Inteligência Artificial: Entre o Hype e a Aplicação Real

0

Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) consolidou-se como um dos temas mais recorrentes e debatidos no universo da tecnologia e dos negócios. Segundo um estudo da Gartner, até 2026 mais de 80% das empresas terão implementado APIs ou modelos de IA generativa em ambientes de produção – um indicativo claro de que essa tendência veio para ficar. Em qualquer conferência, artigo especializado ou debate corporativo, há sempre uma narrativa evidenciando a IA como a grande revolução das próximas décadas. O Mobile World Congress (MWC) de 2025, maior evento global da indústria de telecomunicações, reforçou essa perspectiva ao destacar a IA como tema central, refletindo o entusiasmo crescente em torno da tecnologia.

No entanto, em meio à euforia generalizada, surge uma pergunta essencial: as empresas estão realmente utilizando a Inteligência Artificial de forma estratégica ou apenas aderindo ao movimento, guiadas mais pelo hype do que por uma visão de longo prazo?

A experiência prática mostra que a adoção efetiva de IA vai muito além de adquirir modelos prontos ou implementar ferramentas que geram respostas automáticas. O verdadeiro diferencial competitivo está na capacidade de transformar esses recursos em valor real e mensurável. IA não se resume a poder computacional ou algoritmos sofisticados. Trata-se, acima de tudo, de gerar insights rapidamente e integrá-los a decisões estratégicas, de tornar os processos mais eficientes e de reduzir significativamente o time to market. Em outras palavras, para que a IA gere impacto, é fundamental que sua implementação esteja alinhada a um plano claro, com objetivos bem definidos e governança estruturada.

A primeira e mais importante pergunta que uma organização deve se fazer ao considerar a adoção de IA é: Qual problema queremos resolver? A partir daí, surgem outras questões igualmente críticas: Quais hipóteses estamos testando? Temos dados confiáveis e adequados? Como os dados gerados serão utilizados para criar valor? Estamos preparados para mudar processos e gerenciar essa transformação cultural? Sem essas respostas, há um risco elevado de que os projetos de IA se tornem apenas experimentos dispendiosos, com baixa efetividade e impacto no negócio.

De pouco adianta contar com modelos sofisticados e bancos de dados robustos se a organização não estiver preparada para transformar esses insights em ações estratégicas. Isso exige mais do que tecnologia: é preciso desenvolver competências analíticas em suas equipes, estabelecer novos processos e cultivar uma cultura voltada à experimentação e à inovação.

Outro fator crítico de sucesso é a liderança. A adoção de IA não deve ser vista como um projeto isolado de tecnologia, mas como parte integrante da estratégia corporativa. Empresas que encaram a IA como um pilar de transformação – e não como uma iniciativa paralela – tendem a colher resultados mais consistentes e sustentáveis ao longo do tempo.

Esse movimento já é evidente em diversos setores. De acordo com o relatório CEO Outlook 2024 da KPMG, 78% dos CEOs de empresas de Tecnologia e Telecomunicações afirmam que estão priorizando investimentos em IA generativa. Além disso, 71% dos entrevistados revelam sentir uma crescente pressão para assegurar a prosperidade de seus negócios no longo prazo – e veem na IA uma ferramenta estratégica para alcançar esse objetivo.

Do's and Don'ts na adoção de IA

Num cenário de rápida disseminação de uma nova tecnologia, torna-se essencial separar o que funciona do que não funciona. Abaixo, alguns princípios que considero fundamentais para nortear a jornada de adoção da Inteligência Artificial:

IA precisa gerar impacto real

Na prática, o impacto da IA já é visível em várias frentes. Um dos exemplos mais concretos está no atendimento ao cliente, que evoluiu significativamente com o uso de chatbots inteligentes, capazes de resolver demandas com maior agilidade e personalização.

No entanto, é preciso ir além. Com base na observação de casos bem-sucedidos, identifiquei três grandes áreas em que a IA pode, de fato, gerar valor quando bem aplicada:

  • Eficiência operacional: por meio da automação de processos e otimização de recursos, a IA pode reduzir custos e aumentar a produtividade.
  • Experiência do cliente: personalização de ofertas, respostas mais rápidas e canais de atendimento mais inteligentes aumentam o engajamento e a satisfação do consumidor.
  • Geração de receita: a IA pode ser alavanca para a criação de novos produtos, monetização de dados e desenvolvimento de modelos de negócio inovadores.

Se uma solução de IA não está contribuindo diretamente para avançar os objetivos estratégicos da empresa, é hora de reavaliar sua abordagem. O verdadeiro valor da tecnologia está em sua capacidade de transformar o negócio — e não apenas em demonstrar que a empresa é "moderna".

Estamos vivendo um momento crítico e, ao mesmo tempo, oportuno para a adoção inteligente da IA. O potencial de transformação é imenso, mas só será realizado por aquelas organizações resilientes, que consigam ir além da narrativa e traduzam essa tecnologia em soluções práticas, sustentáveis e alinhadas à sua estratégia de longo prazo.

Portanto, fica a pergunta: sua empresa está realmente preparada para transformar IA em valor real – ou apenas participando da euforia do momento?

Denis Ferreira, CEO da Alares.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.