI para apoiar na formação dos estudantes, e espera chegar em 2010 com um time brasileiro entre 4 e 5 mil empregados. ?As escolas precisam estar conectadas com o dia-a-dia das empresas. Elas têm que ensinar o que as empresas estão pedindo?, chama a atenção o presidente da TCS Brasil.
Essa foi a mesma estratégia seguida pela IBM, que estima contratar mais 2 mil profissionais até 2008, quando espera ampliar o time do centro de tecnologia de Hortolândia (SP) para 8 mil empregados. A Big Blue criou o programa ?Oficina do Futuro? em parceria com o Instituto de Pesquisas Eldorado e a Solectron. O projeto começou na região de Campinas, oferecendo cursos de TI presenciais e a distância e em março deste ano foi estendido para Salvador (BA) por meio de uma aliança com o Senai (Serviço Nacional da Indústria).
Esse programa é aberto a estudantes que estejam a uma distância de até 70 quilômetros de Campinas. Ricardo da Silva, executivo responsável por projetos globais de outsourcing da IBM Brasil, informa que a Big Blue tem plano de ampliar esse raio de cobertura para até 300 quilômetros, para permitir acesso aos estudantes de cidades. O projeto funciona como um estágio, não dá garantia de emprego mas segundo o executivo, oferece uma boa base para que o candidato busque uma colocação nas empresas da região.
Capacitação no ensino médio
O ensino médio também tem sido um caminho utilizado pelas empresas de TI para suprir a demanda em algumas funções, por exemplo de programadores. A Politec acaba de lançar o programa Jedi (Java Education Development and Iniciative), que tem a pretensão de obter, no Brasil, os mesmos resultados das Filipinas, e em um ano treinar cerca de 40 mil profissionais de TI de nível médio. O projeto faz parte de uma iniciativa internacional abraçada pela Sun e a comunidade de Java.
No Brasil, o programa será disseminado pelo Brasília Java Users Group (DFJug). Também participam do projeto a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que oferecerá seus telecentros para treinamento dos futuros talentos; e a Borland que cuidará da gestão dos cursos. "O Jedi tem um impacto social, pois vai colocar muitos jovens no mercado de trabalho. A iniciativa alavanca a capacitação técnica e coloca novos profissionais a disposição da indústria", afirma Filipe Rizzos, membro do conselho da Politec.