O baixo investimento em conteúdo local faz com que a Netflix não tenha, na América Latina, a mesma força das plataformas de VOD da América Móvil, como o Now e o serviço Claro Vídeo. A constatação veio um debate sobre o panorama do mercado audiovisual no Telas Fórum nesta terça, 29, em São Paulo.
"Somos um mercado emergente com uma das piores bandas largas do mundo. Ter rede própria é importante. Forma de pagamento e adaptação ao mercado local também são importantes", disse a diretora executiva da distribuidora independente Elo Copany, Sabrina Nudeliman Wagon.
Segundo a produtora Mayra Lucas, sócia-diretora da Glaz, o serviço mais difundido globalmente ainda investe pouco em conteúdo brasileiro, "e o brasileiro gosta de se ver na tela". Para ela, o cinema e a animação enfrentam receio em relação ao VOD. "A esperança é que tenha o mesmo impacto que o DVD teve. Por outro lado, há o receio de que (a modalidade de serviço) acabe com a janela de cinema e acabe se consolidando em duas ou três empresas. Na distribuição de nicho, isso já acontece. Sobra menos dinheiro para produzir o filme de nicho", disse.
Segundo a diretora e produtora executiva da Medialand Carla Albuquerque, no entanto, a presença das plataformas de VOD é um bom sinal para o setor. "Um canal precisa de muitas horas de programação, mas o VOD precisa de muito mais. A produção tem um tempo de realização, portanto, precisamos criar muito produto", disse.
Panorama
Segundo Sabrina, da Elo, que fez um breve balanço do momento do audiovisual no Brasil, o setor vive uma excelente fase, crescendo, na contramão da crise macroeconômica e apesar da forte dependência de financiamento público. Ela lembrou que os cortes federais não chegaram ao setor, que ainda foi agraciado com a renovação do prazo de vigência dos mecanismos de incentivo da Lei do Audiovisual.
No cinema, no entanto, o setor sofreu em bilheteria em 2016, segundo Mayra Lucas. "O público prioritário do filme brasileiro é de classe C e B2. Isso refletiu, sim, na audiência de cinema", disse.
Em TV, o diretor de conteúdo e produção da Fox, Zico Góes, diz que o conteúdo nacional vai bem, apesar de ser "a indústria do risco". "Há formas de mitigar o risco. A Netflix por exemplo, usa o big data para mitigar, mas nem sempre acerta", disse. "Nós procuramos nos basear no 'cheiro' do que parece ser relevante, confiamos muito na intuição. A série 'Um Contra Todos' não contou com pesquisa, big data nem nada, só a intuição de que o realizador era um bom contador de história. Foi a maior audiência do canal Fox, atrás apenas de 'Walking Dead'", disse. Já a série "Me chama de Bruna", baseada na vida de Bruna Surfistinha, é a maior audiência do canal premium da Fox, o Fox+, na América Latina. "Não acredito em fórmulas e nem nas pesquisas, mas em bons roteiros e bons atores", disse.
Para Carla Albuquerque, contar bem uma história é uma tarefa complicada. "O investimento não define a qualidade da produção. Principalmente com os orçamentos brasileiros. Temos que saber fazer o investimento parecer na tela dez vezes maior. Temos que pensar o tempo todo como fazer cenas de forma acessível", conclui.