Uma nova legislação pan-europeia deverá entrar em vigor na região em maio de 2018, a General Data Protection Regulation (GPRD), que estabelece limites e transparência com a privacidade de dados dos consumidores europeus, gerando impacto não apenas para empresas do continente, mas também das que fazem negócios na União Europeia. As multas para quem não respeitar as diretrizes poderão chegar até 4% da receita mundial ou 20 milhões de euros (o que for maior), o que certamente traz um desafio para as teles se adequarem.
"O ecossistema não tem escolha a não ser ficar pronto, quem não se adequar cometerá um erro", declara a CEO do Mobile Ecosystem Forum (MEF), Rimma Perelmuter, durante painel na Mobile World Congress em Barcelona nesta terça, 28. Ela explica que as empresas do MEF estão agindo proativamente para se adequar à nova regulação, mas ressalta que submeteu à União Europeia proposta de promover a portabilidade dos dados. A executiva ressalta que a GDPR terá efeito no mundo inteiro, inclusive no Brasil, que ainda não conta com uma legislação de proteção aos dados pessoais. O impacto, disse ela a este noticiário, é grande. "É muito importante, obviamente, porque você precisa ter confiança na privacidade", declara. "A regulação é europeia, mas governos em todo o mundo estão olhando novas formas de dados que serão gerenciados em termos de consenso, transparência e portabilidade."
O vice-presidente de estratégia global de dados e governança da operadora francesa Orange, Ludovic Levy, diz que a companhia já se prepara para a nova realidade, mas imagina que poderá haver flexibilidade para o uso de dados. "Há muitas formas e bases legais, e a gente pode ter direitos de lidar com dados em certas circunstâncias, e lá, monetizar", declarou. Na visão dele, a publicidade móvel "já é parte da experiência digital". E, partindo dessa premissa, acredita que poderá melhorar o serviço com a monetização dos dados.
A aposta de monetização pode ser uma saída na briga com over-the-tops (OTTs). A solução da Atomite é entregar ao consumidor o poder de decidir o que a operadora pode fazer com os dados. Por meio de um extenso e complicado formulário, que exige do consumidor médio compreensão das informações (e das consequências) e paciência, pode-se acumular pontos para cada dado fornecido. Por meio desse programa, o cliente pode trocar pontos por descontos ou produtos. Além das informações, há ainda a possibilidade de compartilhar com parceiros (como melhorar o direcionamento dos dados no Facebook, por exemplo), além de questionário para fornecer mais elementos pessoais ainda mais precisos. "A operadora não está detendo seus dados, eles são alugados, e acumulam pontos a cada mês", justifica o CEO e fundador da empresa, Jon Fisse. Ele ressalta que a plataforma ainda está em testes, para ver "até que ponto" os usuários aceitam colocar um valor em seus dados.
Fisse acredita que as soluções devem focar na transparência para lidar com esse novo mundo de converter privacidade em novo fluxo de receita. "Pode não funcionar, mas o fato é que estamos no mix, com operadoras, com OTTs, e acho que se a gente se mover rapidamente pode ser uma oportunidade para nós", declara. "Temos que nos arriscar."
Transformar privacidade em oportunidade é "contraintuitivo", na opinião de Rimma Pereimuter. Mas há uma tendência de aumento na preocupação do consumidor com o assunto. Segundo a executiva do MEF, aumentou de 32% para 41% no ano passado a parcela de consumidores que não gostariam de compartilhar os dados. Com as novas regulações, como a GPDR, as empresas terão de gerenciar essas informações de uma nova forma. "Aí sim, será uma oportunidade. O contra-argumento é que confiança é algo que pode criar lealdade do consumidor, e podemos nos tornar os melhores defensores disso", defende.
* O jornalista viajou a Barcelona a convite da FS.