Não é segredo para ninguém que a transformação digital se tornou uma questão de sobrevivência dentro do mercado corporativo. Independentemente do setor ou porte, empresas hoje se veem diante de um cenário desafiador, onde o dinamismo e a competitividade, principalmente impulsionados pelos avanços tecnológicos mais recentes, reconfiguraram a maneira como os negócios operam. A digitalização, antes vista como uma forte tendência, passou a ser questão de urgência, colocando em xeque a própria capacidade de adaptação e inovação para se manter relevante em um mercado que se transforma a uma velocidade sem precedentes.
Atualmente, existem três grandes pilares que justificam essa conjuntura otimista: a Inteligência Artificial (IA) generativa, a computação em nuvem e a automação. Essas tecnologias estão transformando processos, modelos operacionais e a relação das empresas com os consumidores. A partir desses recursos, companhias se veem na necessidade de redefinir suas cadeias produtivas, modelos de negócios, além da própria relação com consumidores.
A demanda pela reestruturação se justifica nos números. De acordo com o relatório "O ROI da IA Generativa", do Google Cloud, 74% das empresas que utilizam essa tecnologia alcançaram retorno sobre o investimento já no primeiro ano de aplicação. Impulsionada pelo fortalecimento da IA, a computação em nuvem também cresce exponencialmente, com projeções apontando um aumento de US$ 60,35 bilhões em 2023 para US$ 397,81 bilhões até 2030, segundo estudo publicado pela McKinsey.
Embora o ritmo acelerado das inovações seja evidente para os decisores empresariais, vejo que existem algumas ponderações que parecem ainda não ter assumido a devida importância. Digo isso porque muitas organizações parecem ainda encarar e experimentar as recentes transformações tecnológicas com um olhar meramente operacional.
É fato que a automação é chave para o aprimoramento produtivo, a IA é essencial para agilizar tarefas e a nuvem para facilitar a gestão de dados. No entanto, por mais que essas aplicações já sejam valiosíssimas, é preciso ter em mente que representam apenas a superfície do verdadeiro potencial. A falha aqui está em uma percepção ainda imprecisa, muitas vezes limitada a somente ajustes incrementais, sem considerar seu impacto, sobretudo a longo prazo, em campos mais importantes, como o próprio modelo de negócios, a experiência do consumidor ou até mesmo o mercado como um todo.
Até porque, pare para pensar: se há dois anos a IA era uma tecnologia de nicho, hoje sua adoção já é quase obrigatória. Imagine então o que podemos esperar nos próximos dois anos?
O avanço exponencial atrelado a essa tecnologia sinaliza que não basta acompanhar as transformações tecnológicas, é preciso, pelo menos tentar, antecipá-las. Empresas que se contentam somente em atuar de forma reativa a essas mudanças correm um sério risco de ficar para trás, enquanto aquelas que assumem uma postura proativa na busca do entendimento dos caminhos a serem seguidos tendem a largar com vantagem, mesmo possivelmente se tratando de uma corrida que nem tenha começado ainda.
O olhar estratégico para essas transformações exige que as empresas se façam questionamentos mais profundos. Como a IA afetará os produtos e serviços que oferecemos? De que maneira a nuvem pode ampliar nossa capacidade de inovação? Como a automação pode liberar nossos profissionais para atividades mais estratégicas? O comportamento do consumidor está mudando diante dessas inovações? A resposta a essas questões não pode ser reativa ou limitada a curto prazo; ela deve estar integrada ao planejamento estratégico de longo prazo da empresa.
Fato é que estamos diante de uma revolução, mas muitíssimo provavelmente, apenas no começo dela. A velocidade com que novas possibilidades surgem torna essencial que as empresas já precisem estar atentas, ou pelos menos se questionem internamente, pelo que está por vir. Esperar não é mais uma opção. Empresas que não integram IA, nuvem e automação desde já correm o risco de ficarem obsoletas. O momento de incorporar IA, cloud e automação à estratégia corporativa já chegou. Quem ainda enxerga essas inovações apenas como recursos de otimização de processos está perdendo a oportunidade de moldar o futuro desde já. A tecnologia, hoje, não é um suporte para os negócios; ela é o próprio negócio.
Silvio Eduardo Andrade, vice presidente de transformação digital e IA Generativa na BRQ Digital Solutions.