As mais diversas literaturas mencionam que “a terceirização em tecnologia da informação originou-se da necessidade de cortar custos e reduzir pessoal devido às crescentes despesas com o setor de informática, geralmente não compatível com seu resultado para as organizações, ou seja, insatisfações quanto ao custo, a qualidade e o desempenho das unidades de TI.”
Alguém acredita que com um objetivo destes o outsourcing em TI teria a menor possibilidade de dar certo? Falando assim, posso parecer simplista demais e cair num lugar comum, não é mesmo? Então vamos lembrar como tudo aconteceu.
Há 25 anos TI, para a maioria das empresas, resumia-se apenas em poucos PCs para se fazer cartinhas. Com exceção dos Bancos e grandes empresas que possuíam grandes instalações e tudo era em alta plataforma (mainframes), baixa plataforma era algo inexistente, quem não se lembra do todo poderoso IBM 3270?
Fui longe agora!
Muito rapidamente a área de TI dentro das empresas simplesmente explodiu, começou com o micro para o chefe, para a secretária, para o financeiro, neste tempo quem dava um jeitinho quando o disquete enroscava era o amigo da secretária, lembra?
Em pouco tempo o pessoal do financeiro percebeu que usar o Lotus 123 ajudava muito a contabilidade e ai o computador deixou de ser luxo para virar coisa séria. Contrataram o amigo da secretária para dar suporte nos micros da empresa, assim nasceu a primeira área de TI que na verdade foi chamada de área de informática, e para quem ele respondia? Para o Gerente Financeiro, é claro!
Mais micros mais “micreiros”, a molecada começou a invadir a empresa e logo virou um setor. Compraram-se mais micros, impressoras, redes, servidores, juntou tudo e transformou-se em CPD. Respondendo para quem?
Pois é, um problemão! Primeiro ao gerente financeiro, depois ao gerente de marketing, depois ao do RH, eita areazinha sem dono esta de TI, o pior que todo mundo reclamava e ela não parava de crescer, os PCs se transformaram em estações de trabalho, chegou a tal da Internet que virou tudo de cabeça pra baixo, mais moleques, links de alta potência, Data Center para processar aplicações de missão critica…. PÁRA isso não tem fim!
A tecnologia avançou muito rápido, agora você pode imaginar como tudo isso fica na cabeça dos executivos e dos proprietários destas empresas? Atualmente os executivos, que ocupam as principais posições nas empresas, estão no mercado há mais de 20 anos e é óbvio que por mais que todos evoluam ainda hoje TI é um bicho estranho para muitos deles.
E ai vem a pergunta:
E agora o que fazer com esta área? Que não da lucro, que é cheia de moleques, que não conhecemos nada e que nem queremos conhecer, até porque os caras que trabalham lá falam uma língua que nós não entendemos.
Da mesma maneira que estas questões eram feitas nas empresas que não tinham TI como negócio, também eram feitas nas empresas que tinham TI como negócio, logo a “gringaiada” percebeu que este negócio de prestar serviços para empresas, que não conheciam nada de informática, poderia render um bom dinheiro e resolveram vender um serviço de terceirização que logo passou a chamar-se outsourcing.
Claro, como bom vendedores, os gringos puseram uma roupagem bonita, criaram os SLAs, Processos, Metodologias, sinergias, Service Desk , um monte de sopa de letrinhas e um punhado de certificações, venderam muito e ficaram milionários.
Mesmo com todas estas mudanças e vestimentas os motivos pelos quais levam as empresas a optar pelo outsourcing não mudou.
O resultado com certeza é o mais clássico, quando o financeiro fecha o balanço e percebe que a meta não foi batida a redução de despesa passa a ser o remédio mais rápido para se alcançar os números e adivinha para onde se apontam os canhões?
Sabemos que esta escolha é míope, porém com certeza atende o objetivo de bater a meta definida pelos acionistas, mas é claro que se esquece que a redução de despesas levará invariavelmente para baixo a qualidade dos serviços de TI e em muito pouco tempo, lá estarão nossos amigos do financeiro reclamando que a área de TI não os atendem como antigamente.
Creio que o principal motivo hoje em dia é olhar o outsourcing como uma oportunidade para ajustar a área de TI.
É comum ouvirmos nos corredores que TI está cada dia mais gulosa, toda hora é compra de servidor, contratação de gerentes, que se investe mais em TI do que no negócio da empresa, esta área se transformou em um saco sem fundo.
Além das reclamações usuais, agrava-se a situação com o aparecimento dos feudos e disputas de poder que é inevitável. O que era apenas alguns moleques “micreiros”, transformou-se em um gigante onde ninguém consegue controlar ou estimar o que realmente é necessário fazer para que ela atenda as necessidades da companhia.
Quando a situação chega a este ponto as empresas percebem que a saída é colocar pra fora tudo aquilo que não se consegue resolver e principalmente que não se domina, e ai a solução passa por contratar alguém para fazer o serviço sujo.
O Outsourcing é implantado e fica a cargo da empresa contratada colocar ordem na bagunça, demitido apadrinhados, nivelando salários, contratando profissionais com maior capacitação e muitas vezes mais barato.
Toda hora ficamos sabendo que empresas mesmo antes do final do contrato de outsourcing resolvem fazer um insourcing, isto acontece porque o serviço sujo já foi feito e a área de TI ficou enxuta, eficiente e administrável, porém mais cara, ou alguém acredita que arrumar a casa é barato?
É comum ver isso acontecer, é interessante perceber que o outsourcing acontece em ciclos, ora colocamos para fora para alguém resolver, ora colocamos para dentro para ficar mais barato.
Mas você pode estar se perguntando, não tem um modelo perfeito?
Tem sim, mas é muito raro, ele acontece quando as empresas percebem que TI é importante para o seu negócio e admitem que não possua competência para administrar aquele bando de moleques que cresceram se especializaram e conseguem fazer coisas do arco da velha com aquelas maquininhas que hoje até falar falam.
Neste momento se contrata uma consultoria para elaborar uma RFP responsável e factível para selecionar uma empresa séria e competente, que irá garantir a disponibilidade, o crescimento e a segurança em TI, que as empresas precisam para fazer crescer o seu negócio.
Alberto Marcelo Parada, formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em Gestão de Projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPM-Braxis, Fidelity, Banespa, entre outras, e atualmente integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP. Diretor de Projetos Sustentáveis da Sucesu-SP.