A IBM está dando os primeiros passos em uma área da computação que, até agora, estava restritra ao círculo acadêmico: a construção de um computador quântico. Apesar de ser um projeto embrionário, que ainda enfrenta desafios para levar a tecnologia de silício à escala microscópica, capaz de produzir uma máquina hiperveloz, pesquisadores da IBM apresentaram nesta terça-feira, 28, durante uma reunião da Sociedade Americana de Física, em Boston, os resultados experimentais dos últimos desenvolvimentos, com base nos quais eles dizem estar perto de resolver estes problemas.
"No passado, as pessoas diziam que levaríamos 50 anos para que a computação quântica se materializasse, mas, talvez, isso aconteça mais cedo", disse Mark B. Ketchen, gerente da física de grupo de informações do Centro de Pesquisa Thomas J. Watson da IBM, localizado em Yorktown Heights, Nova York. "Eu costumava pensar que realmente levaríamos 50 anos. Agora eu estou pensando em algo como 15 anos ou um pouco mais. Ela está ao nosso alcance. É dentro de nossas vidas. Vai acontecer”, afirmou ao jornal New York Times.
“Muitos pesquisadores da universidade fizeram um bom trabalho para resolver os problemas básicos da ciência”, disse Ketchen, mas "vai caber à IBM no final colocá-lo juntos”. Ele admite, porém, que ainda é muito cedo para que a IBM tenha um computador quântico comercial, mas cientistas da área da computação veem com bons olhos os esforços da empresa nesse sentido.
Scott Aaronson, professor de engenharia elétrica e ciência da computação do Massachusetts Institute of Technology (MIT), classifica o trabalho da IBM como "um motivo de otimismo cauteloso" no desenvolvimento de computadores quânticos. "Parece muito interessante," disse ele sobre a pesquisa IBM. "Basicamente, é mais um passo no progresso contínuo."
Embora o computador quântico ainda deva levar alguns anos para se materializar, nos últimos dois anos tem havido uma série de avanços, e a IBM é mais uma a contribuir para o seu desenvolvimento. Os computadores atuais executam cálculos por meio de centenas de milhões de chaves cujas posições ligado-desligado representam os valores 1 e 0, com cada dígito binário chamado de "bit" de informação. Na mecânica quântica, existem múltiplas possibilidades de uma só vez, e um bit quântico – qubit, como é chamado – não é necessariamente um "1" ou um "0", mas uma combinação de ambos. Pelo encadeamento de qubits, um computador quântico poderia realizar uma infinidade de cálculos simultaneamente. Ou seja, em vez do digito binário, a computação quântica usará bits subatômicos que podem ser, ao mesmo tempo, 1 e 0.
Para certos problemas, como, por exemplo, pesquisas em bancos de dados ou fatoração de números muito grandes – com base em técnicas atuais de criptografia –, os computadores quânticos poderiam produzir uma resposta em dias ou talvez até mesmo, segundos, enquanto o mais rápido computador convencional levaria mais que 13,7 bilhões de anos.
Os pesquisadores da IBM estão desenvolvendo componentes de circuitos eletrônicos para computação quântica que contêm supercondutores, materiais que conduzem eletricidade sem resistência elétrica. Quando resfriado a um centésimo de grau acima do zero absoluto, os circuitos pssam a atuar como qubits. O problema é que em pouco tempo ele se torna um qubit misturado e a informação que ele carrega se transforma em rabiscos.
Quando os físicos começaram experimentos pouco mais de uma década atrás, um qubit durou apenas alguns bilionésimos de segundo. Nos últimos resultados da IBM, que se apoiam sobre a técnica desenvolvida por Robert J. Schoelkopf, professor de física na Universidade de Yale, um qubit durou tanto tempo como 1/10.000 segundo. Embora ainda não seja um tempo suficiente para cálculos perfeitos, é bom o suficiente para algoritmos de correção de erro, para detectar e corrigir eventuais erros. "Nós apenas estamos atravessando esse limite", disse Ketchen. Segundo ele, o progresso é promissor o suficiente para que se comece a pensar nos desafios relacionados, tais como a forma de programar um computador quântico ou como extrair a resposta que um computador quântico havia calculado.