Como preparar o time para dividir habilidades com as IAs?

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O avanço da inteligência artificial na realidade do trabalho tem sido motivo de debates acalorados. Enquanto para algumas linhas de trabalho a ferramenta vem como uma oportunidade de inovação e melhora de produtividade, para outras é vista com desconfiança. Com isso alguns questionamentos importantes surgem: quais trabalhos serão substituídos, quais serão criados? Como a humanidade se adapta a uma mudança exponencial com um cérebro humano tão linear? Como lidar com empregos eminentemente substituídos pela IA? E como liderar nesse imbróglio todo? Para além das questões éticas (que são bastante necessárias), a dica é lidar com IA da mesma forma que você lidaria com um mar revolto: não brigando  com a onda.

Recentemente tive a oportunidade de ouvir Hal Gregersen, pesquisador do MIT (Massachusetts Institute of Technology) falar sobre como a IA pode ajudar coaches como um verdadeiro parceiro pensante para atendimentos (confesso que nunca pedi a opinião da IA para meus casos, sempre busco minha mentora). Gregersen divide os desafios que enfrentamos em quatro tipos: 1) adaptar habilidades (teremos que deixar ir embora habilidades e assumir novas), 2) ajustar funções (teremos que deixar ir embora antigas funções e adquirir novas), 3) evoluir nossas identidades (em alguns casos nosso trabalho impacta nossa identidade, e portanto, uma mudança deste tipo pode impactar a forma que nos expressamos no mundo) e 4) gerenciar nossas emoções.

Se você é liderança e tem medo ou receio desta mudança, recomendo fazer as pazes com isso já. De acordo com Sam Altman (fundador do Chat GPT) não é possível "desligar a IA da tomada". Ainda de acordo com Altman em matéria divulgada em março de 2024, dentro de 5 anos a inteligência artificial poderá realizar 95% do trabalho atualmente realizado por profissionais de marketing, estrategistas e criativos quase instantaneamente e sem custos significativos (o que demonstra a profundidade da transformação esperada).  E de acordo com o estudo Future of Jobs do World Economic Forum divulgado em 2023, 44% das habilidades cruciais para o trabalho atualmente se tornarão obsoletas nos 5 anos seguintes à publicação. Aqui fica claro os desafios citados por Gregersen no paragrafo anterior.

Diante disso, como liderar?

Cultive a mentalidade de aprendiz para si e para seu time

Como já diz Alvin Toffler, um futurista americano conhecido por suas obras sobre a sociedade e a tecnologia, "O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender" . Se você leu o artigo até aqui já ficou claro o motivo. É o que muitos chamam de lifelong learner (aprender para o resto da vida)e que vale tanto para lideranças quanto times. Um grande desafio, neste caso, é que as lideranças que estavam mais preocupadas em microgerenciar atividades agora precisam investir mais tempo desenvolvendo seus times (curiosamente o papel inicial de uma boa gestão e uma baita mudança de competências críticas de liderança para algumas pessoas e empresas).

Se atualize (mesmo)

Comece a utilizar ferramentas de inteligência artificial caso você ainda não esteja utilizando. Busque informações em comunidades de inovação (existem muitas atualmente), faça benchmarks, se movimente na busca de informação. Tudo muda e avança muito rápido quando se trata de tecnologia, então cabe a você, e apenas a você buscar a informação mais atualizada. Se a gestão não aprofundar o entendimento desta nova e já presente realidade, dificilmente conseguirá identificar as oportunidades e , aí sim, será substituída por pessoas que saberão como usar a tecnologia a favor da produtividade. A liderança, portanto, não será substituída pela tecnologia, mas por outras pessoas que entenderem como navegar na tecnologia.

