Nos últimos anos, o pensamento computacional vem revolucionando a educação no Brasil e no mundo. Não por modismo ou pelo falho consenso de que todos os empregos do futuro estarão voltados à tecnologia. As ciências exatas e as ciências humanas – sejam elas digitais ou analógicas – conviverão em harmonia no mercado de trabalho por muitas décadas ou séculos. Este tipo de padrão de aprendizagem quando aplicado na educação é revolucionário porque foge dos padrões engessados de ensino. Em vez de ensinar ao aluno qual a solução para todos os problemas, ele encoraja o aluno a buscar sua própria forma de equacionar o problema.
Para falar deste assunto, gosto muito de me usar como exemplo. Quando estava na escola, tinha muita curiosidade – traço de personalidade que ainda carrego comigo – em entender o desenrolar das coisas que aprendia, assistia na TV ou falava com pessoas mais velhas e ao questionar os professores, recebia respostas como "você vai aprender isso só na 6ª série" e "isso é só mais pra frente". Depois de muito ouvir frases assim, comecei a usar o pensamento computacional para pesquisar, aprender e estudar por mim mesmo – eu só não sabia disso na época.
Não por acaso, o pensamento computacional tem se tornado uma ferramenta onipresente nas principais instituições de ensino voltadas à formação de profissionais para o mundo da tecnologia e das carreiras que passam por uma revolução digital, pois com a adoção desse modelo mental, as pessoas passam a aprender a aprender, ao invés de se ater a velha 'decoreba'. É mais fácil entender como as coisas funcionam e porque foram criadas, para que seja possível gastar menos tempo para aprender, construir e melhorar o que já existe daí para frente. Mas, vamos aterrizar essa conversa e deixar menos abstrato: modelar o pensamento computacional demanda mais tempo para identificar padrões e entender como as coisas funcionam, do que de fato colocá-las em prática e isso é muito legal, pois permite a aplicação de uma solução em diferentes situações com padrão similar. É a eficiência e otimização na sua forma mais pura.
O pensamento computacional aplicado ao ensino nada mais é do que a incorporação de formas de pensar e buscar conhecimento que incentivam a curiosidade e o pragmatismo para solução de problemas. Qual a vantagem? Simples. Esse processo, quando apresentado a crianças e adolescentes, faz com que as aulas se tornem mais interativas, mais atrativas e, principalmente, mais divertidas. É o incentivo à criatividade no lugar da descoberta. O pensamento computacional é uma poderosa ferramenta de ensino e uma parceira de educadores, escolas e responsáveis. É pouco provável que os grandes profissionais de tecnologia do futuro se tornem aptos às novas demandas da sociedade sem que hoje tenha experienciado o pensamento computacional.
A explicação para isso está mais do que evidente. É por meio desse processo que os alunos despertam e cultivam o interesse pela busca do saber, usam a criatividade para resolver problemas e se colocam como protagonistas no processo de aprendizagem. Gosto de evidenciar que todo esse processo não precisa ser aplicado somente em modelos matemáticos, mas também nas interações com as pessoas, afinal, existem padrões de comportamento que podem ser mapeados.
Muitos podem se questionar se esse é um método muito abstrato e distante da realidade da maioria dos alunos no Brasil. Mas não é. No ensino básico, pode ser chamado também de método de aprendizagem focado em pesquisa, na descoberta de soluções e na construção de conhecimentos. Na jornada criativa de planejamento e desenvolvimento de máquinas, alunos e professores aprimoram suas habilidades de trabalho em grupo, buscando soluções e sistemas de respostas precisas a comandos. Apenas por essas qualidades, o pensamento computacional já é um método de ensino que merece espaço em qualquer grade educacional.
Ivan Seidel, especialista em robótica, edtechs e tecnologia para a educação cofundador e CPO (Chief Product Officer) da Layers.