A proteção da privacidade de usuários na internet se tornou um dos temas mais urgentes para o mercado de consumo, especialmente em um país que ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de roubo de informações pessoais online. O Brasil, lugar de grande potencial em inovação e tecnologia, também é cenário de riscos significativos à privacidade não só dos consumidores, mas à integridade das empresas e de seus colaboradores, que são desafiados a encontrar, rapidamente, programas de compliance íntegros aos seus valores.
Em 2018, o Brasil estabeleceu um marco importante com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que visa proteger os direitos de privacidade dos indivíduos, definindo regras claras sobre a coleta, o tratamento e o armazenamento de dados pessoais. No entanto, mesmo com essa legislação em vigor, uma pesquisa recente realizada pela HRTech Convenia revela uma preocupante realidade: 40% das empresas brasileiras ainda não têm planos de contenção para solucionar o vazamento de dados na internet.
A estatística é alarmante, uma vez que o vazamento não afeta apenas o cliente ou colaborador envolvido, mas também a própria empresa. A LGPD estabelece multas rigorosas para infrações, que chegam a 2% do faturamento das empresas, limitadas a R$ 50 milhões por infração. O problema é que muitas empresas, principalmente aquelas que estão dando seus primeiros passos, têm dificuldades em compreender os processos de compliance ou até investem muito tempo e dinheiro com a implementação de programas.
Diante desse cenário, para que as corporações protejam a privacidade de dados e garantam conformidade com regulamentações como a LGPD, plataformas de inteligência artificial integradas aos processos de compliance surgem como solução. Muitas empresas já automatizam processos internos de compliance com a IA, que permite que as equipes de Recursos Humanos, por exemplo, utilizem a governança de documentos de forma mais eficiente em relação a versionamento, cobrança de leitura e coleta de aceites.
Além disso, a IA também pode ser implementada em canais de denúncias e de privacidade, um espaço de liberdade para que funcionários e consumidores relatem violações de privacidade ou práticas ilegais de forma segura e confidencial, já que cerca de 40% das denúncias no ambiente de trabalho dificultam a investigação por apresentar informações incompletas. A automação desse processo garante que as denúncias sejam anônimas, sofram menos influências de interferências humanas e assegurem os denunciantes em um espaço confidencial, além de facilitar, para as empresas, a recolha de todas as informações necessárias para uma investigação precisa e detalhada.
Por fim, um programa de compliance adaptado à inteligência artificial pode servir até para a criação de treinamentos de compliance personalizados, o que não apenas mantém os colaboradores informados sobre as regulamentações da empresa, como também ajuda a otimizar o tempo de trabalho do setor de Recursos Humanos e Gestão de Pessoas.
Em um ambiente onde a proteção de dados é essencial, medidas para garantir a conformidade e a privacidade dos usuários precisam ser adotadas, e a integração da inteligência artificial aos programas de compliance é uma estratégia valiosa para enfrentar os desafios da era digital e garantir, de forma fácil para pequenas e médias empresas, que a privacidade de dados seja respeitada não apenas como um requisito legal, mas como um princípio fundamental de ética empresarial.
Marcelo Erthal, especialista em tecnologia e inovação na governança corporativa e CEO da clickCompliance.