Procure pelo "meio copo cheio"

Encare estas ferramentas com olhar positivo, curioso e em busca de maximizar a produtividade e rotina de trabalho para melhor. Avalie a sinergia de ferramentas disponíveis com o trabalho do time e, com isso, libere o time – e a si – para as outras atividades. Ao invés de pensar na tecnologia como causadora de onda de desligamentos, pense e atue em como utilizar o potencial do seu time para outras coisas. Mas é claro que isso demanda um conhecimento profundo do seu seu time, o que nos leva para o próximo tópico….

Pense no potencial humano, mais do que nunca

Se até hoje você não conhece exatamente o ponto forte de cada pessoa de seu time, agora é um bom momento para começar. Avalie e entenda as novas oportunidades de valor agregado que antes não eram possíveis devido à constante necessidade do trabalho operacional.

Se aventure com pequenos pilotos

No começo, a tendência é que façamos pequenos testes. Se a empresa é grande, provavelmente um processo ou uma área começará a entender a ferramenta antes da empresa inteira dar um passo maior que as pernas. Como tudo que começa, vale aqui entender onde é possível falhar e como avaliar riscos sem perder a oportunidade de ousar.  Mas para isso realmente acontecer será preciso desapegar, especialmente quando achamos que já sabemos qual a "melhor forma" de fazer uma atividade ou processo (aliás, nestes casos, desconfie).

E agora?

Polêmicas à parte, na visão otimista e considerando ferramentas de IA que foram programadas com ética e bom senso humano (por favor),  ficaremos cada vez mais com atividades que demandam  habilidades  humanas:  relacionamentos significativos, habilidades emocionais, sociais e intuitivas, levando a um pensamento ponderado mais amplo,  difíceis de replicar por IA (pelo menos num futuro próximo).

Se por um lado isso nos dá uma grande oportunidade, por outro há um grande desafio: em muitos casos, nosso sistema de ensino e de trabalho não reforça (pelo menos não tanto quanto precisamos agora) este pensamento ponderado mais amplo.

Falando em competências, citando novamente a pesquisa Future of Jobs do World Forum Economic. de 2023, ela  aponta que 6 entre cada 10 trabalhadores vão precisar de novas especializações até 2027, mas que só metade deles terá acesso ao treinamento. Outros números interessantes estão descritos abaixo:

A maior prioridade estará justamente no pensamento crítico, mas paradoxalmente a estimativa do mesmo relatório aponta que somente 10% das iniciativas de treinamento estarão voltadas para isso no futuro.

Depois disso, estima-se que 8% das iniciativas de aprimoramento profissional estarão voltadas para o pensamento criativo, a segunda prioridade mapeada.

A capacitação para a IA vem em terceiro lugar, o que é corroborado por 42% dos chefes entrevistados que disseram priorizar o tema.

Os empregadores ouvidos também relataram que planejam desenvolver as habilidades dos funcionários em liderança e influência (40%); resiliência, flexibilidade e agilidade (32%); além de curiosidade e como ser um lifelong learner (30%).

Com isso tudo em mente

O que os líderes devem entender, portanto, é que preparar as equipes para colaborar com as IAs não é tão somente uma questão de sobrevivência, mas de prosperidade e de evolução de conceito de liderança. Em vez de resistir às mudanças inevitáveis, o convite aqui é abraçá-las, aproveitando a oportunidade para reavaliar e redefinir onde podemos aplicar todo o potencial de si e do time. Afinal, em um momento em que máquinas assumem tarefas repetitivas, o valor do pensamento crítico, da criatividade e das relações humanas é simplesmente (e poderosamente) insubstituível. Liderar nesse novo contexto, portanto, é transformar incertezas em oportunidades, é cultivar um ambiente de aprendizado contínuo e colaboração, é ter um genuíno interesse pelo potencial humano.

E assim como um surfista que usa as ondas a seu favor, líderes de sucesso serão os que souberem aproveitar os mares de inovação tecnológica para alcançar novos horizontes de sucesso não apenas para si, mas também para seu time.

Milena Brentan, psicóloga, coach executiva,  fundadora da MB People.

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