Os obstáculos da virtualização

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O processo de virtualização e consolidação de data centers parece ser um caminho consensual para responder à necessidade da contenção de custos relacionados ao agigantamento das estruturas de hardware, duplicidade de sistemas operacionais e infraestruturas concorrentes.
O afloramento da atual crise, associado à demanda de otimização da governança e adoção de sistemas "green" (com menor consumo de energia e gestão elétrica inteligente) concorrem para colocar definitivamente a virtualização na agenda dos CIOs e da indústria de TI.
Vale no entanto observar o índice ainda alto de insucesso, total ou parcial, nas estratégias de virtualização levadas a termo, não só no Brasil, mas em quase toda parte. Um exemplo disto é dado por grandes bancos, onde de cada 20 servidores envolvidos em processo de migração apenas 9 têm a migração completada e sem necessidade de retorno para a configuração antiga.
Um estudo feito pela Aberdeen em Dezembro de 2008, com 137 empresas, aponta que em pelo menos 32% dos casos de virtualização há a necessidade de se abandonar ou rever o processo migratório antes de sua plena instauração como ambiente de fato.
Na maioria das vezes, isto ocorre devido a problemas relacionados à degradação de performance e ao tempo de resposta após a virtualização. Aliás, segundo esta mesma pesquisa, mais de 55% das empresas não possuem a visibilidade do fluxo de transações e não são capazes de antecipar questões de performance durante o processo de virtualização.
Um outro estudo importante que reforça esta análise, feito pelo Gartner em Fevereiro de 2008, aponta que um grande desafio da virtualização está na difícil escolha dos candidatos (aplicações) a serem virtualizados, e à falta do entendimento do impacto de tempo de resposta destas aplicações em um ambiente virtual.
É bem verdade que, a despeito disto, a virtualização avança a passos largos, notadamente nas grandes empresas, embora, na maioria dos casos, estas migrações ocorram em partes específicas do processo. Este processo "por partes" ao menos tem a virtude de permitir a paulatina promoção de uma cultura interna de gestão destes novos ambientes, para assim assegurar o também paulatino avanço da virtualização, em movimentos claramente cautelosos.
Este meio termo, porém, ao invés de trazer todas as vantagens teoricamente conhecidas das virtualização e consolidação de servidores, acaba funcionando, muitas vezes, como um perturbador a mais do ambiente. Perturbador que leva as equipes de TI a terem que se desdobrar no controle do ambiente híbrido, com seus diversos componentes físicos e virtuais atuando de modo complementar ou concorrente.
Conclui-se daí que a otimização do TCO, através da virtualização, terá que ser precedida por um primeiro impacto bastante indesejável, em termos de gerenciamento do ambiente e de manutenção do nível de serviço (SLA).
Numa avaliação abrangente sobre os maiores dilemas da virtualização – entre usuários brasileiros e casos internacionais conhecidos – a primeira dificuldade a ser enfrentada para o avanço da virtualização está na escassez de ferramentas de migração e controle que possam dar conta, de fato, dos vários cenários de legado físico que se apresentam para a conversão.
De fato, se é verdade que as grandes plataformas de virtualização estão satisfatoriamente maduras para suportar todo o data center após consolidado, o mesmo não se pode dizer dos recursos de migração associados às suítes clássicas.
Um caso exemplar é o das ferramentas gratuitas de analise (capacity planning) e conversão. Como não trabalham em total integração, as tarefas de conversão devem ser manualmente criadas, tornando-se uma limitação que praticamente inviabilizaria processos de migração em escala de milhares ou mesmo centenas de máquinas.
O mesmo se pode dizer da ausência de recursos maduros de testes de pré-conversão em grandes suítes do mercado. Recursos estes que são fundamentais em ambientes com janelas de manutenção muito restritas como pré-requisito de sucesso da conversão ao longo do tempo.
Outra dificuldade está na pouca competência das grandes suítes em responder à necessidade de migração envolvendo múltiplas origens e destinos, incluindo-se aí plataformas físicas, virtuais e imagens, como PS2, V2V. P2V, P21, I2V.
A tudo isto se soma a incapacidade das principais suítes de virtualização de funcionar com "hypervisors" diversos, como WMWare, Microsoft, Citrix e OpenSource (Xen).
Para dar resposta a estas deficiências, a indústria de TI como um todo vem se movimentando para melhorar os arsenais de migração e de monitoramento, de modo a complementar as grandes ofertas de ambiente de players como os acima citados.
Enquanto os grandes fornecedores trabalham no desenvolvimento da estabilidade e escala do ambiente virtual, várias empresas inovadoras vêm investindo na especialização, de modo a garantir recursos complementares e altamente bem vindos para garantir conversões seguras e sustentáveis no tempo. Este é o caso da PlateSpin, recentemente adquirida pela Novell, que oferece ferramentas de análise do legado, monitoramento de processos de migração e testes pré-conversão, sem os traumas aqui mencionados.
Mencionem-se ainda esforços de players como a Bluetripe, cujas ferramentas complementam a necessidade de monitoramento em tempo real dos fluxos das transações em ambiente físico e virtual. Desta forma é possível tirar um raio X do ambiente físico, criar um baseline de monitoração para o ambiente Virtual, e comparar a performance, para análise e identificação de possíveis gargalos.
Abre-se aí também uma excelente janela de oportunidades para empresas de integração focadas em virtualização, consolidação e workload, que dominem suficientemente os dois tipos de ambiente e sejam capazes de se adiantar aos calcanhares de Aquiles da tecnologia corrente.
O mais provável é que, em torno dos grandes fornecedores de tecnologia para a virtualização irão gravitar miríades de pequenas (pequenas, porém muito prósperas) detentoras de conhecimento específico para livrar os CIOs e as equipes internas das empresas destes fantasmas que hoje ainda assolam este tipo de processo.

* André Facciolli é diretor da NetBR

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