Tecnologia no setor bancário: Investimentos recordes, desafios persistentes

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A análise das edições da Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária entre 2021 e 2025 confirma que a tecnologia se consolidou como a principal prioridade das instituições financeiras brasileiras. Com orçamentos de TI que superam os de diversos outros setores econômicos, como indústria, comércio e agronegócio, o sistema bancário lidera a transformação digital no País. Os investimentos em tecnologia, que cresceram de R$ 30,1 bilhões em 2021 para uma previsão de R$ 47,8 bilhões em 2025, refletem o peso estratégico da inovação para a competitividade e a sobrevivência dos bancos.

Iniciativas como o Open Finance e o Pix, implantadas sob diretrizes do Banco Central (Bacen), permitiram aos bancos ampliar suas ofertas de produtos e serviços e adotar novos modelos de negócios. Essas transformações, por sua vez, abriram espaço para uma renovação ainda mais profunda, impulsionada pela adoção acelerada da inteligência artificial e da tecnologia blockchain.

O uso de Inteligência Artificial nas instituições financeiras evoluiu de maneira consistente. Em 2025, aproximadamente 80% dos bancos já empregam IA generativa em processos de atendimento, concessão de crédito, análise de dados e gestão de riscos. Entre 2024 e 2025, os investimentos em IA, Big Data e Analytics cresceram 61%, evidenciando o papel central da tecnologia na reformulação das estratégias de negócios.

A Pesquisa FEBRABAN de 2025 também confirma que o Drex (projeto do Banco Central para criar a versão digital do real), a tokenização e o blockchain passaram a integrar a agenda estratégica de inovação do sistema bancário brasileiro. Segundo a Pesquisa, 95% dos bancos consideram o Drex uma oportunidade concreta para inovação financeira, 63% enxergam seu impacto na criação de contratos inteligentes e 42% associam o projeto a ganhos em transparência e segurança. Além disso, 41% das instituições afirmam estar explorando o uso de blockchain e outros 41% desenvolvem iniciativas de tokenização e custódia de ativos digitais. Embora o interesse tenha crescido, a maturidade dos projetos ainda é inicial, com foco em estudos, experimentações e pilotos controlados.

Dentro desse contexto, o Drex foi reafirmado como prioridade estratégica em abril de 2025, em declaração pública do presidente do Bacen, Gabriel Galípolo.

Apesar da prioridade institucional, o Drex ainda enfrenta desafios relevantes. Em um País onde as transferências interbancárias já são liquidadas com eficiência pelo Sistema de Transferência de Reservas (STR) e onde os pagamentos instantâneos são amplamente atendidos pelo Pix, dois dos principais motivadores para a criação das moedas digitais de banco central no mundo, a identificação de casos de uso práticos e que tragam benefícios concretos para a sociedade será fundamental para justificar seu investimento. Persistem também questões técnicas, como a preservação da privacidade nas transações digitais.

Por fim, é importante considerar que a Pesquisa FEBRABAN reflete majoritariamente a visão dos bancos associados à instituição, que concentram a maior parte dos investimentos em tecnologia. Em termos de número de participantes, a representatividade é limitada diante da expansão de fintechs, instituições de pagamento e novos entrantes. Embora o impacto orçamentário dessas novas instituições seja quase nulo no universo pesquisado, seu papel como catalisadoras de inovação é inegável, desafiando e provocando a aceleração da transformação digital nas instituições financeiras tradicionais.

Apesar dos avanços registrados, a modernização das instituições financeiras tradicionais ainda é um desafio. Enquanto fintechs e novas instituições nascem com estruturas modernas e ágeis, os bancos precisam enfrentar a complexidade e o custo de manter sistemas legados. Uma parte considerável dos investimentos-recorde em tecnologia continua sendo destinada à atualização e manutenção dessas plataformas antigas, evidenciando que boa parte dos recursos ainda financia a adaptação do passado.

A transformação digital no setor bancário brasileiro permanece, portanto, como um desafio em curso — e não como uma missão já cumprida.

Keiji Sakai, CEO da águilahub, consultoria estratégica e de negócios em TI e inovação. Foi diretor da B3, diretor-executivo do JP Morgan, CIO do Deutsche Bank e head de TI do HSBC.

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