Pesquisadores do Centro Infantil Boldrini, hospital filantrópico localizado em Campinas (SP) e referência latino-americana no tratamento de crianças e adolescentes com câncer e doenças do sangue, criaram o software Tissue Simulator, que permite simular o desenvolvimento e a evolução de doenças, como o câncer e o diabetes.
O software possibilita ainda testes de possíveis tratamentos e condutas e estudar as causas do aparecimento de doenças. O programa foi apresentado recentemente no congresso ICSB 2006, em Yokohama, no Japão.
O Tissue é considerado inédito pelos pesquisadores por ser capaz de simular o crescimento de tumores ou o desenvolvimento de organismos onde o número de células é variável, além de poder representar seus componentes em espaço tridimensional, importante para se estudar fenômenos como a difusão de espécies químicas nos tecidos e a comunicação extracelular e armazenar os dados da simulação em um filme que pode ser rodado em diferentes velocidades para que o pesquisador possa intervir na simulação, modificá-la e reiniciá-la a partir de um momento específico.
O software nasceu da necessidade em se criar modelos computacionais de células, tecidos e órgãos para o estudo de fenômenos biológicos, como metabolismo, duplicação celular e secreção de hormônios. O estudo resultou na criação de dois modelos de software. O primeiro simula o crescimento de tumores e o outro, a secreção de insulina em Ilhotas de Langerhans (grupo de células do pâncreas que produzem insulina e substâncias que agem como reguladores do metabolismo) para estudo do diabetes.
Andres Yunes, pesquisador do Boldrini, e o pós-graduando Ariosto Silva, do curso de Genética e Biologia Molecular da Unicamp, são os responsáveis pelo estudo e, por enquanto, os únicos a terem acesso à nova ferramenta, que está sendo utilizada em dois projetos de pesquisa.
As principais inovações dessa ferramenta dizem respeito à utilização em sistema Windows e Linux; às equações matemáticas abstraídas pela interface gráfica e à facilidade de manuseio para o usuário final, que apenas preenche o espaço de simulação com os componentes (células e vasos sanguíneos) e modifica as propriedades (tipo de célula, concentração de metabólitos e etapa do ciclo celular). Além disso, cada componente simulado pode ser codificado em uma classe Java separada, o que permite sua reutilização em diversas simulações por usuários distintos. Destacamos também a integração entre uma visão tridimensional e bidimensional através da qual se pode analisar os valores das concentrações de metabólitos e outras espécies químicas no modelo simulado.
De acordo com Ariosto, o objetivo é permitir que, no futuro, programas como esse sirvam como sistemas de apoio para tomada de decisão de médicos e pesquisadores, apontando as possíveis causas de doenças complexas. ?Acreditamos que as doenças relacionadas a pequenas alterações em um grande número de fatores possam ser compreendidas através de ferramentas que evidenciam as interações imperceptíveis a olho nu.?