Com a pandemia COVID-19, escolas, alunos e professores tiveram que se adequar ao ensino remoto, até então pouco adotado no Brasil, e passaram a utilizar plataformas tecnológicas estrangeiras, fenômeno conhecido como "plataformização da educação". Em tempos de uma economia global baseada em dados, quais são os problemas e os desafios que este cenário traz? Como os dados e as produções de alunos, docentes e pesquisadores são armazenados, utilizados e compartilhados? Para discutir e responder a essas e outras importantes questões, o Grupo de Trabalho sobre Plataformas na Educação Remota do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) lançou nesta quinta-feira,(29) o estudo "Educação em um cenário de plataformização e de economia de dados: problemas e conceitos".
Trata-se do primeiro documento de uma série que reunirá três volumes, que pretendem analisar as preocupações e possíveis providências relacionadas ao destino e armazenamento dos dados de usuários das plataformas utilizadas no ensino. O tema tem sido tratado por especialistas de diversos países.
Rafael Evangelista, conselheiro do CGI.br e coordenador desse grupo de trabalho, explica que, com o início da pandemia, a rápida adoção de plataformas por instituições de ensino se tornou pauta recorrente nas reuniões do CGI.br, com especial atenção às questões relacionadas ao tratamento e ao uso dos dados dos usuários. "Considerando o ecossistema educacional, os integrantes mais vulneráveis são os que estão em maior número: as crianças e adolescentes facilmente se tornam alvo de publicidade, desinformação e manipulação do comportamento, dados os modelos de negócios das plataformas de redes sociais. Isso requer muita atenção", enfatiza.
Dentre os problemas apontados pelo estudo do CGI.br, estão a falta de transparência das soluções adotadas por instituições de ensino, bem como a ausência de autonomia nacional em termos de infraestrutura tecnológica de suporte ao ensino e à pesquisa e também falhas relacionadas ao uso comercial dos dados de alunos brasileiros, assim como a vigilância de suas atividades educacionais.
A publicação aborda ainda ações estratégicas que podem ajudar a aprimorar a utilização da Internet no Brasil, com o incentivo ao desenvolvimento tecnológico nacional. "Essas questões precisam ser consideradas no escopo de uma política de governança de educação digital, para assegurar um ensino público gratuito e de qualidade alinhado aos parâmetros da ética e dos direitos humanos", reforça o conselheiro do CGI.br.