Encontrar soluções para problemas que tardam, mas que certamente chegam, também é inovar: significa se antecipar e ter mais eficácia para resolvê-los. No setor de segurança da informação, esse valor é primordial e, durante a RSA Conference 2025, realizada nos EUA no final de abril, foi possível ter contato com amostras concretas do que vem por aí, exigindo resiliência e preparo das empresas.
Tema de inúmeros debates, mesas redondas e conferências, a AI Agentic (Inteligência Artificial Agêntica, em uma tradução livre) é uma delas. Longe de ser apenas um conceito apresentado em uma conferência, é uma realidade que muitos fornecedores incorporam às suas plataformas de segurança por ser um tipo de inteligência artificial revolucionária com maior autonomia e capacidade de alcançar objetivos, se adaptar e tomar decisões.
Na prática, ela vai acelerar muitos processos de resposta em situações de falha de segurança, pois pode tomar uma decisão de barrar ou mitigar um incidente sem a necessidade de uma intervenção humana. Companhias do setor que não oferecem uma solução de segurança da informação sem essa capacidade aplicada, podem estar fadadas a encolher neste mercado. A capacidade de tomar decisões aliada a analytics e modelos de aprendizado passam a ser obrigatórias para as companhias que querem o protagonismo do setor.
O Brasil tem acompanhado esse desenvolvimento porque, além de ser um mercado grande e atrativo de tecnologia – o país está entre os 10 maiores do mundo -, tem conhecimento técnico e expertise, tanto que é a segunda nação com mais representantes na RSA Conference, considerada o maior evento de cibersegurança do mundo. No entanto, precisa desenvolver muito mais a cultura da segurança em todas as suas esferas.
Nos EUA, por exemplo, essa preocupação é parte do cotidiano, do governo às empresas, dos grandes eventos à rotina dos cidadãos, porque além de ameaças físicas reais e complexas de uma potência mundial com ingerência em toda a economia e em conflitos armados globais, também é o maior alvo mundial de ataques hackers. De acordo com um levantamento da consultoria global NetScout, os americanos sofrem quase 1,2 milhões de ataques por semestre – o Brasil é o segundo mais afetado, com cerca de 360 mil tentativas de invasão no mesmo intervalo de tempo.
Diante desse cenário de protagonismo, o Brasil também precisa estar preparado para aproveitar ao máximo os avanços dessa revolução tecnológica e, ao mesmo tempo, compreender seus desafios. A IA Agêntica, com sua alta capacidade de automação e geração de conteúdo, pode ser usada de forma indevida em ações como criação de deep fakes, disseminação de malwares e campanhas de phishing — o que exige atenção redobrada e estratégias de defesa ainda mais robustas.
Outro tema em destaque na RSA Conference, que, inclusive, está no nosso radar para ser debatido no maior evento de segurança da informação e cibersegurança da América Latina, é a computação pós-quântica. Muitas pessoas observam o tema como algo futurista, porém, ela é como uma moeda que já vem sendo muito bem-negociada no presente: tem os seus dois lados e está se valorizando a cada dia. As suas duas faces representam de um lado as grandes possibilidades de inovação para as empresas e governos e, do outro, uma ferramenta valiosa também usada por cibercriminosos.
Se as empresas não investirem no seu aperfeiçoamento, podem ter dados sensíveis simplesmente roubados para serem desvendados daqui a cinco ou seis anos. A razão para isso é que a computação pós-quântica viabiliza a quebra de privacidade de dados em segundos. Ela só não está em plena aplicação porque ainda não existem equipamentos aptos a isso e essa transição demora um tempo, mas é questão de meia década para sua chegada no nosso dia a dia.
Despontamos nesse mercado ao estudar o cenário de risco que se avizinha e como ele afeta o Brasil, as empresas financeiras e dados sensíveis do governo, porque quem dá um passo mais lento e se prepara agora é o responsável pela inovação no futuro.
Rodrigo Bocchi, CEO da Delfia.